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Com câncer, Bruno Covas, prefeito licenciado de São Paulo, morre aos 41 anos

Desde 2019, ele travava uma batalha contra um câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado

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Katarina Moraes, Estadão Conteúdo

Publicado em 16/05/2021 às 9:57 | Atualizado em 16/05/2021 às 10:15
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Prefeito licenciado de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) morreu neste domingo (16) na cidade. Desde outubro de 2019, ele travava uma batalha contra um câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado. De lá para cá, já fora submetido a oito ciclos de quimioterapia, com cerca de 30 horas recebendo a medicação por sessão.

O velório de Bruno Covas será realizado na Prefeitura de São Paulo, em cerimônia restrita a 20 convidados. Ao fim, o caixão será transportado em um caminhão do Corpo de Bombeiros, passando pela Avenida Paulista, com destino a Santos, onde o prefeito será sepultado.

Em maio, Covas decidiu se licenciar do cargo de prefeito de São Paulo por 30 dias para se dedicar ao tratamento. O pedido de afastamento foi sugerido pela própria equipe médica que o acompanhava. Desde então, estava internado no hospital Sírio-Libânes.

Afirmou pelas redes sociais que a "vida havia lhe apresentado enormes desafios" e que, diante dos novos focos da doença, "seu corpo estava exigindo mais dedicação ao tratamento, que entrava numa fase muito rigorosa". Covas autorizou ser sedado e intubado para se submeter ao exame de endoscopia que apontou o sangramento entre o esôfago e o estômago.

Na tarde dessa sexta-feira (14), o boletim médico apontou uma piora no quadro, e informou que o quadro de Bruno era "irreversível". "O quadro clínico é considerado irreversível pela equipe médica. Neste momento, encontra-se no quarto acompanhado de seus familiares. Ele está sendo acompanhado pelas equipes médicas coordenadas pelo Prof. Dr. David Uip, Dr. Artur Katz, Dr. Tulio Eduardo Flesch Pfiffer, Prof. Dr. Raul Cutait e pelo Prof. Dr. Roberto Kalil Filho."

Vida política e pessoal

A vida pública foi a escolha natural e até mesmo esperada para Bruno Covas Lopes, que, ainda adolescente, passou a "beber da fonte" ao decidir morar com o avô em São Paulo. O ex-governador Mário Covas não só ensinou o neto a gostar de política como o colocou numa trajetória eleitoral vitoriosa encerrada de forma precoce.

O câncer também matou o avô, em 2001. Na época, Bruno tinha 20 anos e já se preparava para assumir a herança política da família. Cinco anos antes, havia trocado sua casa em Santos, no litoral paulista, pelo Palácio dos Bandeirantes para concluir os estudos na capital.

Inteligente e determinado, foi aprovado em duas faculdades ao mesmo tempo: Direito, na USP, e Economia, na PUC. Formou-se nas duas em um período de oito anos, época em que passou a experimentar seu potencial político em grêmios estudantis e dentro de seu partido.

Bruno se filiou ao PSDB aos 17 anos. Nessa época, era um jovem cabeludo apaixonado por rock que já se destacava pela capacidade de mobilização. A "turma" que fez na base jovem do partido sempre o acompanhou. Os mais próximos - Fábio Lepique e Alexandre Modonesi - ocupam cargos-chave na Prefeitura.

Antes de comandar a maior cidade da América Latina, Bruno foi eleito deputado estadual por duas vezes, deputado federal e vice-prefeito. Assumiu o posto de prefeito com a renúncia de João Doria (PSDB), em 2018, e depois se reelegeu como cabeça de chapa. Nisso, aliás, o neto superou o avô.

Mário Covas não chegou ao cargo por escolha popular. Ele foi o último prefeito biônico antes da democratização, em 1983. Bruno seguia uma história parecida - era o vice na chapa vencedora de 2016 -, até ganhar a eleição em segundo turno, ano passado, com 3,1 milhões de votos.

Desde criança, quando fez a carteira do Clube dos Tucaninhos, o objetivo de Covas sempre foi entrar na política, seguir os passos do avô e chegar ao Palácio do Planalto. "Quem começa como estagiário quer chegar a CEO. É o natural de qualquer carreira", disse ao Estadão, durante a eleição de 2020. Foi com esse foco que escolheu se formar advogado e economista.

Sua primeira atuação política mais direta se deu em junho de 2002, um ano após a morte do avô, quando agiu para barrar uma aliança da sigla com Orestes Quércia, do então PMDB, que também buscava se aproximar do PT nas eleições estaduais. Quércia teve de conversar com o jovem político.

Foco

Mas, se os ensinamentos do avô o seguiram por toda a vida, o mesmo não se pode dizer do temperamento. Mais contido, Bruno nunca foi um orador explosivo ou um político midiático. Pelo contrário. Tímido e disciplinado, o prefeito sempre calculou bem as palavras e seguiu o script determinado dentro ou fora de uma campanha eleitoral.

Sem colecionar inimigos e com respaldo popular, Bruno estava no auge de sua carreira política. A eleição havia lhe dado confiança para começar a impor seu modo de governar e traçar o futuro. Diferentemente de Doria, considerava-se "PSDB raiz".

Mas os planos como prefeito eleito só duraram dois meses. Em fevereiro, os médicos de Covas descobriram novos tumores e a quimioterapia recomeçou. Dois meses depois, outros exames indicaram metástase nos ossos. Debilitado, precisou tratar complicações como água no pulmão e sangramento na cárdia.

Toda a evolução da doença foi exposta aos eleitores de forma transparente. Covas não só liberou sua equipe a informar diariamente a imprensa de sua situação clínica como pediu aos médicos que atendessem jornalistas e tirassem suas dúvidas sobre os avanços do câncer. A prática se tornou mais comum a partir de abril, quando cinco tumores foram identificados no fígado, um nos ossos da coluna e outro nos ossos da bacia.

Até esse momento, aliados de Covas mantinham-se esperançosos com a possibilidade de cura. As metástases e o sangramento na cárdia, no entanto, abalaram a confiança até mesmo dos médicos, e a palavra sobrevida passou a compor o repertório de quem acompanhava o prefeito mais de perto.

Muito apegado ao único filho, Tomás Covas Lopes, com quem dividia um apartamento de 70 metros quadrados na Barra Funda, zona oeste da cidade, Covas deixa, como o avô, novo herdeiro na política. Além de santista roxo, como o pai, o adolescente também revela interesse e talento para a vida pública. No dia em que Bruno foi reeleito prefeito, fez discurso à militância e disse ao Estadão: "Pretendo entrar na Juventude do PSDB quando fizer 17 ou 18 anos. Eu tenho vontade de fazer política."

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