Redes sociais

Denúncia de Felipe Neto pode estar na origem da "limpa" de seguidores de perfis bolsonaristas na rede social?

Em um fio no Twitter, Felipe Neto afirma que o seu pleito para a derrubada de uma postagem do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos não foi atendido por três funcionários do alto escalão da redes sociais que ele contactou

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Estadão Conteúdo

Publicado em 15/06/2021 às 12:54 | Atualizado em 15/06/2021 às 13:36
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O youtuber Felipe Neto relatou na segunda-feira (14) em sua página do Twitter que denunciou junto a três funcionários do alto escalão da rede social uma postagem feita pelo blogueiro bolsonarista Allan dos Santos com desinformação.

Em um fio sobre o caso, ele afirma que o seu pleito para a derrubada da postagem não foi atendido por nenhuma das pessoas. "Foram 3 funcionários de alto escalão q eu contactei do Twitter. Duas se mostraram contra a publicação e tentaram fazer a equipe do Twitter Brasil remover o post. Já o chefe de Relações Públicas, o maior responsável no país, me ignorou solenemente, nem sequer respondeu", informou. 

Nesta postagem, o Allan dos Santos faz uma afirmação falsa ao estabelecer uma relação entra a vacina da Pfizer e a parada cardíaca sofrida pelo jogador dinamarquês Christian Eriksen durante um jogo da Dinamarca contra a Finlândia na Euro 2020 no último sábado (12). 

O diretor da Inter de Milão, clube de Eriksen, Giuseppe Marotta, negou que o jogador já tenha sido diagnosticado com a a covid-19 e já tenha tomado alguma vacina contra a doença, ao contrário do que é insinuado por Allan Santos no seu post. A afirmação de Marotta foi dada em entrevista à emissora Rai Sport. 

Segundo Felipe Neto, o post foi denunciado em peso, mas o Twitter não o apagou. "O post claramente fere as regras do Twitter, principalmente as criadas para impedir mentiras sobre a pandemia e sobre vacinação. Sem contar q (sic) veio de um perfil criminoso q (sic) insiste em postar mentiras diariamente", afirmou o youtuber. 

No dia 8 de junho, o Twitter havia ressaltado que um grande número de denúncias não implica necessariamente na derrubada de uma conta na rede social. "Mesmo se um Tweet receber uma ou centenas de denúncias, ele vai ser analisado e apenas com base nas políticas da plataforma", disse o Twitter. 

Felipe Neto acusou ainda o Twitter de ser conivente com "mentiras bolsonaristas". Segundo afirma Felipe Neto, essa e outras plataformas estão receosas a respeito de um decreto anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para limitar a exclusão de conteúdo das redes sociais pelas empresas. "Porém, enquanto Facebook, Youtube e outras redes parecem permanecer lutando contra as mentiras bolsonaristas (embora ainda falhem muito), o Twitter Brasil decidiu arregar".

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o texto do decreto, que ainda não foi publicado, altera pontos da regulamentação do Marco Civil da Internet (Lei Federal 12.965/2014), e também determina que uma pasta subordinada à Secretaria de Cultura vai ficar responsável por fiscalizar as empresas. 

Perda de seguidores

A declaração de Felipe Neto vem no mesmo dia em que o Twitter desabilitou milhares de perfis que considera suspeitos de impulsionar conteúdo artificialmente na rede social. A ação gerou reclamações de bolsonaristas, que dizem ter perdido parte significativa de seus seguidores.

Na prática, a rede social desativou temporariamente os perfis suspeitos até que o usuário confirme detalhes como senha ou número de celular. "Até que cumpram essa etapa de confirmação, as contas ficam temporariamente desabilitadas, com funcionalidades limitadas, e deixam de entrar no cálculo para contagem de seguidores", diz o Twitter, em nota. Não é a primeira vez que a empresa realiza esse tipo de operação.

O Twitter explicou que eventuais mudanças no número de seguidores dos perfis são ocasionadas por uma ação contínua de segurança da empresa para evitar spam. 

"Você pode ter percebido uma mudança recente em seu número de seguidores. Com frequência, solicitamos que contas tomem medidas como trocar a senha ou validar seu número de celular. Isso ocorre em todo o mundo e é parte do nosso trabalho para prevenir tentativas de spam e manter as contas seguras, baseado totalmente nas atividades desses perfis, e não nos conteúdos que postam", diz o post na página Twitter Seguro, que faz publicações sobre medidas de segurança adotadas pela rede social. 

Entre os perfis que afirmam ter sido atingidos estão o ex-ministro Abraham Weintraub, o ex-assessor especial Filipe Martins e o ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, os deputados federais Osmar Terra e Bia Kicis (PSL-DF) Eles reclamaram da ação em suas contas oficiais.

Weintraub, por exemplo, afirma que perdeu cerca de 10 mil seguidores e, três horas depois, que 2,5 mil já haviam voltado à contagem. O seu irmão, o ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub, também se queixou. 

Martins, que recentemente foi afastado no cargo de assessor especial para Assuntos Internacionais e denunciado por um gesto de conotação racista, disse que 15 mil de seus seguidores desapareceram da contagem. Onyx reportou ter perdido 12 mil.

"Conservadores mais uma vez perdendo milhares de seguidores no Twitter sem nenhuma explicação plausível", registrou o ex-assessor, que pediu para sua comunidade fazer "listas com aqueles que tiveram esse problema e divulguem para que mais pessoas possam segui-los".

Bia Kicis disse que o Twitter retirou 12 mil seguidores do seu perfil. "Não lembro se ontem à noite ou hoje de manhã eu havia alcançado 888.000 seguidores no Twitter", disse. Osmar Terra pediu para que os seus seguidores apertassem em seguir novamente. "Peço aqueles que me seguem que reafirmem sua decisão clicando no botão 'seguir'. E dando RT", disse. 

A reclamação levou a hashtag #TwitterCensura aos assuntos mais comentados na plataforma na tarde da segunda (14) e não ficou restrita ao círculo próximo ao governo. Perfis como o Movimento Brasil Conservador e de pessoas comuns, normalmente associadas à pauta conservadora, também registraram reclamações semelhantes em suas contas na rede social.

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