O que esperar da filiação de Sergio Moro ao Podemos? Ele será o candidato da terceira via à Presidência da República?
Entrada do ex-ministro no partido está marcada para o próximo dia 10, em Brasília
O anúncio da filiação do ex-ministro Sergio Moro ao Podemos, marcada para ocorrer no próximo dia 10, em Brasília, dá todos os indicativos de que o ex-titular da pasta de Justiça e Segurança Pública pretende ir às urnas em 2022, provavelmente para disputar a Presidência da República. Enquanto partidos de centro batem cabeça para encontrar um ou mais nomes capazes de romper a polarização existente entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT), o movimento de Moro lança mais uma possibilidade entre as apostas para o pleito, possibilidade esta que precisará de engajamento pessoal e partidário para ganhar fôlego e tornar-se real na pré-campanha que se avizinha.
Sergio Moro ganhou projeção nacional no auge da Operação Lava Jato e tornou-se uma espécie de herói da anticorrupção brasileira. Depois disso ele deixou a magistratura, aceitou o posto de ministro de Bolsonaro, rompeu com o presidente, foi um dos protagonistas do escândalo da Vaza Jato e teve uma série de sentenças anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Com apenas 2% das intenções de voto na pesquisa Ipespe divulgada nesta quarta-feira (3), o ex-juiz entra no Podemos e marca a sua estreia na política partidária, mas deixa uma interrogação acerca da postura que vai adotar na nova fase. “A grande questão é entender como o Moro vai se posicionar, porque se ele adotar a postura do juiz punitivo, alguém que nega a política, anti-establishment, então ele não vai ser uma terceira via, ele será a continuação da via bolsonarista. Ele é anti-PT e anti-Bolsonaro, mas isso não faz com que automaticamente ele seja uma opção viável para a terceira via. Para isso, ele precisa se afastar dos extremismos e da anti-política que foi muito forte no pleito que elegeu Bolsonaro”, observou o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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Para Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio, os gestos de Moro não explicitam o caminho exato que o ex-ministro vai adotar em 2022, mas se ele quiser tentar ser presidente representando a terceira via, terá um longo caminho a percorrer até concretizar esse desejo. “Não está claro se o Moro vai entrar no Podemos para se lançar candidato a presidente, a vice ou ao Senado. Se pretende concorrer à Presidência ele vai precisar se articular, buscar construir essa alternativa. Só que essa área da terceira via está congestionada, tem muita gente hoje: tem o PSDB, o (Luiz Henrique) Mandetta (DEM), o Rodrigo Pacheco (PSD), o Ciro Gomes (PDT), muita gente colocando o seu nome na mesa. Eu acho que ele também colocou o nome dele lá, mas ninguém é candidato de si próprio e o Podemos deve conversar com outros partidos para costurar alianças”, detalhou.
Além da pouca - ou quase nula - experiência política que possui, o próprio partido escolhido por Moro como casa pode se tornar uma pedra no sapato durante uma possível campanha presidencial, pois há supostos casos de corrupção ligados ao Podemos em investigação atualmente.
“Como o Moro, o maior representante da Lava Jato, faria a modulação de um discurso que ao mesmo tempo diz que é contrário à corrupção e está em um partido que tem vários políticos suspeitos e investigados? Isso é um elemento de desgaste, porque mostra que o discurso é um e a prática é outra. Vale ressaltar, ainda, que estará muito nítido na lembrança do brasileiro a fala anticorrupção do Bolsonaro e tudo o que aconteceu no governo com relação à vacina, às rachadinhas, à manipulação da Polícia Federal, entre outras coisas. Aí o eleitor vai se perguntar: será que mais uma vez eu aposto em alguém com esse discurso?”, detalhou Prando.
Ricardo Ismael, por outro lado, lembrou que o eleitor brasileiro costuma ser personalista ao votar. Sob o ponto de vista do cientista político, os problemas do Podemos devem até ser mencionados na campanha, mas não terão força suficiente para impactar significativamente no desempenho do ex-juiz, caso ele se candidate. “Se nós começarmos a fazer investigações, vamos encontrar problemas em todos os partidos. No que devemos nos concentrar é que o eleitor não vota no partido, vota no candidato. Há uma personalização muito grande na eleição, ainda mais na eleição presidencial. Claro que alguém vai levantar esse tema na campanha, mas acho que isso não pesa na decisão do voto”, disse.
Tensão
Segundo informações publicadas pelo UOL no fim da tarde de hoje, Moro foi hostilizado pela manhã ao desembarcar no aeroporto de Brasília, sendo chamado de "lixo" e "vendido" por pessoas que estavam no terminal participando de uma manifestação contra a Proposta de Emenda à Constituição 32/2020. A PEC muda regras sobre servidores públicos e altera a organização da Administração Pública.