*Matéria atualizada às 13h48 do dia 18 de fevereiro de 2022, pois um dos partidos mencionados pelo ex-senador Armando Monteiro (PSDB) em sua entrevista foi registrado erroneamente pela reportagem. Em 1958, Cid Sampaio venceu a eleição contra o PSD, não contra o PSB, como estava no texto anteriormente. Pelo erro, pedimos desculpas.
Ter o apoio de prefeitos e prefeitas na corrida majoritária pelo Governo do Estado pode não ser decisivo para a vitória de um candidato nas urnas, mas é um fato de grande relevância na disputa. Prova disso é que antes mesmo da formalização das chapas, nomes colocados como pré-candidatos já iniciaram a busca por estas alianças. Uma dessas pessoas é o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União Brasil), que tem feito questão de anunciar o apoio de dezenas de prefeitos de oposição, além de gestores municipais cujos partidos fazem parte da Frente Popular de Pernambuco - bloco partidário que dará sustentação à candidatura do deputado federal Danilo Cabral (PSB).
Com base no número de prefeitos e prefeitas eleitos em 2020, por partidos da base do governo (PSB, PT, PDT, PP, PCdoB, PSD, Republicanos, Avante, Solidariedade, MDB), a expectativa dos socialistas é contar com cerca de 120 gestores em seu palanque no pleito estadual. “Em Pernambuco nós temos uma configuração interessante para a região Nordeste, porque 50% da população pernambucana está localizada em 14 municípios, e os outros 50% estão dispersos em mais de 100 cidades. Neste caso, o número de prefeitos acaba tendo uma relevância maior”, explica o cientista político e professor da Asces-Unita, Vanuccio Pimentel.
Para o segundo vice-presidente estadual do PSB, o deputado federal Tadeu Alencar, o que vai pesar mesmo nas eleições é o candidato do governo conseguir transmitir para os pernambucanos que o projeto socialista ainda tem o que oferecer ao Estado. “Nós temos um legado importante, que será um dos vagões do debate que teremos em 2022, e o outro é a nossa capacidade de gerar expectativa para o futuro”, pontuou Alencar.
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Questionado se a formalização da federação partidária, onde as agremiações terão que estar juntas por no mínimo quatro anos, segundo as regras eleitorais, impactando principalmente nas eleições municipais de 2024, poderiam ser um complicador nos apoios aos candidatos a governador, Tadeu acredita que não.
“A federação tem importância na organização da base parlamentar do futuro governo do campo progressista, a julgar pelo desempenho da performance do ex-presidente Lula. A oposição hoje tem um número limitado, e a federação pode oferecer a oportunidade de dar coesão a uma base política mais ampla. Acho que essa interferência é muito mais no quadro nacional do que no quadro local. Não é a federação que vai interferir na disputa local, não temos dificuldade em formar chapa”, explicou o parlamentar.
Tadeu também minimizou o fato de que alguns prefeitos eleitos pelo próprio PSB e outros, que são de partidos aliados, estejam migrando seus votos para a oposição. “Essa movimentação se dá de maneira repetida nos diversos pleitos. Agora, ninguém considera que por ter mais de 130 prefeitos na sua base, a eleição esteja resolvida, ou a migração de dois ou três prefeitos traga uma vantagem preferencial para a oposição. Ainda vamos ter um longo processo, acordos serão feitos, entendimentos vão sendo formados”, declarou.
Em 2020, DEM e PSL - que recentemente se fundiram, criando o União Brasil - elegeram, ao todo, 14 prefeitos em Pernambuco. Miguel Coelho, porém, já contabiliza a adesão de quase 40 gestores municipais ao seu projeto, alguns deles ligados a partidos da Frente Popular ou ao próprio PSB.
Em reserva, um desses dissidentes diz que, apesar de considerar importante o apoio de lideranças locais em uma disputa estadual, é fundamental que esse grupo de prefeitos esteja na mesma “temperatura” da campanha, que não seja apenas um número vazio. “Eu digo isso porque conheço prefeitos que estão na base do governo e votam no candidato que eles indicam para não ter nenhum tipo de problema, pra não sofrer nenhum tipo de perseguição. Então o cara prefere ficar na dele e deixar a coisa acontecer, acompanhar o baile”, afirmou.
Para Lucielle Laurentino (UB), prefeita de Bezerros, o movimento de pré-candidatos de oposição em busca de apoio é completamente natural em uma disputa eleitoral. Na visão da gestora, as ações seriam uma espécie de tentativa dos candidatos que não estão no poder de equilibrar a balança de poder, que no geral tende a beneficiar a situação.
“Quando analisamos uma conjuntura de disputa de uma possível sucessão do PSB, que está no seu quarto mandato consecutivo, caminhando com o Estado, com a máquina na mão, com estruturas políticas estabelecidas, é natural que os candidatos de oposição se coloquem em uma balança de peso político. E peso político se mede com apoio político, numa lógica mais tradicional. Quantos prefeitos se tem? Quantos deputados estão apoiando? Qual a chapa que esse candidato compõe? Quem está na base? Quem pulou da base? A corrida eleitoral começa a partir de um posicionamento, e quem sai na frente, obviamente, é quem está na situação”, observou Lucielle.
Partido presidido pela prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, que também é pré-candidata a governadora, o PSDB elegeu em 2020 oito prefeitos a menos, na comparação com 2016, passando de 13 prefeituras para cinco. Caso a aliança que a sigla firmou com Cidadania, PL e PSC se mantenha, a coligação terá alguns outros aliados regionais, pois, nas últimas eleições, o Cidadania fez dois prefeitos, o PSC fez um, e o PL do prefeito Anderson Ferreira, que também pode disputar o governo, conquistou dez prefeituras. Ainda assim, o grupo ficará bem atrás do exército de prefeitos que estará ao lado do PSB na campanha.
O quadro, no entanto, não assusta o ex-senador Armando Monteiro (PSDB). Segundo o tucano, na prática, toda a matemática feita em torno dessas alianças locais têm mais valor no mundo político do que no ambiente eleitoral. “Claro que é importante você contar com lideranças no projeto, isso dá uma sinalização de força para o ambiente político, para o candidato proporcional que se vincula a esse projeto, para as lideranças locais. Mas isso não é algo que defina eleição, porque eleição majoritária é uma corrente de opinião que vai se formando, se movimentando, ganhando força. E, hoje, os votos não são mais ligados às lideranças, como era no passado, o voto é mais independente, mais livre”, argumentou.
O ex-senador lembrou, ainda, que ao longo da história do Estado, não foram poucas as vezes que candidatos com bem menos apoio político conseguiram virar o jogo nas urnas e chegar ao Palácio do Campo das Princesas. “Isso aconteceu com Cid Sampaio, quando ele derrotou o PSD em Pernambuco; com Jarbas, contra a estrutura de (Miguel) Arraes; e na eleição de Eduardo Campos contra Mendonça Filho, que estava no governo e tinha um número maior de apoios de prefeitos. Há vários exemplos que mostram que essas estruturas são importantes, mas não definem eleição”, completou Armando. Apesar disso, Raquel tem circulado todo o Estado desde 2021 para estreitar relações com lideranças de municípios do litoral ao Sertão visando as eleições.
Sob o ponto de vista de Vanuccio Pimentel, a esta altura do campeonato, faltando tantos meses da eleição, haveria certo risco para os prefeitos já declararem apoio a pré-candidatos a governador. “No caso de Miguel, por exemplo, embora ele tenha declarado que vai ser candidato de qualquer maneira, para concorrer ele precisa de um partido, que poderá estar numa federação ou não. Há muitas questões ainda que colocam a oposição em situação incerta, pois não sabemos como ficariam as candidaturas de Miguel e Raquel se houver federação entre União Brasil, MDB e PSDB. Então ainda é precipitado neste momento, um prefeito que apoia especificamente um candidato de oposição, a não ser que eles tenham uma relação construída antes”, frisou o cientista político.
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