Bolsonaro no Jornal Nacional: Lavareda indica pontos negativos e positivos da entrevista
O cientista político Antônio Lavareda considera como a entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional pode, ou não, influenciar a corrida eleitoral para a Presidência da República
Presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Politicas e Econômicas, Antonio Lavareda considera que a entrevista concedida por Jair Bolsonaro (PL) ao Jornal Nacional não representará, isoladamente, uma mudança na intenção de voto. De acordo com o cientista político, porém, a participação do presidente no programa televisivo enfraquece o discurso da oposição, no sentido de colocá-lo como líder de um movimento antidemocrático.
Na avaliação de Lavareda, Jair Bolsonaro ganhou ao ter comparecido ao debate, mostrado mais equilíbrio que o esperado. "A fama antecede a presença do personagem, se esperava um presidente mais agressivo, eventualmente tumultuando, mas não ocorreu. Ele saiu bem também do ponto de vista de conteúdo ao falar sobre realizações econômicas e benefícios sociais do seu governo", pontua.
O cientista político considera, porém, que o presidente se saiu mal, ainda do do ponto de vista de conteúdo, quando foram abordados os temas mais sensíveis à sua gestão. O cientista político elenca os questionamentos acerca da democracia, das urnas eletrônicas, pandemia educação e destruição da Amazônia.
"O saldo, do ponto de vista da participação efetiva, é que não ganhou nem perdeu votos. Mas no significado da entrevista, Bolsonaro acertou ao comparecer e isso diminui um pouco o discurso da oposição, que o coloca no campo antidemocrático", comentou Antonio Lavareda.
Lavareda não considera que apenas uma entrevista possa produzir grandes efeitos, ou visíveis efeitos, na intenção de voto das pesquisas eleitorais. Considera que o eleitor de Lula, mesmo gostando de uma resposta do presidente, não mudará a intenção de voto. O eleitor de Bolsonaro, por sua vez, não deve mudar diante de um tropeço do presidente na conversa.
"A Rede Globo tem sido fonte de más notícias do Governo e tem ojeriza do presidente e aliados, o que elevou à expectativa da entrevista. Mas ela não é isolada, mas uma peça que vai precisar se concatenar com outras, que pode mudar o quadro ou ajudar na manutenção dele. A intenção de voto, os gráficos mostras, estão engessados", analisa.
Entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional eleva o nível contra Lula, avalia Lavareda
Para o cientista político, o tom dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos a Bolsonaro indica, também, a artilharia posta para receber Lula (PT). O ex-presidente lidera as pesquisas eleitorais, sendo o principal adversário do atual mandatário.
"Aumentou o sarrafo sobre o desempenho do ex-presidente Lula, mas ele deve imaginar o que pode lhe ser perguntado. Podemos imaginar, sobretudo, problemas enfrentados pelo PT na Lava Jato, a falta de autocritica sobre corrupção e como ele vai mudar essa prática, para que esses fatos não se repitam no próximo governo", pontua Lavareda.
Futuro da corrida eleitoral
O diretor do Ipespe também comentou a expectativa ascensional de Bolsonaro, associando o crescimento à adesão dos eleitores de Sergio Moro (UB) e João Doria (PSDB), que deixaram a disputa pela Presidência da República.
"Mas Lula não declinou, a 'terceira via' está reduzida, Ciro Gomes (PDT) mantém seu desempenho e deve mantê-lo até às vésperas da eleição. Não há estoque de votos, não há exercito eleitoral de reserva para produzir movimentos ascensionais novos do presidente", disse Lavareda.
Nesse sentido, o cientista político indica ser necessário esperar as propagandas no Rádio e TV para verificar uma possível mudança. Lavareda avalia que a estratégia de Bolsonaro deve ser restaurar o clima de 2018, focando em denúncias de corrupção, descobertas e processos da Lava Jato contra o PT.
"Duas coisas podem contrastar o movimento: verificar se a campanha do presidente não incorre em alguma penalidade, resultando em retirada das peças, e como o eleitor vai processar as informações do presidente quando a moldura da mídia é diferente da de 2018, sem a Lava Jato no noticiário. Há também a contra narrativa do PT, que deve resgatar o ocorrido durante a pandemia", finaliza.