O casal Thiago e Jennifer comprou 'um terreno' por R$ 1 mil na comunidade do Arco-Íris, na Campina do Barreto, no Recife. Desempregados, foram tirando do Auxílio Brasil pequenas prestações mensais de R$ 50, R$ 20 e R$ 100 para pagar a dívida. Conseguiram concluir o pagamento agora em agosto.
"Sem emprego fica impossível pagar aluguel. Por isso, tentamos construir o que deu aqui para não ter mais que alugar", diz, aliviada, Jennifer Rodrigues, de 24 anos. A casa foi erguida pelo próprio marido.
Como a maioria das habitações no Arco-Íris, é um barraco de madeira com cortinas por dentro para disfarçar as frestas na estrutura. Com apenas um vão, os poucos móveis é que ajudam a definir os ambientes.
"O guarda-roupa e a cama das crianças foi herança da minha avó que faleceu e ficou pra mim", conta Jennifer. Sem saneamento básico e coleta de esgoto no Arco-Íris, Thiago Fernando improvisou a instalação de uma privada em um cantinho dentro de casa.
O vaso foi fixado com cimento e Thiago colocou um cano para passar os dejetos, que caem numa espécie de quintal dentro da própria comunidade. O espaço não tem divisória nem cortina e as necessidades são feitas ali mesmo, coletivamente.
Sem emprego e com a mulher prestes a dar a luz ao terceiro filho do casal, Thiago tenta garantir renda com a reciclagem. "Hoje vivemos do Auxílio Brasil e dos R$ 60 a R$ 70 que consigo tirar por semana com a reciclagem, mas esse dinheiro não dá pra nada porque o preço das coisas subiu muito e comprar comida está cada vez mais caro", reclama.
Para complementar a renda, Thiago cria uns hamsters e vende os filhotes. A primeira ninhada deu quatro animais e a segunda deu nove. "Eu vendo cada filhote por R$ 10. Pode parecer pouco, mas quando junta tudo dá pra comprar alguma coisa pra casa", afirma.
Jennifer lembra que durante a pandemia a situação piorou. Sem comida em casa para alimentar as crianças, ela e o marido iam a pé para o bairro de Casa Amarela bater, de porta em porta, pedindo comida aos moradores. "A gente sempre voltava com alguma coisa. As pessoas doavam alimentos, dinheiro e até roupas", lembra.
O desejo do casal é que as coisas no Brasil melhorem e as oportunidades de emprego voltem a aparecer. "Eu estava terminando o ensino médio quando engravidei. Gostaria que tivesse creche para os meus filhos e emprego para eu ir trabalhar. Assim, a gente poderia ter uma vida melhor e arrumar o barraco", diz Jennifer.
DESEMPREGO E QUEDA NA RENDA
A pandemia da covid-19 e a desarticulação de políticas sociais nos últimos anos contribuíram para aumentar a taxa de desemprego em Pernambuco e derrubar a renda, principalmente da população mais pobre.
Dados do Boletim de Desigualdade das Metrópoles, realizado pelo Observatório das Metrópoles e a PUCRS, apontam o avanço da desigualdade no Brasil, a partir de vários indicadores.
No caso do Grande Recife, a renda média dos 40% mais pobres caiu de R$ 354,4 em 2014 para R$ 246,2 no ano passado. Foi a segunda menor do Brasil, atrás apenas da Grande Manaus (R$ 245,6).
Já em relação ao rendimento médio geral da população da RMR, a perda foi de um terço do valor, saindo de R$ 1.593 em 2014 para R$ 1.079 em 2021. Isso quer dizer uma redução de R$ 514.
O desemprego pipocou em Pernambuco até alcançar 19,9%, a maior taxa do País em 2021. De acordo com a PNAD Contínua do IBGE, o número de pessoas sem trabalho no final do ano passado foi de 831 mil, o equivalente a metade da população do Recife.
Em 2022, a desocupação apresenta uma queda percentual importante e fecha em 13,6% no 2º trimestre, mas o Estado continua com o segundo maior percentual do País, depois da Bahia (15,5%).
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