A comunidade evangélica já vinha flertando com a direita, mas esse posicionamento se consolidou em 2018, com a eleição do então candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PL).
Nas eleições 2022, a tensão político-religiosa aumenta, com a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente. Lula tenta se reaproximar dos evangélicos, que são um verdadeiro fenômeno de massas nas últimas décadas. O voto deles pode não definir a disputa, mas causa estrago.
Os institutos de pesquisa mostram uma distância grande do eleitorado evangélico na preferência por Bolsonaro.
O levantamento mais recente do Ipec mostra que o atual presidente lidera com 48%, enquanto Lula tem 31%. Por isso, a tentativa do candidato do PT de fazer um aceno aos religiosos de modo geral, dizendo que nenhuma igreja será preterida, mas mirando os evangélicos.
E quem são esses eleitores tão cobiçados pelos candidatos? De que maneira podem influenciar o resultado das eleições? Como e por que a comunidade evangélica cresce tanto no Brasil e poderá superar os católicos ainda nesta década?
Autor do livro “Povo de Deus: Quem São os Evangélicos e Por Que Eles Importam” (Geração Editorial), o antropólogo Juliano Spyer, afirma que existe uma visão estereotipada, "arrogante" e preconceituosa sobre esses religiosos. Ele defende que a elite nacional quer colocar todos os evangélicos numa mesma caixinha de fanáticos, conservadores e intolerantes.
No Brasil, os evangélicos são 65 milhões de pessoas, 31% da população (em 2020). Em 2010, essa participação era de 23%. Enquanto avançaram em alta velocidade, a participação dos católicos despencou na mesma década, encolhendo de 65% para 50%. Com esse ritmo, a previsão dos estatísticos é que os evangélicos ultrapassem os católicos ainda nesta década. Nos anos 1970, eles representavam apenas 5% da população.
Formada, predominantemente, por pretos e pardos, pessoas pobres, mulheres e fiéis com baixa escolaridade, a Igreja Evangélica não é apenas o lugar onde a população vai buscar Deus, mas também um pouco de bem-estar e serviços que o Poder Público não oferece em muitas comunidades.
O Censo 2010 e a Pesquisa Datafolha 2020 trazem dados sobre população e religiões no País. Esses dados serão atualizados com a conclusão do Censo 2022.
Os evangélicos estão espalhados por todas as regiões do País, mas é no Norte onde a presença deles é mais forte, com participação de 39%, superando a média nacional de 31%.
O Estado de Rondônia é o mais evangélico do Brasil, com 34,22% das pessoas dedicadas à religião. Já o Piauí, com 10,25%, é onde tem a menor presença.
O Nordeste (27%) é a região brasileira com menos evangélicos, enquanto Pernambuco é o Estado mais evangélico da região (20%).
O cristianismo evangélico também é a região mais negra do Brasil, com maior percentual de pretos e partos até que a umbanda e o candomblé. São dois terços de pretos e pardos e 30% de brancos. A religião também é escolhida pela população mais pobre, com quase metade dos fiéis (48%), recebendo até dois salários mínimos.
A população evangélica busca ascensão social e econômica e um desses desejos está na tentativa de avançar na escolaridade. Hoje, metade tem o ensino médio, 35% o ensino fundamental e apenas 15% o superior.
As mulheres são maioria em todas as religiões, mas na Igreja Evangélica essa participação é ainda mais forte, chegando a 57% contra 42% dos homens. Outro fenômeno comemorado pela religião é a participação dos jovens.
A Igreja Católica, com 25% de seus fiéis com mais de 60 anos, tem um perfil mais velho. Entre os evangélicos, a população maior que 60% é de 16% e o restante das faixas etárias são bem equilibradas.
Não à toa se fala que 2020 será a década dos evangélicos. Quem não se interessar em acompanhar esse fenômeno não estará apenas desmerecendo uma comunidade, mas se recusando a entender o Brasil.
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