Eleições 2022

Passe livre no ônibus no dia da eleição favorece eleitor, não candidaturas, afirma Antônio Lavareda

Governo de Pernambuco anunciou que as passagens de ônibus da RMR serão gratuitas na votação do segundo turno, no dia 30 de outubro. No Estado, 1,2 milhão de pessoas não compareceram às urnas na primeira fase da disputa

Renata Monteiro
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Publicado em 19/10/2022 às 11:28 | Atualizado em 19/10/2022 às 11:32
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Antônio Lavareda, cientista político - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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No dia da votação do primeiro turno das eleições deste ano, 2 de outubro, 32,7 milhões de eleitores brasileiros deixaram de ir às urnas. Para tentar diminuir essa abstenção, na segunda fase do pleito alguns Estados decidiram determinar a gratuidade das passagens de ônibus, medida considerada fundamental pelo cientista político Antônio Lavareda.

"Qualquer medida que facilite o comparecimento dos eleitores no dia da eleição favorece sobretudo, independentemente de candidaturas, o próprio eleitor. Essa abstenção de mais de 32 milhões de brasileiros não deve ser vista como natural pela sociedade. Ela segrega, exclui, em um momento crucial da democracia a participação de eleitores pobres, isso já está evidenciado", pontuou o estudioso, durante participação no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

Na última segunda-feira (17), o Governo de Pernambuco anunciou que as passagens de ônibus da Região Metropolitana do Recife serão gratuitas na votação do segundo turno, no dia 30 de outubro. No Estado, 1,2 milhão de pessoas não compareceram às urnas na primeira fase da disputa, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE).

Na entrevista, Lavareda afirmou que a situação é tão relevante que outras ações deveriam ser estudadas para reduzir a falta de participação do brasileiro no processo eleitoral, como o aumento no número de dias para votação, por exemplo.

"O Brasil precisa imitar outros países que reservam mais de um dia para as pessoas irem votar, como os Estados Unidos. Não teria problema nenhum as pessoas irem votar entre a sexta e o domingo. Muitas mães que chefiam lares, que têm dois, três, às vezes quatro filhos, não têm creche aos domingos, elas precisam ir votar, então como fazem? Muitas delas se ausentam. Lamentavelmente, nós temos no Brasil uma abstenção compulsória", observou o cientista político.

Meios de comunicação x propaganda eleitoral

Na ocasião, Antônio Lavareda analisou, ainda, a relevância dos meios de comunicação para a popularização de candidaturas no Brasil. Para o professor, ainda que estejamos em meio à era digital, a televisão ainda é a plataforma com maior alcance entre os brasileiros, e a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) tem conseguido utilizá-la de forma mais eficiente do que a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Observando o último debate televisionado, no domingo passado, ele atingiu 72 milhões de pessoas. A campanha de Lula comemorou, ontem, porque ele participou de uma live e foi recordista, com 1 milhão de pessoas. São 72 milhões versos 1 milhão de pessoas. Eu acho que as campanhas têm que se preocupar com televisão nessa hora, porque quando se olha os meios de comunicação pelos quais as pessoas se informam no processo eleitoral, a televisão vem em primeiro lugar", declarou Lavareda.

E completou: "A campanha de Lula apresenta, no momento, uma debilidade evidente para quem liga a televisão. A campanha do Bolsonaro na TV é algumas vezes melhor e eficiente do que a campanha de Lula, isso tem que ser reconhecido. Assim como em Pernambuco, quando você liga a televisão, se percebe que a campanha da candidata Raquel (Lyra, PSDB) é mais eficiente, mais organizada, tem melhor plasticidade e mensagens do que a da candidata Marília Arraes (Solidariedade). Televisão faz diferença e eu acredito que continua a ser o principal instrumento de comunicação eleitoral entre um eleitorado que tem as características socioeconômicas do brasileiro".

Raquel Lyra e Marília Arraes no segundo turno

Durante a entrevista, Lavareda afirmou que é motivo de "orgulho" para Pernambuco ter duas mulheres disputando o segundo turno este ano. Segundo o estudioso, o cenário é inédito no Brasil e mostra que as mulheres têm ganhado força nos espaços de poder.

"Nós estamos diante de uma circunstância histórica para o Brasil e para o Estado, sem sombra de dúvidas. É algo singular esse momento em que as mulheres avançam no sentido de impor os seus direitos, impor o respeito devido dentro da sociedade, maior participação no sistema político, maior participação no sistema econômico, na gestão das empresas, na composição dos conselhos das empresas públicas", explicou.

Pesquisa Ipespe

Na última terça (18), o Ipespe divulgou uma pesquisa que mostra o ex-presidente Lula na liderança das intenções de votos totais, com 49% das menções, ante 43% de Bolsonaro. De acordo com Lavareda, apesar da vantagem do petista, a campanha de Bolsonaro tem razões para comemorar o desempenho no levantamento.

"Quatro placares foram selecionados pelo Ipespe. O primeiro foi a intenção de votos espontânea, que capta o que o eleitor está pensando naquele momento. Nele, o resultado foi de 46% a 42%. Quando vamos para a intenção de voto estimulada, amplia para 49% a 43%. Quando retira-se brancos, nulos, não sabe ou não respondeu, o placar é de 53% a 47%. Depois o instituto fez ainda outro recorte, porque como a abstenção é alta e não é confessada, o Ipespe excluiu os eleitores que declaram ter um grau de interesse baixo ou não ter nenhum grau de interesse na eleição, um total de 22%, e nesse cenário, nós chegamos a um placar de 52% a 48%", detalhou.

"Se a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, todos esses resultados estão dentro dos limites das margens de erro, com exceção da estimulada, que está no limite extremo da margem de erro da pesquisa. Esses dados devem preocupar a campanha de Lula, sendo fundamental que a televisão da campanha dele melhore nesta reta final, seja mais assertiva e desenvolva contra-ataques com relação ao adversário. Ao mesmo tempo, os resultados devem levar satisfação à campanha de Bolsonaro, porque ele traduz a informação de que está havendo resultado na estratégia dele neste segundo turno, diminuindo a diferença entre o adversário que se sobressaiu no primeiro turno", completou Antônio Lavareda.

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