MESMO TABULEIRO, NOVOS TIMES

Nova composição da Câmara: quase 80% dos deputados estão em 7 partidos ou federações

Para 2023, os sete maiores partidos e federações concentram 79,92% dos deputados federais, o que colocará à mesa do próximo presidente da República um tabuleiro mais simples, pelo menos à princípio

Augusto Tenório
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Augusto Tenório
Publicado em 21/10/2022 às 17:42 | Atualizado em 21/10/2022 às 18:12
MARCELLO CASAL JR/ AGÊNCIA BRASIL
Congresso Nacional - FOTO: MARCELLO CASAL JR/ AGÊNCIA BRASIL
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A composição da Câmara dos Deputados que saiu das urnas no dia dois de outubro deverá colocar à mesa do próximo presidente da República um tabuleiro mais simples, pelo menos à princípio. Isso porque observa-se uma aglutinação de parlamentares em maiores legendas, o que simplifica o desenho do congresso quando divide-se suas 513 cadeiras de acordo com os partidos.

Para 2023, os sete maiores partidos e federações concentram 79,92% dos deputados federais. São eles: o PL, a federação Brasil da Esperança (formada pelo PT, PCdoB e PV), o União Brasil, o PP, o PSD e o MDB. Essa porcentagem, porém, pode aumentar, levando-se em conta as negociações dos emedebistas para uma possível união com o Podemos, além do PSDB e Cidadania, que neste ano estão federados.

Observando-se o desenho da Câmara dos Deputados eleita em 2018, as sete maiores legendas detinham 54,19% do parlamento. O número cresceu para 71,54% ao final desta legislatura, impulsionado pela fusão entre o PSL e o DEM, que formam o União Brasil.

Ao Jornal do Commercio, Leon Victor Queiroz, professor do departamento Ciências Políticas da Universidade Federal de Pernambuco, aponta que a concentração de parlamentares e a formação de legendas maiores é resultado das últimas mudanças nas regras eleitorais, como a proibição de coligações, a criação das federações e as cláusulas de barreira.

A cláusula de barreira, em tempo, já levou ao anúncio de uma nova fusão. O Solidariedade e o PROS, após elegerem menos que cinco deputados federais, anunciaram a união das legendas. Foi a maneira que os os respectivos partidos de Paulinho da Força e Eurípedes Júnior encontraram para não perder recursos do fundo partidário. Outra fusão ventilada é a integração do PP ao União Brasil.

"Finalmente o Brasil começa a reverter o processo de hiperfragmentação partidária, facilitando a coordenação política para formação de alianças governativas. (...) Essa nova configuração é um ponto a ser levado em consideração na estratégia, mas não é o único", aponta Leon Victor.

Reprodução
O cientista político Leon Victor de Queiroz - Reprodução

Além da aglutinação de parlamentares em poucas legendas, observa-se uma queda no número de deputados eleitos por alguns partidos tradicionais, como o PSDB e o PSB. Os tucanos formaram uma federação com o Cidadania e elegeram 18 deputados. Isso representa uma queda de 40% com relação ao à atual bancada das duas legendas. Já numa comparação à eleição de 2018, observa-se encolhimento de 51% no número de eleitos.

"O número de parlamentares eleitos é muito influenciado pelas dinâmicas das chapas estaduais e também pelos apoios de prefeitos. Mas esses dois fatores sozinhos, não explicam o tombo. Com a polarização da eleição, só o PSB conseguiu capitalizar o voto de esquerda por estar na chapa presidencial com Geraldo Alckmin, mas preferiu não ingressar na federação do PT. Já PSDB e MDB que buscaram construir uma terceira via, não capitalizaram nem o voto da esquerda nem da direita. Esse conjunto de fatores pode explicar a diminuição de suas bancadas", comenta Leon.

Ele cita que o MDB, em 2016, tinha 1.044 prefeituras e ficou com 784 após a eleição de 2020, enquanto O PSDB caiu de 799 para 520. Já o PSB saiu de 407 para 252 no mesmo período. "Além disso o PSDB perdeu a eleição em seu principal reduto, que é São Paulo. O MDB fez venceu apenas no DF e Pará. E o PSB perdeu Pernambuco", completa.

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Plenário da Câmara dos Deputados - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Com relação à sigla comandada por Carlos Siqueira, a queda do número de eleitos com relação à atual bancada foi de 35%, enquanto com relação à bancada eleita em 2018 foi de 56%. A federação PT, PCdoB e PV cresceu 12 cadeiras, o que representa um saldo positivo de 19% com relação à atual bancada e de 20% ao número de eleitos no último pleito.

Questionado se a nova configuração indica que as chamadas legendas de aluguel devem chegar ao fim, o cientista político comenta: "As legendas de aluguel tem esse nome porque os políticos ingressam nelas tão somente para conseguir se eleger ou se reeleger. Com a vinculação do mandato ao partido, isso já começou a ser dificultado. Ademais, com partidos mais estruturados a escolha deixa se ser tão somente eleitoral, mas não dá pra afirmar que apenas a aglutinação em partidos maiores findará essa característica".

Firmeza da guinada à direita da Câmara dos Deputados

Com o crescimento da bancada do PL, partido no qual Jair Bolsonaro desembarcou há quase um ano, atenta-se um crescimento da direita, mas ainda não é claro se a legenda se comportará como uma sigla de extrema-direita. 

O partido, comandado por Valdemar da Costa Neto, elegeu 33 parlamentares e chegou à eleição ocupando cadeiras na Câmara dos Deputados. A ampliação aconteceu após a filiação do presidente da república, que inundou a legenda com seus apoiadores mais fiéis, além de outros deputados federias interessados no que julgaram ser uma reeleição mais fácil.

DIVULGAÇÃO
PL de Valdemar Costa Neto esteve com Lula na eleição de 2002 - DIVULGAÇÃO

Dessa forma, o PL aumentou em 23 o seu número de cadeiras na Câmara dos Deputados. Isso representa um crescimento de 30% com relação ao atual número de deputados e de 47% com relação à eleição passada. Isso não significa, necessariamente, ampliação da extrema-direita.

"O próximo Congresso estará mais à direita que o atual. É difícil dizer hoje que o PL é de extrema direita, é preciso analisar o padrão de votação, tipo de proposições e discursos de seus parlamentares na próxima legislatura. Se vai ser fiel ou não a Bolsonaro vai depender de ele ser reeleito ou não, uma vez que o fisiologismo continua fazendo parte desse partido", afirma Leon.

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