Lula acusa Israel de cometer 'genocídio' em Gaza e faz comparação com Hitler
Declaração de Lula foi feita à imprensa em Adis Abeba, na Etiópia, onde participa da cúpula da União Africana
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou, neste domingo (18), Israel de cometer um "genocídio" contra civis palestinos na Faixa de Gaza e comparou suas ações com a campanha de Adolf Hitler para exterminar os judeus.
O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é "uma guerra, mas um genocídio", declarou Lula aos jornalistas em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou como convidado da cúpula anual da União Africana.
O presidente brasileiro acrescentou que o conflito "não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças".
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu reagiu aos comentários de Lula, classificando-os de "vergonhosos e graves", afirmando que constituem uma "banalização do Holocausto" e anunciou que seu governo convocou o embaixador do Brasil em Israel.
"A comparação entre Israel e o Holocausto dos nazistas e de Hitler atravessa uma linha vermelha", disse o premiê em um comunicado, no qual insistiu que Israel está "lutando para se defender".
Segundo o ministro israelense das Relações Exteriores, Yisrael Katz, o encontro com o embaixador brasileiro acontecerá na segunda-feira.
Estas declarações são as mais contundentes já feitas até agora sobre o conflito por Lula, que é visto como um importante representante dos países do Sul Global e que ocupa a presidência rotativa do G20.
Lula afirmou em novembro que o movimento islamista palestino Hamas havia cometido "um ato de terrorismo" em seu ataque de 7 de outubro contra Israel, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço estabelecido pela AFP com base em dados oficiais israelenses.
Naquele dia, os comandos islamistas também capturaram 250 pessoas, das quais 130 permanecem retidas em Gaza, incluindo 30 que teriam morrido, segundo Israel.
Mas também criticou a "resposta desproporcional" de Israel em Gaza, que já deixou 28.985 mortos, em sua maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, que controla o território palestino desde 2007.
Brasil vai aumentar ajuda a UNRWA
Lula viajou esta semana ao Egito e Etiópia para aprofundar a aproximação política e econômica do Brasil com o continente africano, com o qual possui laços culturais e históricos.
Esta é sua terceira viagem à África desde que ele retornou ao poder em janeiro de 2023, sucedendo a Jair Bolsonaro.
Diante da assembleia anual da União Africana, uma cúpula que reúne os chefes de Estado dos 55 países do continente, Lula voltou a defender a existência de um Estado palestino.
"A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado palestino", enfatizou no sábado.
"Um Estado palestino que seja reconhecido como membro pleno das Nações Unidas. De uma ONU fortalecida e que tenha um Conselho de Segurança mais representativo, sem países com poder de veto, e com membros permanentes da África e da América Latina", acrescentou.
"Não haverá solução militar para esse conflito. É chegada a hora da política e da diplomacia", insistiu.
Lula, que também se reuniu no sábado com o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, afirmou que o Brasil aumentará sua contribuição à Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês).
Diversos países do Ocidente suspenderam sua contribuição financeira ao órgão da ONU depois que Israel acusou alguns de seus funcionários de envolvimento no ataque de 7 de outubro.
"Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar a contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente?", questionou Lula.
"É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande", frisou.
No Cairo, a capital egípcia, o presidente brasileiro havia classificado a ofensiva israelense como "punição coletiva".
"O Estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra, que as mulheres não estão em guerra", disse.
Egito e Etiópia estão entre os novos membros que acabam de se juntar ao Brics, um grupo de países emergentes que antes incluía apenas Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.