Rádio Jornal debateu os dez anos da Operação Lava Jato
Em 17 de março de 2014 ocorreu a primeira fase da operação que desarticulou o maior esquema de corrupção do Brasil
Neste domingo (17), a deflagração da Operação Lava Jato completou dez anos. A investigação comandada pela Justiça Federal desarticulou um esquema de lavagem e desvio de dinheiro no Brasil. Para debater sobre a temática, nesta segunda-feira (18), a Rádio Jornal convidou a comentarista Eliane Cantanhêde, o comentarista Felipe Moura Brasil, o colunista Romoaldo de Souza e o jurista Marcelo Labanca.
Em 17 de março de 2014 ocorreu a primeira de 79 fases da operação. Nessa investigação, a Polícia Federal (PF) desarticulou um esquema de corrupção envolvendo diretores da Petrobras, políticos e executivos.
Para a jornalista Eliane Cantanhêde a Lava Jato deve ser lembrada como "a maior operação de combate à corrupção do Brasil e talvez do mundo".
"Naquela época em que a lava jato foi lançada com provas e mensagens. Tudo muito comprovado tinha até a lista da Odebrecht, das operações especiais que eram exatamente as operações para os políticos. Aquilo tudo rodou o mundo", disse a comentarista.
Operação Lava Jato e Operação Mão Limpas
Cantanhêde comparou a Lava Jato com a operação Mão Limpas deflagrada na Itália, há 30 anos, que também desvendou um esquema de corrupção que envolvia políticos e serviu de inspiração para a operação brasileira.
"O problema da Lava Jato é que ela foi inspirada pela operação Mãos Limpas da Itália e acabou exatamente como a operação italiana. Começou muito bem, descobriu a origem, descobriu os elos, os personagens, os valores envolvidos. Era tudo muito consistente, mas quanto a verdade extrapolou e veio a vontade política. A vontade política foi decisiva para cambalhota da Lava Jato assim como na Itália", disse Eliane.
Segundo a jornalista, a operação Italiana foi influenciada pelos procuradores quando eles entraram na política e no Brasil ocorreu de forma semelhante.
"Quando Sérgio Moro saiu da eleição de 2018 e assumiu o Ministério da Justiça de um dos candidatos que era o Jair Bolsonaro ali começou o fim da Lava Jato. Ela começou necessária começou muito bem, e de uma forma que o Brasil precisava, mas acabou melancolicamente", destacou Eliane Cantanhêde.
A Lava Jato começou a acabar em 2017, diz Felipe Moura Brasil
Já para o comentarista Felipe Moura Brasil, a Lava Jato começou a desandar antes da ida de Moro para o ministério do governo Bolsonaro.
"Ela começou a acabar quando ela atingiu o Aécio Neves que é muito amigo do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Isso aconteceu em 2017, muito antes da eleição de 2018, muito antes de tudo que aconteceu depois da posse de Jair Bolsonaro", explicou Brasil.
"Naquela época agentes da Polícia Federal que não tem nada a ver diretamente com Sérgio Moro expuseram ali que num relatório de 43 chamadas entre Aécio Neves e Gilmar Mendes, inclusive uma ligação no dia em que o Gilmar suspendeu um interrogatório do Aécio Neves", continuou o comentarista.
Conluio de Ministros do STF com políticos
Para o corresponde da Rádio Jornal em Brasília, Romoaldo de Souza, o que ocorreu para o fim da Lava Jato foi uma combinação entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e políticos.
"Eu acredito que houve um conluio de ministros do STF com integrantes da política brasileira para dar um basta nas investigações da Operação Lava Jato", destacou Romualdo.
Segundo o colunista, ele releu o relatório do ministro Benjamin Zymler do Tribunal de Contas da União (TCU) para participar do debate e o documento aponta os prejuízos na Petrobrás e as pessoas beneficiadas.
"O relatório apresentado ao plenário do TCU conta que nesse período a Petrobras teve um prejuízo de mais de 18 bilhões de reais e esses 18 bilhões de reais não foram gastos somente num posto de gasolina no Centro de Brasília, não. Muita gente se beneficiou. Lava jato irrigou muitas contas de gente muito graúda na política, no judiciário e muitas empresas brasileiras", apontou o Souza.
Motivação política
De acordo com o jurista e constitucionalista Dr. Marcelo Labanca, a operação contou com uma motivação política.
"Ela começou como toda a operação da Polícia Federal com a finalidade de investigar e depois o judiciário punir os responsáveis, só que essa Operação Lava Jato, ela se demonstrou ao longo do tempo com uma motivação política", disse Labanca.
Se referindo ao posicionamento do colunista Romualdo de Souza, o constitucionalista afirmou que "não houve um conluio de Ministro do Supremo Tribunal Federal, o que houve foram excessos de uma operação conduzida por um magistrado com viés nitidamente político".
"Não é possível admitir que um magistrado concursado se utilizem de um cargo público, por mais boas intenções que ele possa ter isso não é possível", afirmou o Dr. Marcelo Labanca.
Mencionado o posicionamento da jornalista Eliane Cantanhêde, sobre a ida de Moro para o governo de Bolsonaro o jurista afirmou que sempre houve a direção política.
"Para mim não foi uma mudança de comportamento, Moro apenas evidenciou um comportamento que ele já tinha que era um comportamento com o viés nitidamente político que ao meu modo de ver prejudicou a investigação, prejudicou o combater a corrupção", detalhou Labanca.
Conhecimento da população
Durante o debate, Felipe Moura Brasil chamou atenção para as informações que os brasileiros tiveram acesso graças à Operação Lava Jato.
"Ela trouxe informação para a população brasileira a respeito de como se dá boa parte da política brasileira financiada com dinheiro público ou financiada de maneiras pretensamente ilícitas ou institucionalizadas como não deveriam ser", destacou o comentarista.
"O caso das emendas elas foram criando seus mecanismos próprios no orçamento secreto que mesmo tendo sido derrubado depois de muita pressão da imprensa pelo Supremo Tribunal Federal ainda vigora é de uma maneira maquiada. Então, os mecanismos de financiamento da política brasileira e que obviamente dão margem também para o enriquecimento ilícito individual eles foram devidamente destrinchados pela Operação Lava Jato", frisou Felipe.
Atualizações das delações da Lava Jato no STF
No último dia sete de março, o ministro do STF, Edson Fachin, divulgou um relatório com dados dos 10 anos da Operação Lava Jato. De acordo com o documento foram recuperados R$ 2 bilhões para os cofres públicos através de multas e devoluções acordadas em delações premiadas. Fachin homologou 22 acordos de colaboração premiada.
Mais 21 foram homologados ministro Teori Zavascki, que faleceu em decorrência de acidente aéreo em 2017.
A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo no intervalo entre Zavascki e Fachin, homologou as 77 delações referentes à antiga Odebrecht, atual Novonor.