CÂMARA X GOVERNO

Lira sobe o tom com governo e fala em interferência entre os Poderes

Em resposta a Lira, Padilha publicou um vídeo nas redes sociais que mostra um elogio feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao trabalho dele

Imagem do autor
Cadastrado por

Estadão Conteúdo

Publicado em 11/04/2024 às 21:26
Notícia
X

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chamou nesta quinta-feira (11) o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de "desafeto pessoal" e "incompetente", após uma polêmica sobre a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), que foi mantida anteontem pelo plenário da Casa, por 277 a 129 votos. Foi a manifestação mais dura de Lira, que não mantém boa relação com o governo, desde o início da gestão Lula.

O deputado foi questionado sobre notícias de que ele teria se enfraquecido com a manutenção da prisão do deputado acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018. Parte do Centrão, seu grupo político, tentou reverter a decisão, mas sem êxito.

"É lamentável que integrantes do governo, interessados na instabilidade da relação harmônica entre os Poderes, fiquem plantando essas mentiras, essas notícias falsas que incomodam o Parlamento. E, depois, quando o Parlamento reage, acham ruim", disse o presidente da Câmara, em entrevista coletiva em Londrina (PR).

Lira, que deixa a presidência da Casa no começo de 2025, reforçou a crítica com uma queixa contra o que classificou de interferência do Executivo no Legislativo. "(A notícia) foi vazada do governo e, basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, incompetente", declarou. "Não existe partidarização, eu deixei bem claro que ontem (anteontem) a votação era de cunho individual, cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver, não teve um partido que fechasse questão, os partidos liberaram, na sua maioria (as bancadas para que votassem como quisessem)", disse.

Reação

Em resposta a Lira, Padilha publicou um vídeo nas redes sociais que mostra um elogio feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao trabalho dele. No registro, Lula diz que Padilha "tem o cargo mais espinhoso" do governo por lidar com o Congresso.

"Padilha vai bater recorde, porque é o ministro que está durando muito tempo no seu cargo. E vai continuar pela competência dele", afirma o presidente no vídeo. "Ter ouvido isso, publicamente, do maior líder político da história do Brasil é sempre uma honra para toda a equipe do Ministério das Relações Institucionais", escreveu Padilha no X (antigo Twitter).

Lira rompeu relações com Padilha no início do ano, após discordar de critérios para o repasse de emendas parlamentares do Ministério da Saúde, cuja titular, Nísia Trindade, é apadrinhada pelo ministro das Relações Institucionais. Desde então, o principal interlocutor do presidente da Câmara dos Deputados no Palácio do Planalto tem sido o ministro da Casa Civil, Rui Costa, apesar de Padilha ser o responsável pela articulação política do governo com o Congresso.

DERROTA DE LIRA

O placar que garantiu a manutenção da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a prisão de Chiquinho Brazão não agradou a Lira, que mostrou incômodo da Câmara com o Judiciário. "Eu penso que, pela vultosa votação, só foram 20 votos acima do mínimo, a Câmara deixou claro que está incomodada com algumas interferências do Judiciário no seu funcionamento, sem nenhum tipo de proteção a criminosos", afirmou o deputado, ao ressaltar que os parlamentares votaram anteontem para decidir se havia pré-requisitos para a prisão preventiva de Brazão.

"Não podemos é prejulgar. O julgamento do deputado acontecerá agora no Conselho de Ética e na Justiça. A votação de ontem (anteontem) era se ele permaneceria preso ou se seria solto. Isso nada influencia em votações, em base aliada e muito menos em eleição da Câmara, que só vamos tratar a partir de setembro", declarou o presidente da Câmara. "É importante que, acima de tudo, a gente preze pelo devido processo legal, pelo respeito às leis, às instituições e principalmente aos Poderes."

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), defendeu Padilha. Ele disse ser preciso "evitar esses problemas" e "buscar sempre as convergências". "Ninguém é perfeito, mas ninguém também é tão mau assim. A gente tem que conviver com as divergências e eu espero que a relação do Parlamento com o Executivo, especialmente com essa peça-chave que é o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, possa ser a melhor possível", disse Pacheco.

'Boas relações'

Ele reforçou que mantém boa relação com o ministro e que o considera "competente". "Eu me esforço muito para manter uma boa relação com o governo, com o próprio ministro, por quem eu tenho afeição. Da parte do Senado, nós vamos buscar ter o melhor relacionamento possível com o governo e com o próprio ministro Padilha", afirmou Pacheco.

Tags

Autor