Terezinha Nunes: "João Campos chega à reeleição por méritos e com 'parceria' da oposição"

Recife nunca foi de premiar os candidatos a prefeito com eleições ou reeleições tranquilas. Mas João Campos parece contrariar a tradição este ano

Publicado em 05/10/2024 às 11:26

Conhecida pelos prefeitos bem avaliados – alguns, como Jarbas Vasconcelos, escolhido diversas vezes como o melhor prefeito do país, no período em que governou pela segunda vez a cidade, entre 1993 e 1996 –, Recife nunca foi de premiar os candidatos a prefeito (nem mesmo Jarbas) com eleições ou reeleições tranquilas.

Jarbas se elegeu em 1992 com 52,72% dos votos. Roberto Magalhães, que o sucedeu, teve em seguida 50,96%. João Paulo em 2000 foi eleito com 50,38%, mas, quatro anos depois, na reeleição, chegou a 56,11%.

João da Costa teve 51,54% em 2008, e Geraldo Júlio teve 51,15% em 2012, conseguindo, só na reeleição e em segundo turno, 61,30%. Da mesma forma, o prefeito João Campos se elegeu em 2020 com 56,27%, mas também em segundo turno.

De todos acima, João Campos foi o único a ser, por diversas vezes, escolhido como o melhor do Brasil, repetindo a façanha de Jarbas.

Isso já o credenciaria a ter este ano um elevado percentual de votos na reeleição (Jarbas não disputou a reeleição preferindo se candidatar a governador, saindo vencedor da eleição em 1998).

Considerando, porém, a tradição eleitoral da capital em que o resultado do pleito sempre foi incerto, definindo-se na boca de urna, desta vez João Campos surpreendeu.

Em todas as pesquisas deste ano superou os 70% de intenções de voto, mesmo passando por dois debates nos quais foi duramente cobrado por erros que, em outros tempos, poderiam ameaçar uma reeleição.

Oposição no Recife morreu na praia

Mas nada deu certo. A oposição está amargando a maior derrota de todos os tempos, com candidatos que não ameaçaram, em nenhum momento, a hegemonia de João Campos.

Convicto da vitória, ele chegou ao ponto de comparecer aos dois debates, sem tergiversar. E a todas as críticas feitas e não respondidas – não aceitou provocações –, cobrava dos opositores sobre onde estavam que não fizeram antes seus questionamentos.

Na verdade, a oposição deste ano no Recife acabou virando “parceira” da vitória de João Campos, mesmo diante da quase certeza – o que já seria um mote importante para críticas e responsabilizações – de que ele pode deixar o mandato em 2026 para se candidatar a governador, deixando no seu lugar um ilustre desconhecido, o vice Victor Marques.

A oposição em nenhum momento, nos quatro anos de mandato do prefeito, ameaçou sua hegemonia. Aliás, nem existiu.

Foi feita por um ou dois vereadores mais afoitos que não conseguiram reverberar suas críticas. Os outros 37 vereadores ficaram calados, ou por fazerem parte da base do prefeito ou por não conseguirem dos seus partidos, no caso da minúscula oposição, respaldo para seguir em frente.

Nem mesmo a posse da governadora Raquel Lyra, que, todos sabiam, teria um candidato, Daniel Coelho, mudou o quadro. A governadora passou mais de um ano sem fazer política e sequer acompanhou seu candidato na campanha.

João Campos em céu de brigadeiro

João Campos, em nenhum momento, precisou se abalar no seu gabinete para revidar alguma crítica mais forte dos oposicionistas.

Nesta situação, voou em céu de brigadeiro. Tirou da governadora até partidos que faziam parte de sua base, como União Brasil e MDB, ocupando 50% do tempo de Rádio e TV, fundamentais em uma eleição.

Ainda por cima, subtraiu do PT toda a capacidade de reação do partido, fazendo acordo direto com o presidente Lula, deixando na mão dois senadores – Teresa Leitão e Humberto Costa -, que patrocinaram uma luta pela vice que acabou em pizza.

Os petistas, que ajudaram a derrotar Danilo Cabral em 2022, aliando-se, por debaixo dos panos, com Marília Arraes, mesmo o PSB tendo concordado em abrir mão da vaga do senado para o partido, tiveram que responder com um amém.

E contentar-se com duas secretarias inexpressivas do município que lhes foram oferecidas no início deste ano, com o objetivo claro de levar a legenda a uma cooptação.

Progressista de centro esquerda

Tudo foi planejado por João Campos durante quatro anos para chegar onde chegou, inclusive na humilhação a que submeteu os petistas, gesto que foi acusado pelo ex-prefeito João Paulo em mais de uma entrevista.

Afastando-se da legenda que sequer foi citada em seu programa de TV, aliás, nem mesmo Lula apareceu, Campos conseguiu manter os votos que conquistou na direita bolsonarista - expressiva na capital – e não perdeu, de forma substancial, os votos da esquerda.

Virou uma quase unanimidade que jamais seria ameaçada por uma oposição que deixou para se expressar na curta campanha de 45 dias.

“Sou um progressista de centro-esquerda”, definiu-se no último debate, mostrando em que lado está e do qual não parece querer abrir mão daqui pra frente. Vai dar muito trabalho à governadora Raquel Lyra em 2026.

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