PSB disputa com PSDB protagonismo em 2026 com base em prefeitos ainda indefinidos
Um observador astuto da política que chegasse ao Estado, após eleições, perceberia uma corrida desenfreada entre governistas e oposicionistas
Com quantos prefeitos se faz um governador? Em Pernambuco este é um assunto discutível sob todos os aspectos. Ficou na história política do estado, e não custa repetir, que em abril de 1998, quando se prenunciava o embate entre o ex-governador Miguel Arraes, candidato à reeleição, e Jarbas Vasconcelos, que pleiteava o mesmo posto, o PSB fez um anúncio de uma página nos jornais pernambucanos mostrando que Arraes contava com 120 dos 185 prefeitos do estado, estando, portanto, bem à frente de seu opositor na eleição daquele ano. Mas, abertas as urnas, Jarbas saiu vencedor com a diferença de 1 milhão de votos.
A lição foi absorvida? Tudo indica que não. Um observador astuto da política que chegasse ao estado logo após a divulgação do resultado das eleições municipais deste ano no primeiro e segundo turnos, perceberia que, ao largo das comemorações particulares dos vencedores – nos casos os prefeitos eleitos – havia se estabelecido no mundo político estadual uma corrida desenfreada entre governistas e oposicionistas para provar qual grupo tinha elegido mais prefeitos e ganho, com isso, condições preliminares para, em 2026, eleger governador e dois senadores.
“ O senhor combinou com os russos?” poderia perguntar o saudoso Mané Garrincha repetindo a indagação que fizera a Feola em 1958 quando, diz a lenda, o técnico brasileiro ensinou direitinho aos jogadores como barrar a antiga União Soviética dando a impressão de que do outro lado estariam mais observadores do que atletas dispostos ao tudo ou nada. Os russos seriam, naturalmente, os prefeitos eleitos, muito mais interessados em fazer algo em seus municípios a partir de 1.o de janeiro do que discutir dois anos antes o que vai acontecer em 2026.
E o que estão pensando eles, os prefeitos, depois que a poeira baixou, as comemorações aconteceram e há milhares de pessoas esperando que mostrem serviço? Bem, os partidos ainda não chegaram a um conclusão sobre, afinal, que lado saiu vencedor em 2024 quando já se prenuncia que a governadora Raquel Lyra e o prefeito João Campos vão se encontrar na arena estadual daqui a dois anos, mas os prefeitos começaram a dar seus recados.
E, pelo que estão falando, o PSB não deveria ter repetido 1998 e colocado a mão na cumbuca. A começar pela Região Metropolitana, onde João Campos, após a vitória retumbante no Recife, se deu mal na tentativa de, usando do seu prestígio, eleger seus candidatos em Olinda e Paulista e não logrou êxito, dando chance à governadora Raquel Lyra de vencer nos dois municípios. Esta semana o prefeito eleito de Camaragibe, Diego Cabral (Republicanos) colocado na lista do PSB como aliado, falou com clareza em entrevista : “ Não sou oposição ao Governo. A governadora ficou neutra em Camaragibe. Não subiu em palanque nenhum. Nosso deputado João de Nadegi vota com o Governo na Assembleia”.
E adiantou: “ O momento eleitoral passou, e agente tem que discutir o crescimento de Pernambuco e de Camaragibe. O Governo do Estado precisa ser parceiro do município. A Prefeitura tem que ser parceira do Governo do Estado porque quem ganha com isso é a população”.
Outro prefeito citado na mesma relação, Carlos Santana, de Ipojuca, também do Republicanos, que já manifestou interesse em se encontrar com a governadora e firmar parcerias com ela, adiantou ao blogdellas: “ a eleição estadual é em 2026, eu ainda nem assumí. Não estou nem pensando nisso. Vou procurar a governadora sim. Ipojuca precisa do Governo e o Governo precisa de Ipojuca. Sobretudo Porto de Galinhas, o maior destino turístico do estado, onde a governadora está iniciando agora o saneamento básico”.
O quinto maior município em população da Região Metropolitana é o Cabo de Santo Agostinho, um dos principais eixos econômicos do litoral sul. O prefeito Lula Cabral, do Solidariedade, partido de oposição, disse a este blog que é “totalmente prematura essa discussão sobre 2026”. Lembra que o seu município abriga “85% do Complexo de Suape e precisa se entender com o Governo”. Lembra que foi colega de Assembléia de Raquel e da vice Priscila Krause: “ sempre nos demos bem na Alepe e vai acontecer o mesmo agora”.
Como no poema de Drummond “ tinha uma pedra no meio do caminho” e esta pedra é o poder de um Governo que chega ao terceiro ano de mandato azeitado com obras e recursos para estabelecer parcerias com os municípios. Quem há de resistir? O prefeito de Camaragibe, que foi secretário da atual prefeita Dra Nadegi traz na ponta da língua o que já está acertado com a governadora e que ele vai dar continuidade como a construção de duas creches e a requalificação da PE-27, a chamada Estrada de Aldeia onde, segundo ele, “ o Governo do Estado vai investir R$ 111 milhões dentro do programa PE na Estrada”, anunciado por Raquel recentemente.
A prematuridade que fez o PSB citar apoio sem antes perguntar aos prefeitos não significa que os acima citados romperam com a Frente Popular, ou que todos os que constam da lista do Governo vão continuar no mesmo caminho, mas que a agenda deles agora é outra. Vão trabalhar buscando parecerias federais e estaduais e em 2026 colocar os feitos na balança e, aí sim, definir o rumo a seguir. Na cabeça deles, qualquer lista de apoio neste momento, é pura invenção.