Insatisfação com gestão Biden e economia foram decisivas para vitória de Trump, dizem analistas

Cientistas políticos compararam pleito americano com eleições municipais brasileiras durante o programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal

Publicado em 06/11/2024 às 12:33

A economia norte-americana e a avaliação da atual gestão de Joe Biden foram decisivas para a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, segundo analisaram os cientistas políticos Antônio Lavareda, Ricardo Rodrigues e Maurício Romão no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta quarta-feira (6).

Lavareda iniciou a discussão questionando quando um vice-presidente ganhou uma eleição com uma margem negativa de avaliação na véspera da eleição, e quando um candidato de um partido que está no poder venceu a eleição com a maioria da população insatisfeita com a economia. "A resposta par ambas é nunca", disse o cientista político.

Em relação a Donald Trump, ele lembrou que somente o ex-presidente Grover Cleveland conseguiu um segundo mandato nos Estados Unidos depois de perder uma reeleição anteriormente. O mandatário governou o país entre 1885 e 1889 e entre 1893 e 1897.

"E sabe por que ele conseguiu? Porque o governo de Benjamin Harrison, que o derrotou na tentativa de reeleição, foi um desastre do ponto de vista econômico. Ou seja, a economia resolveu lá atrás, a economia resolve de novo. É o mesmo fenômeno: a eleição foi sobre incumbência", apontou Antônio Lavareda.

Reprodução/JC Play
Cientistas políticos comentaram eleição dos Estados Unidos no programa Passando a Limpo - Reprodução/JC Play

Ricardo Rodrigues concordou, afirmando que a economia da gestão Biden foi determinante para uma mudança no perfil partidário.

"O partido republicano soube tirar proveito disso com o discurso de: 'pergunte a si mesmo, quatro anos atrás você está melhor?'. A economia foi o grande motivador. O que fica do resultado é que houve uma espécie de realinhamento partidário. Quem terminou votando no Trump foi exatamente aquela classe média, operária, o trabalhador, e esses eram eleitores que geralmente estavam ligados ao partido democrata, houve uma migração, não de eleitores de um partido para outro, mas o aumento da população jovem. Homens jovens votaram no Trump. É possível que estejamos vendo um realinhamento", avaliou.

O cientista político Maurício Romão também atribuiu a vitória de Trump à política econômica do governo atual. "Paradoxalmente, os economistas dizem que os indicadores macroeconômicos estão bem situados, com baixo desemprego, queda da inflação, aumento no salário real, mas a percepção não capta essa vantagem desse indicadores macros. Isso é mais do micro, onde a realidade é vivida", analisou.

Relação com municipais brasileiras

Antônio Lavareda também fez uma relação da vitória de Trump com as eleições municipais brasileiras, concluídas no mês passado. Segundo ele, o pleito daqui também foi definido, majoritariamente, pela avaliação do trabalho das gestões atuals. Ao todo, 81% dos prefeitos foram reeleitos, maior índice desde 2008, quando 65% dos candidatos foram reconduzidos.

"Nossas eleições foram basicamente sobre a incumbência, sobre o desempenho de quem estava sentado na cadeira de prefeitos, daí a alta taxa de reeleição no Brasil. Nos Estados Unidos, tivemos uma eleição basicamente sobre o partido incumbente, e esse olhar da população foi um olhar majoritariamente de desaprovação", avaliou o especialista.

"Se fosse apenas sobre a economia, a votação do Trump seria ainda maior, por que a Kamala ainda conseguiu ter desempenho de 48%, embora a eleição também tenha sido sobre Trump, e ele tem elevada taxa de rejeição. Então foi o seguinte: ou a eleição era sobre o incumbente, e Kamala não tinha chance, como não teve; ou seria sobre Trump, e ele não seria eleito, o que não ocorreu. Predominou a avaliação da incumbência, como ao longo da história", cravou.

O cientista político Ricardo Rodrigues concordou, afirmando inclusive que houve uma avaliação dupla da incumbência. "Você tinha o Biden incumbente, ou seja, com Kamala como vice-presidente, mas até o próprio Trump poderia colocar a sua antiga incumbência na vitrine. Na verdade, ele tendo sido presidente uma administração anterior, poderia colocar na vitrine do jogo a própria incumbência. Tivemos aí uma dupla incumbência", apontou.

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