Polarização, inflação e falhas na comunicação estagnaram aprovação de Lula, avalia diretor da Quaest

Em entrevista à Rádio Jornal, diretor de inteligência da Quaest citou que a polarização entre Lula e Bolsonaro também é determinante na avaliação

Publicado em 11/12/2024 às 10:37
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O cientista político e diretor de inteligência da Quaest, Guilherme Russo, avaliou que a aprovação do governo Lula registrada no levantamento divulgado pelo instituto nesta quarta-feira (11) reflete a polarização que acompanha o país desde a eleição presidencial de 2022. A análise foi feita em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

No relatório, Lula teve aprovação de 52% dos brasileiros e 47% de reprovação. O índice positivo subiu um ponto percentual em relação à última pesquisa, de outubro, mantendo-se dentro da margem de erro.

“2022 foi a eleição mais apertada desde a redemocratização. Estamos vendo que os eleitores do Lula vão avaliar o governo Lula de forma positiva, e os eleitores de Bolsonaro, de forma negativa. Essa polarização dificulta qualquer governo, não só no Brasil, a transformar bons resultados em aprovação”, apontou.

Na mesma pesquisa, o trabalho de Lula ficou atrás dos governos de Dilma Rousseff, da primeira presidência de Fernando Henrique Cardoso, da gestão Bolsonaro e dos primeiros mandatos de Lula. O relatório comparou números relativos ao final do segundo ano de cada governo.

Reprodução/Quaest
Guilherme Russo, diretor de inteligência da Quaest - Reprodução/Quaest

Nesse ranking, o segundo mandato de Lula teve a maior aprovação, com 73% de índice positivo. O especialista diz ser impossível qualquer governante alcançar esses números nos dias de hoje.

“A gente vive outros momentos. Entre 2002 e 2010 tínhamos foram anos de uma economia internacional muito forte, a gente vivia um cenário muito diferente. Tivemos a era Dilma, depois Lula foi preso, teve a volta dele e uma vitória bem polarizada contra Bolsonaro. São tempos muito diferentes. Aquela coisa de 70%, 80% de aprovação é praticamente impossível, essa é a realidade”, avaliou Guilherme Russo.

“Agora, dá pra melhorar? Sempre dá. Existe um grupo ali de meio que não é nem bolsonarista nem lulista, e esse grupo de certa forma se divide e pode aprovar mais o governo, dependendo de algumas entregas”, acrescentou.

Problemas na comunicação

O diretor da Quaest também apontou que a pesquisa mostrou uma dificuldade do governo em não conseguir comunicar bem seus resultados de políticas econômicas. Isso pode ser visto, por exemplo, nos 62% que não tinham ouvido falar do pacote fiscal anunciado por Fernando Haddad no final de novembro.

“Isso tá muito claro. A pesquisa mostra que a população não está vendo os resultados que os indicadores estão mostrando. A melhora nessa comunicação me parece imprescindível. Isso tem sido uma dificuldade do governo nos últimos dois anos. A isenção do Imposto de Renda, somente 43% da população está sabendo disso. Outras políticas, como o Pé de Meia, o Minha Casa Minha Vida, grande parte da população não conhece. Sem dúvida é uma dificuldade”, apontou

“Não adianta só fazer, precisa comunicar muito bem, e a pesquisa mostra muito bem que a percepção de piora na economia é um obstáculo, uma dificuldade do governo”, acrescentou.

Inflação

Ainda durante a análise, o cientista político avaliou que a inflação também foi fundamental para o desempenho de Lula mensurado na pesquisa. Segundo ele, fatores considerados positivos, como o crescimento do PIB e a diminuição da taxa de desemprego, ficam mascarados quando a população encontra produtos mais caros nas prateleiras.

“A gente está vendo as pessoas dizendo 'o preço dos alimentos e do combustível estão subindo’, e isso tá dando essa percepção de que a economia não está melhorando. Existia uma expectativa dos eleitores de Lula de que esse governo traria melhorias. Quando ele falava da picanha e da cerveja, ele, de forma simples, falava que aumentaria o poder de compra. Mas a inflação, especialmente nos últimos seis meses, se tornou um problema para a vida dos brasileiros”, analisou Russo.

“A inflação sempre aperta mais nos brasileiros com renda mais baixa, e a pesquisa mostra isso. Foram eles que votaram no Lula. Eles que estão fazendo a aprovação cair ao longo do tempo. Tinha uma expectativa muito alta, mas nos últimos meses a inflação dos alimentos tem crescido de forma muito acelerada e a renda, os salários, não tem conseguido acompanhar. E essa é a questão mais importante para os brasileiros. Essa é a diferença da expectativa com a realidade”, comparou.

Na visão de Guilherme, o governo federal também apresentou poucas novidades em políticas públicas neste terceiro mandato, o que teria freado a aprovação do presidente.

Ele avalia que programas famosos da gestão petista foram absorvidos pelas gestões de Michel Temer e de Bolsonaro, o que teria deixado Lula sem políticas novas para anunciar na sua gestão, e que isso teria impactado os eleitores.

“Muitas políticas já estão incorporadas pela população brasileira, sem dúvida não tem tanta novidade. Talvez o Pé de Meia seja a maior novidade dos últimos dois anos, mas não tem grande novidade. O que mudou? O que trouxe de novidade para esse governo? De certa forma, a população não está vendo novidade, e por isso talvez não consegue mexer na aprovação do governo”, examinou o especialista.

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