O período chuvoso começa a bater à porta de moradores do Recife e a população residente nas áreas de morro reclama da falta de infraestrutura para enfrentar mais um inverno. Da Zona Norte à Zona Sul, as famílias se queixam de barreiras cobertas de lixo e árvores de grande porte (fatores que contribuem para o deslizamento de encostas) e cobram do município ações mais eficientes. A prefeitura alega que o trabalho preventivo nos morros e alagados da cidade é constante e que a população também precisa colaborar.
Uma barreira que divide a Bomba do Hemetério e Água Fria, na Zona Norte, chama a atenção pela quantidade de lixo acumulado na colina. Quem vive na parte de cima, o Alto do Pascoal (Água Fria), tem medo que o morro desabe e leve a casa junto. Quem mora na parte de baixo, a Bomba do Hemetério, tem receio de o morro deslizar e soterrar seus imóveis.
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“O Alto do Pascoal em peso joga o lixo aqui. A prefeitura fez a limpeza em dezembro do ano passado (2014). Depois, não voltou mais e a barreira fica assim”, diz Luiza Barbosa de Santana, moradora da comunidade. Na Bomba do Hemetério, Maria Lúcia da Silva, Ivone dos Santos e Maria das Graças Dias lembram que o serviço só foi feito com ajuda da polícia. “Os moradores do Alto não queriam que tirassem a sujeira, jogaram pedras nos garis”, contam
Nenhuma das quatro mulheres dorme tranquila nos dias de chuva. “Dois anos atrás, o prefeito esteve aqui, prometeu céu e terra e nada fez”, diz Lúcia. “A barreira está pesada de lixo, árvore e água de esgoto que escorre dos canos. Já tivemos três mortes por causa disso. Lutamos com a sorte”, destaca Maria das Graças.
No Córrego do Curió (Brejo), também na Zona Norte, moradores cobram a conclusão do muro de contenção da barreira da Rua Tancredo Neves. “A obra parou em outubro passado (2014) e até agora não retomaram”, afirma o autônomo Edilson França. São as mesmas queixas das seis famílias que tiveram as casas destruídas num deslizamento de morro sexta-feira passada (6) em Lagoa Encantada, no bairro Cohab, Zona Sul da capital pernambucana.
“Só duas casas estavam protegidas por muro de contenção”, diz Rafaele Silva. “A minha não foi derrubada, mas ficou em situação de risco”, destaca. De acordo com os moradores, a prefeitura demora a executar as ações prometidas, por isso os acidentes acontecem. A barreira, observam, não é tão alta. Mas não tinha proteção de lona, estava tomada por lixo e tinha sido arborizada com coqueiro e mangueira.
O secretário-executivo de Defesa Civil da cidade, coronel Cássio Sinomar, disse que a população é orientada regularmente, de porta em porta, sobre o descarte correto do lixo e a vegetação indicada para as barreiras. “Mas nosso maior problema nos morros ainda são as construções irregulares, com cortes de barreiras sem orientação técnica”, declara.
Com relação às áreas alagadas na planície, a diretora de Manutenção Urbana do Recife, Fernandha Batista, disse que a limpeza dos 99 canais, das galerias e das canaletas é constante. “A população poderia contribuir com as medidas preventivas, se não jogasse lixo nos canais”, comenta. No fim de semana passado (6, 7 e 8 de março), a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), tirou 450 toneladas de entulhos do Rio Morno, na Linha do Tiro, Zona Norte da cidade.
“Com menos lixo nos canais, galerias e canaletas, haveria uma redução nos alagamentos. Recolhemos sofá, geladeira e até cama box”, declara Fernandha. A Defesa Civil do Recife registrou 150 milímetros de chuva nas últimas 72 horas. Cada milímetro corresponde a um litro por metro quadrado. A previsão para esta terça-feira (10) é de precipitação leve a fraca (1 a 9 mm) no Grande Recife e Zona da Mata. Não há previsão de chuva para o Agreste e o Sertão, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac).