Urbanismo

Restauração de prédios anuncia resgate da Rua do Imperador

Antigo Hotel Recife será transformado em escola de enfermagem. A OAB-PE recuperou e vai se instalar no edifício onde funcionava o Jornal do Commercio

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 02/01/2016 às 8:08
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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O ano de 2016 começa com promessa de vida nova para a Rua do Imperador, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife. Pelo menos num trecho dela, nas proximidades da Rua Siqueira Campos, os passantes já notam obras de restauração em prédios desativados. O cordão foi puxado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), que reformou o edifício onde, até 2005, funcionava o Jornal do Commercio.

Agora, o Real Hospital Português inicia a recuperação do antigo Hotel Recife, defronte da nova sede da OAB, e vai reabrir a velha hospedaria como uma escola de enfermagem. O Gabinete Português de Leitura, vizinho e proprietário do imóvel da futura faculdade, vai aproveitar a movimentação e renovar a pintura da sua fachada.

No mesmo quarteirão, o Porto Digital pretende restaurar e ocupar o Edifício Segadas Vianna, que abrigou o Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (Iapas) e está fechado há dez anos. O Porto também negocia com o Estado o uso do antigo prédio do Diário de Pernambuco, na Praça da Independência, a poucos metros da Rua do Imperador.

 

“A notícia é excelente, a restauração e a reocupação dos prédios exercem uma pressão maior para o mercado imobiliário se estabelecer nas redondezas, é um estímulo à moradia”, declara o arquiteto e urbanista Milton Botler. A atividade de ensino, diz ele, gera demanda por habitação, lembrando que Santo Antônio vem despontando como um polo educacional, com faculdades na Avenida Guararapes e no Edifício JK.

Sem moradia, observa Milton Botler, que atua como consultor, um projeto de revitalização não é completo. O resgate da rua, continua o arquiteto, vai exigir demanda por estacionamento e não faz parte da estrutura dos prédios existentes ofertar vagas. A questão pode ser enfrentada com transporte público de qualidade, edifício-garagem e política pública de criação de vagas para evitar que a rua seja transformada em estacionamento, sugere.

A obra de implantação da Escola de Enfermagem do Real Hospital Português está em andamento e a obra se estenderá pelos próximos 15 meses, informa o provedor da unidade hospitalar, Alberto Ferreira da Costa. “Queríamos montar uma escola para selecionar nosso pessoal, enfermeiros e técnicos, e passamos três anos com o projeto. É uma contribuição para revigorar uma área histórica da cidade”, diz Alberto Ferreira. A unidade será inaugurada em 2017.

Ao mesmo tempo, o empreendimento auxilia o Gabinete Português de Leitura, que enfrenta dificuldades financeiras e não teve condições de reformar o prédio do hotel, sem uso há cerca de oito anos. “Fizemos um convênio com o Hospital Português para a ocupação do anexo, o prédio do Gabinete continuará aberto ao público com a mesma função”, afirma o presidente da entidade, Celso Stamford Gaspar.

Diretor executivo do Porto Digital, Leonardo Guimarães, disse que espera concluir a negociação dos dois edifícios, com o Estado, no início de 2016. “São dos dois indutores do novo território de ocupação do Porto”, declara Leonardo. A cessão do prédio do Iapas ainda depende de entendimento com o governo federal.

À reocupação dos imóveis se soma a restauração do Cais do Imperador, na Avenida Martins de Barros, pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife. O espaço terá café-bar e áreas para atividades de arte-educação, educação ambiental e lançamento de livros. A obra termina no fim de fevereiro de 2016.

“Ali era um ponto onde escravos despejavam dejetos de ricos, depois funcionou como cais e foi banheiro público. É um exemplo do movimento de faz, desfaz e refaz da cidade. Queremos contar essa história à população no novo cais”, diz Cida Pedrosa, secretária de Meio Ambiente do Recife.

A Rua do Imperador, informa o arquiteto José Luiz Mota Menezes, aparece em mapas na segunda metade do século 17, com poucos imóveis. Teve seu apogeu e entrou em decadência com o esvaziamento do Centro. “Ocupar os prédios vagos é uma maravilha”, ressalta.

“Tenho esperança que essa situação de desprezo se modifique, mas ainda há muita coisa a se fazer”, alerta Júlio Crucho, proprietário do Restaurante Dom Pedro. A casa completará 50 anos de atividades em 2016, sempre na Rua do Imperador.

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