Depois de anos rabiscado com pichações sobre uma pintura desbotada, o prédio do Arquivo Público Estadual, no Centro do Recife, terá fachadas e coberta restauradas. A obra começa na próxima semana e está prevista para ser executada em três meses, anuncia o jornalista Evaldo Costa, gestor da instituição.
A recuperação do edifício, de estilo arquitetônico neocolonial, coincide com a transferência para o arquivo de farta documentação do acervo do Ginásio Pernambucano (GP), um dos mais famosos educandários da capital. A papelada, num total de sete metros lineares, cobre a história do GP num intervalo de 126 anos, de 1844 a 1970.
De acordo com Evaldo Costa, o material já está guardado no anexo do Arquivo Público, localizado na Rua Imperial, no bairro de São José. E em breve será colocado à disposição de pesquisadores. A doação será oficializada numa solenidade às 10h desta quinta-feira (30), na sede da instituição, na Rua do Imperador, 371, no bairro de Santo Antônio.
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O prédio que abriga o arquivo desde 1947 foi inaugurado em 1731 como a Casa de Câmara e Cadeia do Recife, com dois pavimentos e uma escada lateral. “A cadeia ficava no térreo e a Câmara no andar superior”, informa o arquiteto José Luiz Mota Menezes. Em 1780, diz ele, o imóvel ganha mais um pavimento, para aumentar o espaço destinado aos presos.
Com a nova arrumação, a Câmara passa a ocupar o último piso, mas logo é deslocada para outra edificação na Praça Dezessete, no bairro de Santo Antônio. No local, se instala o Tribunal da Relação (antigo nome do Tribunal de Justiça). “O prédio funcionou como cadeia até 1930”, afirma José Luiz.
No século 19, acrescenta o arquiteto, a cadeia da Rua do Imperador abrigou presos civis que participaram da Revolução Pernambucana de 1817 (movimento libertário que completa 200 anos em 6 de março de 2017) e da Confederação do Equador (1824). “É um edifício que está inserido na história de Pernambuco”, reforça.
Quando o imóvel é ocupado pela Biblioteca Pública, em 1930, sofre novas modificações. “A fachada da Rua do Imperador é reformada e assume o estilo neocolonial. Internamente, tudo é alterado”, relata José Luiz. A fachada voltada para o rio mantém a forma original.
A sede do arquivo encontra-se em processo de tombamento na Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), diz Evaldo Costa. “Vamos manter todas as características do prédio na obra de restauração”, declara o jornalista. O anexo também será recuperado e todos continuarão abertos ao público enquanto durar a intervenção.
GINÁSIO
O acervo transferido do Ginásio Pernambucano para o Arquivo Público contém correspondência recebida e expedida pela escola, relatórios anuais dos diretores, atas de exames, boletins, registros de penalidades, matrículas de alunos, termos de colação de grau, livros de pontos, registros contábeis e outros materiais de interesse histórico, enumera Evaldo.
Entre os papéis há o registro de matrícula do escritor Ariano Suassuna (1927-2014) na segunda série. E também uma cópia da peça Antígona, que ele iria encenar na escola, como ex-aluno, e foi censurada pela Secretaria de Segurança Pública com o argumento de que o enredo poderia ofender a moral pública e as instituições. O termo de censura, datado de 12 de novembro de 1954, faz parte do acervo repassado ao arquivo.
“Tudo isso vai se somar a outros documentos do Ginásio existentes no nosso acervo”, diz Evaldo Costa. Ele cita plantas do projeto de construção do colégio, fundado em 1º de setembro de 1825. “Antes de abrir a documentação ao público, vamos catalogar e dar um tratamento arquivístico.”
Parentes de Ariano Suassuna e do jornalista e professor Aníbal Fernandes (1894-1962), ex-aluno do GP, foram convidados para a solenidade desta quinta-feira (30). O Arquivo Público tem 70 anos de existência.