Habitação

Comunidade Escorregou tá Dentro continua à espera da moradia prometida

Localizada em Afogados, na Zona Oeste do Recife, a comunidade Escorregou tá Dentro ocupa as margens do Canal do ABC

Da Editoria Cidades
Cadastrado por
Da Editoria Cidades
Publicado em 13/09/2016 às 8:08
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Localizada em Afogados, na Zona Oeste do Recife, a comunidade Escorregou tá Dentro ocupa as margens do Canal do ABC - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Leitura:

Eduarda Nascimento da Silva tinha 12 anos em 2009 e morava com a mãe na comunidade Escorregou tá Dentro, em Afogados, bairro da Zona Oeste do Recife, quando anunciaram a construção de um conjunto habitacional para transferir as famílias, precariamente instaladas às margens do Canal do ABC. Sete anos depois, morando na mesma favela, com a filha de 3 anos, ela continua esperado a mudança para o residencial.

O habitacional prometido foi projetado com seis prédios do tipo caixão (térreo mais três andares) e 96 apartamentos de 42,72 metros quadrados cada. Fica na Avenida Maurício de Nassau, no Cordeiro, bairro da Zona Oeste, e tem a obra financiada pelo Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social. Mas o serviço está suspenso. E nenhum morador de Escorregou tá Dentro sabe a razão.

“Tenho esperanças de sair um dia e ter uma vida melhor. Aqui não é lugar de se morar. A gente corre o risco de cair no canal e ser picada por um bicho. Quando o canal transborda a água entra nas nossas casas. Não há uma moradia sem rato, por mais que se bote veneno”, declara Eduarda. Aos 19 anos, a jovem divide a casa com a irmã mais velha. A mãe se mudou.

Para evitar acidentes, moradores alargaram a calçada estreita na frente das residências (na verdade, a borda do canal) com passarelas de tábua. Quando a família aumenta, a solução é construir mais um pavimento sobre a casa. “Pretendemos fazer o primeiro andar, porque meu irmão está pensando em voltar. A vida aqui é assim, é a gente pela gente mesmo”, declara Eduarda.

ESQUECIDOS

Vizinha da jovem e moradora da comunidade há 25 anos, Maria Tereza da Conceição, 60, caiu duas vezes dentro do canal. “Nada aqui presta, pelo canal passam rato, cobra, jacaré e gente morta”, diz Maria Tereza. “Eu queria sair o mais rápido possível para o apartamento, mas desde que cheguei só escuto promessa”, lamenta.

Escorregou tá Dentro só é lembrada em tempos de campanha eleitoral, comenta Maria Tereza. “Entra tudo que é candidato na comunidade, atrás de voto. A gente fala, fala, fala e parece que a conversa entra por um ouvido e sai pelo outro. Nada acontece depois.” Ela disse que visitou o habitacional no Cordeiro e se deparou com a obra paralisada.

Maria José da Silva Ribeiro, 65, também esteve no Cordeiro e não viu movimentação de operários. “Não há previsão de transferência, todo ano empurram a data para o outro ano”, declara. Maria José criou sete filhos em Escorregou tá Dentro e agora mora com dois netos. “Qualquer melhoria quem faz é a gente, se tiver um trocadinho. Nenhum prefeito faz nada pela comunidade”, ressalta.

Apontando o Canal do ABC cheio de lixo, ela afirma que vive nessa situação por necessidade. “Não posso pagar aluguel, nem aposentada eu sou, meus filhos me sustentam. Pelo visto, eu morro e não saio desse lugar. Vou daqui direto para o cemitério”, desabafa.

GOVERNO

O convênio para o repasse da verba, pela Caixa Econômica Federal, foi assinado em 11 de dezembro de 2009. Os R$ 6.958.103,57 iniciais foram atualizados para R$ 7.037.358,58. De acordo com a Secretaria de Habitação do Estado, responsável pelo empreendimento, a obra teve início em 5 de dezembro de 2012 e o percentual de execução é de 67%.

Em março de 2015, a secretaria informou que o habitacional estaria pronto em setembro daquele mesmo ano. Agora, disse que serão necessários mais oito meses de trabalho, “após a retomada do ritmo normal” da obra. Só não disse quando o ritmo volta ao normal.

Últimas notícias