Vítima do descaso público durante grande parte de sua história, a comunidade pesqueira da Ilha de Deus, na Imbiribeira, Zona Sul da capital, entra em 2017 totalmente repaginada. Em funcionamento há uma semana, os novos espaços de convivência criados pela parceria entre a empresa de telefonia Vivo e a Prefeitura do Recife transformaram a rotina de muitos moradores da vila pesqueira. Além das mudanças promovidas pelo projeto Vivo a Praça, a entrada da ilha para o roteiro turístico da cidade deve dar visibilidade e aumentar o potencial da economia local, baseada na criação de sururu e marisco.
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Quem visita a comunidade vê um cenário muito diferente daquele de 2007, quando teve início o projeto de urbanização da ilha, até então ocupada por palafitas. Nos dias 10 e 11 de dezembro, um mutirão envolveu cerca de 250 voluntários e transformou locais vazios em espaços de convivência e de lazer. São três praças com brinquedos e equipamentos de ginástica, uma ciclofaixa, uma horta comunitária, mais espaço para leitura e vários canteiros e jardins. Mudanças pequenas que fazem toda a diferença no dia a dia da população.
É o caso da pescadora Paula Francisca dos Reis. Dos 30 anos de vida, 20 foram vividos na comunidade. Foi na ilha que os dois filhos de Paula, de 8 e 11 anos, nasceram e cresceram. Hoje, enquanto trabalha, pode supervisionar os pequenos brincando no parquinho e andando de bicicleta na ciclofaixa que passa em frente a sua casa. Paula mora nas proximidades da nova horta comunitária e já consome em casa frutos colhidos nos canteiros. “Por enquanto, só peguei maracujá. A horta e a pracinha foram as mudanças de que mais gostei.”
O espaço para as crianças também foi aprovado pelo pescador Williams Maciel. “Quando urbanizou a ilha, o governo não havia pensado em nada para as crianças e há muitas aqui na comunidade. Todos os pais gostaram da iniciativa, porque agora os filhos têm onde brincar”, comemora. O filho Adrian, de 5 anos, também aprovou as mudanças. O brinquedo favorito é o balanço de uma das praças, ao lado do local onde o pai trabalha.
A Vivo já levou o projeto para outras 13 cidades do Brasil, sendo Recife a quarta do Nordeste. Para a diretora de Sustentabilidade da empresa, Joanes Ribas, a iniciativa promove o empoderamento coletivo. “A partir do momento em que o cidadão realiza melhorias com as próprias mãos, passa a se apropriar do ambiente e cuidar dele ciente de que também é seu. Isso torna o projeto permanente e sustentável.”
Habitada por duas mil pessoas, a Ilha de Deus começou a ser ocupada na década de 1920 do século passado. Desde o surgimento, a comunidade sempre foi cenário de problemas sociais e da ausência de políticas e serviços públicos básicos, como saneamento, saúde, educação e segurança. Da miséria e abandono, surgiu o apelido “Ilha sem Deus”. Até 2007, quando o então governador Eduardo Campos escolheu a comunidade para receber o primeiro projeto de urbanização de sua gestão, os moradores da ilha, em sua maioria pescadores e catadores, viviam em barracos sobre estacas no mangue. “Quem vê como era, acha uma maravilha hoje”, diz a marisqueira Francicleide Ferreira, 30, que vive na comunidade desde que nasceu.
TURISMO
Localizada no Parque dos Manguezais, na reserva estuarina da Bacia do Pina, e cercada por três rios – Pina, Tejipió e Jordão –, a ilha entrou na temporada de férias como parte do roteiro turístico do Recife.
Desde setembro, o local é rota de um passeio de catamarã promovido pela Catamaran Tours, em parceria com a ONG Saber Viver, que atua há 30 anos na comunidade. A procura, segundo a presidente da empresa, Juliana Britto, tem sido satisfatória. “Já tivemos que fazer passeios extras para escolas. A própria ONG promove passeios no local, mas o melhor jeito de chegar até a ilha é de catamarã”, argumenta. A ligação da ilha com o continente é feita por uma ponte estreita de concreto, com passagem para um único carro, nas proximidades da Estação Imbiribeira da Linha Sul do metrô.
“É muito interessante ver o dia a dia do pescador. São famílias inteiras envolvidas com a atividade. Os visitantes têm a oportunidade de conhecer o trabalho da ONG e ver as hortas suspensas, reciclagem e artesanato”, afirma Juliana. O passeio acontece aos sábados, às 10h, e pode ser agendado pelos telefones (81) 34242845 e 99734077, ou pelo site www.catamarantours.com.br.