Contando com muito pouco além do próprio esforço, a comunidade da Ilha de Deus, Zona Sul do Recife, está descobrindo uma nova vocação econômica. Há pouco mais de um ano, o hostel que leva o nome do local atrai turistas estrangeiros que se propõem a conhecer a cidade em troca de trabalho comunitário. Além da experiência humana, os visitantes podem desfrutar de uma vista privilegiada da capital pernambucana, cercada por rios e mangue. Até hoje a ilha habitada por cerca de 2 mil moradores sobrevive basicamente da pesca de mariscos.
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A maior parte dos turistas chega através de ONGs que fazem parceria com a entidade não governamental que criou o hostel, a Saber Viver, que trabalha na comunidade desde 1999. “Não tinha planos do que iria fazer neste momento. Até que fiquei sabendo de um programa para realizar o trabalho voluntário no Brasil”, conta a alemã Hannah Porada, 23 anos, formada em ciências políticas e econômicas. Há quase um mês na ilha, seu objetivo é ficar por três meses e ajudar a estruturar o projeto turístico do local em troca da hospedagem. O projeto será feito junto com a colega Sofia Goossen, 28, que está fazendo intercâmbio na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O valor da diária varia de acordo com o que for acordado entre as instituições, as refeições inclusas e o tipo de trabalho voluntário. O valor base é de R$ 30. A casa tem capacidade para receber até 50 pessoas e oferece quartos com ar-condicionado, cozinha com equipamentos industriais, áreas de convívio e uma horta orgânica de uso comum. O único acesso à ilha é pelo bairro da Imbiribeira, próximo à estação de metrô.
COLABORAÇÃO
Para colaborar com o projeto, os turistas voluntários participam como podem. “Eles dão cursos de línguas e artesanato, aula de reforço ou música para as crianças da comunidade, por exemplo. A ideia é trabalhar o turismo de base comunitária”, explica a administradora do hostel, Paula Chacon, 28. Ela é um dos 20 voluntários que atuam no local e nos outros projetos da ONG na ilha, que acabam se complementando e se misturando.
A única fonte de renda fixa da ONG vem da instituição alemã Aktionskreis Peter Beda, direcionada para o projeto Semear e Colher, voltado para a educação ambiental e recuperação do mangue. O restante do trabalho é realizado com o apoio de outras organizações ou de iniciativas como a aceleradora de ONGs Porto Social.
“A mudança não é uma coisa que vai ser, já está acontecendo. O que estamos construindo vai ser modelo para outras comunidades se desenvolverem”, afirma o condutor turístico Josuel Oliveira, 41, integrante da comunidade desde a infância. Ao longo de sua vida, viu a área deixar a realidade de isolamento e violência para se transformar em um local urbanizado, pacato e, agora, turístico.