A obra de restauração do Edifício Ulysses Pernambucano vai devolver ao Recife um novo Cinema da Fundação, no Derby, bairro da área central da cidade. E não só pelas janelas reabertas para o Rio Capibaribe e para o pátio interno, como já havia sido anunciado. A sala voltará a exibir as pinturas coloridas que decoravam as paredes e estavam escondidas debaixo de camadas de tinta.
Três motivos diferentes de desenhos, com figuras geométricas típicas da influência art déco na arquitetura, apareceram no decorrer da obra, informa Vitória Régia Andrade, responsável pelo projeto arquitetônico de restauração do imóvel. “Identificamos uma pintura azul proto-racionalista (pré-moderna) que se repete nas paredes laterais e por cima dela há uma pintura artística no estilo marajoara, com tonalidade diferente”, diz.
Não está decidido, ainda, se os dois trabalhos serão restaurados e mantidos ou se apenas um deles permanecerá. A terceira pintura, também marajoara, mas com cores distintas, ilustra o fundo da sala. Durante a exibição dos filmes, as paredes ficarão cobertas por cortinas, que se abrirão no encerramento da sessão para deixar os desenhos à mostra, revela a arquiteta.
Janelas intercaladas entre as pinturas, que haviam sido fechadas em reformas anteriores, foram novamente abertas para permitir a integração do prédio com o Capibaribe. “Essa é uma obra mais de demolição, estamos refazendo a circulação interna do prédio, abrindo vãos fechados para conectar os ambientes e tirando forros rebaixados para resgatar o pé direito (distância entre piso e teto) alto das salas.”
O cinema, no primeiro pavimento, terá uma porta lateral que levará a uma marquise alargada. “É um corredor para as pessoas circularem em volta do pátio interno”, diz a arquiteta. A galeria Vicente do Rego Monteiro, no térreo, foi ampliada e vai se comunicar com o auditório no primeiro piso por escada e elevador. Uma segunda sala de cinema, menor, está sendo preparada para filmes de arte.
ORIGENS
Quando reabrir ao público a edificação terá o hall de entrada pintado na cor primitiva, verde musgo marmorizado, descoberta sob 23 camadas de tinta. Os vitrais do alemão Heinrich Moser (1886-1947), que fazem alusão às artes e ofícios vinculados à origem industrial do prédio, estarão recuperados. Uma escada em formato de serrote – referência à escola de artífices do passado – foi instalada para servir como opção de descida do cinema.
O visitante poderá entrar no edifício pela Rua Henrique Dias ou pelo acesso lateral, margeando o rio. O caminho será organizado, terá um cais para contemplação das águas do Capibaribe e bicicletário, avisa Vitória Régia Andrade, coordenadora da empresa Cardus Arquitetura.
Construção art déco da década de 1930 com acréscimos nos anos 50, o Edifício Ulysses Pernambucano é uma das primeiras edificações de concreto armado do Recife, destaca Vitória Andrade. O cinema suspendeu as atividades no fim de 2015, a obra teve início em janeiro de 2016 e deverá se estender até outubro de 2017.
ESCOLA
De acordo com o presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Luiz Otávio Cavalcanti, o edifício reabrirá como um equipamento cultural e educacional. No térreo funcionarão a biblioteca, a galeria de arte, a livraria e a recepção. “A sala principal desse pavimento, para estudos e palestras, terá o nome do professor e geógrafo Manoel Correia de Andrade (1922-2007)”, declara Luiz Otávio Cavalcanti. O homenageado foi diretor do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (Cehibra) da fundação.
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O segundo pavimento abrigará a Escola de Governo e Políticas Públicas da Fundação Joaquim Nabuco, com cinco salas, para alunos de pós-graduação na área de educação e cursos de curta duração destinado a gestores educacionais. “Nós já temos dois cursos de pós-graduação, que serão transferidos para o prédio do Derby e à medida que a escola for se consolidando, vamos avaliando o mercado e podemos ampliar o leque de ofertas.”
Ele acrescenta que a biblioteca atenderá alunos da Escola de Governo e estudantes de colégios e cursinhos do bairro e da vizinhança. O café ao lado do cinema, diz Luiz Otávio, retorna como um ponto de encontro do Recife. “A sala, com capacidade para cem lugares, volta com o conforto de sempre e a tecnologia mais moderna da cinematografia local”, reforça.
Financiada pelo Ministério da Educação, a obra custa R$ 5 milhões. “Estamos estimulando o polo cultural do Derby”, complementa Vitória Régia Andrade. A ideia, diz ela, é integrar o Edifício Ulysses Pernambucano à seccional pernambucana do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE) e à Escola da Polícia Militar de Pernambuco, para formar um conjunto urbano.