Urbanismo

Protesto no Capibaribe chama a atenção para o descaso com o rio

Intervenção no Capibaribe foi realizada pelo Coletivo Urbes e é um alerta para descarte de lixo, despejo de corpos humanos e de animais e para as moradias em palafitas

Da Editoria Cidades
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Publicado em 11/04/2017 às 8:08
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Durante quatro dias – de sexta-feira (7) até segunda-feira (10) – 300 bonecos amarrados em plásticos boiaram no Capibaribe, nas imediações da Ponte Maurício de Nassau, que liga o Bairro do Recife ao bairro de Santo Antônio, no Centro da capital pernambucana. A curiosa intervenção era uma forma de chamar a atenção da sociedade e dos governos para o descaso com o rio, transformado em depósito de lixo e de esgoto, usado para o descarte de corpos humanos e de animais e que tem parte de suas margens ocupadas por palafitas onde vivem famílias pobres.


“As pessoas passam indiferentes pelo saco de bonecos no rio, da mesma maneira que são indiferentes a quase tudo o que acontece no Capibaribe”, observa o arquiteto César Barros, um dos integrantes do Coletivo Urbes, responsável pelo protesto silencioso no Rio Capibaribe. Criado há dois anos e meio, o Coletivo Urbes se reúne semanalmente para discutir problemas urbanísticos, propor ações e fazer intervenções lúdicas com o objetivo de alertar para uma temática da cidade.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Palafitas sobre o rio entre as Pontes Paulo Guerra e Agamenon Magalhães, no Pina, Zona Sul do Recife - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Comunidade entre as Pontes Paulo Guerra e Agamenon Magalhães, no Pina, no Recife, está aumentando - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Famílias que vivem em palafitas no Pina cobram da Prefeitura do Recife uma solução habitacional - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Moradores de palafitas entre as Pontes Paulo Guerra e Agamenon Magalhães, no Pina, vivem da pesca - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Bebê morreu afogado ao cair de palafita entre as Pontes Agamenon Magalhães e Paulo Guerra, no Pina - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

 


A invisibilidade dos bonecos flutuando no rio é semelhante à vida dos moradores das palafitas do Capibaribe. “Uma criança caiu da palafita e morreu afogada. Depois do acidente ninguém apareceu aqui nem para fazer promessa”, afirma Jéssica Carla, que vive na comunidade, entre as Pontes Paulo Guerra e Agamenon Magalhães, no Pina, Zona Sul do Recife. “Estamos entregues às baratas”, diz Ester Gomes da Silva, tia de Michael Marlisson, o bebê vítima da tragédia, em fevereiro de 2017.


Cerca de 150 famílias moram na comunidade, que tem as ruas internas feitas de tábuas soltas e esburacadas. “Esses caminhos são perigosos, é comum as pessoas caíram. O pior é que a água, debaixo das tábuas, é cheia de lixo, tem tubo de televisão, pedaços de pau, bacias de banheiro quebradas. Dependendo de onde se cai, o estrago é grande”, acrescenta a moradora Lucineide Maria.


Assim como o lixo flutua debaixo das palafitas do Capibaribe, sem protestos por parte da população, o saco de bonecos lançados no rio pelo Coletivo Urbes também não causou embaraços. “Não dá para saber que são bonecos, olhei porque achei curioso aquilo boiando na água”, comenta o portuário aposentado Heleno Martins da Silva. “Pensei que fosse alguma coisa para segura rede de pesca, tipo uma boia”, diz a dona de casa Adriana Maria do Nascimento.

PROPOSTAS


A proposta do Coletivo Urbes é montar uma exposição de fotos e vídeos com as intervenções realizadas – esse é o terceiro ato – e expor no próximo mês de maio. A primeira ação foi na Rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife, para destacar um prédio histórico deteriorado.


De acordo com a Secretaria Executiva de Habitação do Recife, 160 apartamentos para moradores de palafitas do Capibaribe foram entregues em 2016, no bairro de São José, no Centro. Mais três conjuntos residenciais, totalizando 672 unidades, foram iniciados há anos na área central da cidade. Dois deles tiveram as obras suspensas.

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