Patrimônio

Fundaj pede proteção para dois prédios antigos e quatro modernistas

O pedido da Fundaj, para edificações do Câmpus Anísio Teixeira, no Recife, foi encaminhado à Fundarpe

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 15/04/2017 às 22:22
Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
O pedido da Fundaj, para edificações do Câmpus Anísio Teixeira, no Recife, foi encaminhado à Fundarpe - FOTO: Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Na Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) há 44 pedidos para tombamento de prédios públicos e particulares aguardando exame técnico. O processo mais recente chegou no fim de março de 2017 à gerência de Preservação Cultural e prevê a proteção de um conjunto de seis imóveis de propriedade da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), localizados em Apipucos, bairro da Zona Norte do Recife.


Apresentada pela Fundaj no mês passado, a proposta recai sobre duas edificações do século 19 e quatro do século 20 que compõem o Câmpus Anísio Teixeira. As casas antigas do classicismo imperial recifense (ecletismo) e os prédios modernos convivem de forma harmoniosa no terreno. “As construções mais recentes não agridem e não aparecem mais do que as velhas”, observa o arquiteto Cristiano Borba.


E é com base nessa integração que ele defende o tombamento dos prédios. “Numa época em que não havia instrumentos de proteção como os Imóveis Especiais de Preservação (IEP) da Prefeitura do Recife e a arquitetura eclética não era tão valorizada entre os arquitetos modernistas, a solução adotada no câmpus é louvável”, diz Cristiano Borba, chefe da Divisão de Difusão de Acervos Digitais da Fundaj.


A Fundaj pede o tombamento do casarão Delmiro Gouveia (Villa Annunciada, antiga residência do industrial Delmiro Gouveia, 1863-1917), dos edifícios Jorge Tasso (1885), Renato Carneiro Campos, Dirceu Pessoa e Antiógenes Chaves, além do auditório Roquette Pinto que fica por baixo do Renato Carneiro Campos.


O Edifício Antiógenes Chaves foi construído na década de 1980 para abrigar o núcleo de processamento de dados da fundação, com projeto do arquiteto Wandenkolk Tinoco. Na mesma época, ele fez o projeto de reforma do Edifício Dirceu Pessoa, onde funciona a biblioteca. Originalmente erguido com dois pavimentos, nos anos 60, o Dirceu foi ampliado e hoje tem cinco andares.


“Se você vai fazer uma intervenção num terreno onde já existe um edifício com dignidade, é preciso respeitá-lo. A peça nova deve se integrar à antiga e não competir com ela, é o respeito com neutralidade, segui esse critério”, declara Wandenkolk Tinoco. Ele disse que participou de concurso, ganhou e foi selecionado para fazer os dois projetos.


Construídos na década de 1960, o Edifício Renato Carneiro Campos e o auditório Roquette Pinto foram projetados pelo arquiteto Luiz Acioli, hoje radicado no Rio de Janeiro. O prédio funcionava como escola experimental de um programa educacional do governo federal de iniciativa do educador e jurista Anísio Teixeira (1900-1971). Depois foi incorporado à Fundaj.  “O desenho do Renato Carneiro Campos, com vigas sem apoio nas pontas, formando o maior vão em balanço, na época, era uma ousadia”, diz Cristiano Borba.


Tanto o Renato Carneiro Campos – hoje ocupado por sala de pesquisadores – quanto o auditório, desativado, serão restaurados pela Fundaj. Na avaliação de Cristiano Borba, o tombamento definitivo de prédios erguidos no passado recente será um marco. “Vai criar prerrogativa para a proteção de outras edificações novas”, crê.

ANÁLISES


Célia Campos, gerente de preservação da Fundarpe, informa que o processo será instaurado e depois tem início o exame técnico, que consiste no levantamento histórico dos prédios, e na análise física das edificações. “Não temos prazo definido para esse trabalho”, informa. Até a decisão final do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural fica assegurada aos imóveis a mesma proteção dada a bens já tombados. Isso significa que não podem ser descaracterizados.


Pedidos de tombamento podem ser feitos por qualquer cidadão ou instituição. A solicitação, com uma justificativa, é levada ao secretário estadual de Cultura, que pode acatar ou não. “Embora não seja exigido por lei, o secretário consulta a equipe técnica antes de decidir”, acrescenta a presidente da Fundarpe, Márcia Souto.


“A Fundarpe analisa o valor histórico e arquitetônico do imóvel, mas não faz tombamento”, esclarece Célia Campos. “O tombamento é feito pelo governo do Estado, quando o processo é aprovado pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural.”

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