José Roberto da Silva estava visivelmente incomodado. Na hora da assinatura, se emocionou. Dor e sofrimento estampados no rosto. O acordo de reparação pela morte de Edvaldo da Silva Alves, assinado nesta sexta-feira (16), foi um passo necessário. Mas, nem por isso, menos doloroso. Desde a morte do irmão, assassinado por policiais militares durante protesto na cidade de Itambé, José Roberto tem sido um guerreiro. Era esperada a presença da mãe e do pai de Edvaldo na formalização do contrato, mas eles não tiveram condições emocionais de viajar. “Ela continua arrasada. É uma dor que não passa. A gente sabe que é preciso ser forte, mas para ela, que perdeu o filho, é difícil demais”, diz Roberto.
O acordo prevê indenização por danos morais e pagamento de pensão aos pais do jovem por danos materiais. Os valores não serão divulgados. O documento foi assinado no Tabelionato Figueiredo, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife, pelo procurador-geral do Estado, César Caúla, o advogado da família, Ronaldo Jordão, e José Roberto. As assinaturas dos pais e da irmã de Edvaldo serão colhidas no cartório, em Itambé. Por ser uma negociação extrajudicial, não cabe recurso. Na próxima semana, o acordo será publicado no Diário Oficial e, a partir desta data, o Estado tem prazo de até 30 dias para pagar os valores.
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“É um acordo inédito em Pernambuco. Com certeza, a gente economizou uma década de disputa judicial com essa negociação”, afirmou César Caúla. Ele disse que a decisão de agilizar o processo de negociação da indenização foi uma orientação do governador Paulo Câmara. “Em face das circunstâncias específicas do fato, ele determinou que procurássemos a família para dialogar sobre uma reparação relacionada à morte de Edvaldo”, declarou. Caúla afirmou que se procurou dar a devida reparação civil em respeito à situação, embora reconheça que “nada substitui o ente querido perdido”.
Em relação à indenização, José Roberto confirmou que a família pretende usar parte dos recursos para a criação de um memorial em Itambé, em homenagem a “Pretinho”, como Edvaldo era conhecido por parentes e amigos. Ele morreu em 11 de abril deste ano, após passar quase um mês internado.
JÚRI POPULAR
A formalização do acordo não interfere nos processos disciplinar e judicial que apuram as responsabilidades dos policiais militares envolvidos no caso. Na última terça-feira, o Ministério Público de Pernambuco denunciou por homicídio doloso, quando há intenção ou risco de matar, o capitão Ramon Tadeu Silva Cazé, que ordenou o disparo, e o soldado Ivaldo Batista de Souza Júnior, autor do tiro. Se a denúncia for acatada pela Justiça, os PMs deverão ir a júri popular.