Patrimônio

Delfim Amorim: um legado modernista para o Recife

O português Delfim Amorim, que deixou soluções inovadoras para a arquitetura da cidade, faria 100 anos em 2017

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 09/07/2017 às 8:08
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
O português Delfim Amorim, que deixou soluções inovadoras para a arquitetura da cidade, faria 100 anos em 2017 - FOTO: Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Português de nascimento e influente arquiteto modernista no Recife, Delfim Fernandes Amorim (1917-1972) teria completado 100 anos em 2 de abril de 2017. O nome pode até não ser familiar, mas certamente você já viu alguma obra dele. Delfim Amorim é o homem que projetou os Edifícios Acaiaca, ponto de referência na Avenida Boa Viagem, na Zona Sul; e Pirapama, na frenética Avenida Conde da Boa Vista, no Centro.

“Ele era um investigador, não tinha restrições de experimentar novos materiais e de desenvolver novas linguagens arquitetônicas, era um inventor”, define Luiz Amorim, arquiteto, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e filho caçula de Delfim Amorim. O peitoril ventilado, que em dias chuvosos permite a ventilação sem deixar a chuva entrar no imóvel; e a telha canal sobre a laje, para reduzir o calor no interior da edificação, são invenções do arquiteto, que atuou no Recife de 1952 a 1972.

A telha canal cobrindo a laje, com uma leve inclinação da coberta, acabou virando uma técnica construtiva, afirma Luiz Amorim. “Foi uma solução que nasceu erudita e se tornou popular. Ele não chegou a ver isso, mas teria ficado satisfeito”, observa. O Edifício Acaiaca, projetado em 1957 com a colaboração do arquiteto Lúcio Estelita, tem todos os cômodos voltados para o mar e é refrescado pelo peitoril ventilado abaixo das janelas.

Delfim Amorim, o arquiteto que equilibrava soluções inovadoras com as tradições locais, costumava incluir nos projetos fachadas revestidas de azulejos, com desenhos que ele criava. E a função não é apenas estética. O ladrilho protege as paredes do sol, do vento e da chuva, além de reduzir o calor do exterior para o interior do prédio, explica Luiz Amorim. No Acaiaca, ele usou o azulejo em larga escala pela primeira vez. E repetiu o experimento nos Edifícios Independência (Rua Sete de Setembro) e Barão do Rio Branco (Rua do Giriquiti), na Boa Vista.

ALUNOS

“Foi um dos melhores arquitetos que passou pelo Estado de Pernambuco, dono de uma inquietação que o fez um visionário em seus projetos”, afirma Wandenkolk Tinoco, arquiteto, professor aposentado da UFPE, ex-aluno de Delfim Amorim na Escola de Belas Artes (antes da Faculdade de Arquitetura, fundada em 1958, o curso era ligado às Belas Artes) e assistente do mestre por mais de 15 anos na federal.

Geraldo Santana, ex-aluno e ex-estagiário de Delfim Amorim, recorda as aulas práticas nas obras em construção. “Como professor, ele era duro e exigente, engraçado e bem humorado. Fez muitas casas no Recife e a maioria desapareceu, demolidas e substituídas por edifícios”, lamenta. “A maior importância de Delfim não é a arquitetura que ele fez, são os alunos que ele formou. Ele e Acácio Gil Borsói (1924-2009), que também não é pernambucano, era carioca e viveu no Recife”, destaca Geraldo Santana, professor aposentado da UFPE.

“Fui aluno dele por dois anos e seu assistente depois de formado. Delfim criava novas concepções nos projetos para o melhor aproveitamento da ventilação. Veio para cá porque a situação política em Portugal não era favorável a ele nos anos 50”, acrescenta o professor aposentado do curso de arquitetura da UFPE Zildo Caldas.

EXPOSIÇÃO

O Edifício Santa Rita, na Conde da Boa Vista, é mais uma das obras de Delfim Amorim espalhadas pela cidade. Projetado em 1962, previa a construção de área para instalação de aparelhos de ar condicionado. Quase todas as obras do arquiteto foram descaracterizadas, diz Luiz Amorim, que mora no Barão do Rio Branco, uma das criações de Delfim, e está organizando exposições em homenagem ao centenário de nascimento do pai.

As comemorações foram abertas com a mostra Delfim Amorim em Casa, sobre a produção portuguesa, que ficou em cartaz até 31 de maio de 2017 na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, em Póvoa de Varzim, onde ele nasceu. Luiz Amorim vai organizar outra exposição, no Recife, com a produção brasileira, para ser inaugurada em novembro. A ideia é juntar as duas mostras e encerrar os eventos comemorativos em abril de 2018. A quantidade de prédios projetados é incerta. São centenas. “Ele não era bom arquivista.”

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