Urbanismo

Ferrovia continua servindo de moradia para famílias carentes no Recife

Sem dinheiro para pagar aluguel, homens e mulheres ocupam as margens da ferrovia na área central e na Zona Sul da cidade

Da Editoria Cidades
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Publicado em 15/08/2017 às 10:15
Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Geciane Timóteo da Silva, 33 anos, trocou de endereço há dois meses. Ela deixou para trás uma casa alugada por R$ 300 numa invasão no bairro de São José, área central do Recife, e agora tem uma casa própria em outra ocupação, às margens da ferrovia, na mesma região. “Eu sempre quis o melhor para os meus filhos e o melhor que eu posso dar a eles é isso aqui”, declara Geciane Timóteo, ao apresentar a nova moradia.

A casa sem divisórias, quase sem móveis e feita de tábuas, fica entre a Avenida Sul e os trilhos do trem, numa ocupação próxima ao Cais José Estelita, a área do projeto Novo Recife, que prevê construção de prédios residenciais e empresariais de frente para a Bacia do Pina. “Meu marido comprou o barraco por R$ 2 mil. A patroa dele emprestou o dinheiro e ele paga em parcelas de R$ 150, descontando do salário”, informa Geciane Timóteo.

Quando pagava aluguel, diz ela, a situação era muito pior porque não sobrava dinheiro nem para comprar o gás nem para o remédio dos filhos. “O meu sonho é fazer uma casa de alvenaria, mas não tenho do que reclamar. Aqui é tudo no aperto, mas a gente se encaixa e todo mundo é feliz”, A família – marido, mulher e seis filhos – vive com pouco mais de R$ 900 mensais, da venda de material reciclável e do programa Bolsa-Família.

Vigilante desempregado há um mês, Renato Severino da Silva, 63, comprou uma casa de alvenaria na ocupação ao lado da ferrovia, três anos atrás, por R$ 3 mil. “Daqui só saio para um lugar melhor”, diz o idoso, que vivia em Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife, e mudou-se depois de se separar da mulher. Ivoneide Maria Santos Melo, 32, morava de aluguel no Pina, também na Zona Sul, e migrou para uma casa de tábuas na invasão por falta de dinheiro.

Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
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Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
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“Tenho quatro filhos e recebo R$ 230 por mês do Bolsa-Família, não tenho como pagar aluguel. Por isso vim para cá e fiz a casa”, afirma Ivoneide. Como a moradia é irregular, não há fornecimento de água e de energia elétrica. “A gente puxa da rua”, diz. As famílias gostariam de ter os dois serviços legalizados e um posto de saúde mais próximo. “Vamos ao posto dos Coelhos porque o da Cabanga se recusa a nos atender”, ressalta Geciane.

Morador da ocupação da ferrovia Avenida Sul há um ano e dois meses, o chapeiro de lanchonete desempregado Petrúcio Barros da Silva Júnior, 40, cobra da prefeitura e do governo do Estado uma política habitacional para os pobres. “É um absurdo a gente observar prédio com obra parada, como aquele na frente do Fórum (Ilha Joana Bezerra) e viver aqui dessa forma precária, sem higiene, sem água encanada”, lamenta.

“Não recebemos ajuda. Pego comida no lixo, em Afogados, e peço dinheiro em sinal de trânsito”, acrescenta Bruna Silva, 20. Casada e mãe de uma menina, ela vive no local há quatro anos.

JUSTIÇA

As áreas ocupadas da linha férrea no trecho da Avenida Sul, no bairro de São José, e por trás do muro do Aeroporto Internacional do Recife, no bairro do Ibura, pertencem à União e são exploradas pela Ferrovia Transnordestina Logística (FTL). Por meio da assessoria de imprensa, a empresa informa que “está tomando todas as medidas cabíveis, inclusive judiciais, em defesa do interesse público e com o objetivo de preservar o patrimônio arrendado nas localidades.”

Concessionária do serviço público de transporte ferroviário de cargas, a FTL diz que tem a obrigação de evitar a moradia ilegal nos dois lugares. Esses espaços, por segurança, não deveriam receber nenhum tipo de construção, alerta a empresa. “A rede ferroviária fala que vai tirar a gente daqui e faz fotos das casas, mas até agora não tirou ninguém”, comenta Maria Timóteo da Silva, 47, moradora das margens dos trilhos no Ibura, bairro da Zona Sul.

Segundo ela, há uma ocupação mais antiga, iniciada há mais de 20 anos, e outra mais nova, com cerca de seis anos. As famílias puxam água e luz de um supermercado desativado na Avenida Recife. “Não temos ajuda nenhuma”, diz Maria Timóteo. “Somos abandonados, estou pedindo esmola para comer”, afirma Paulo Antônio Xavier, morador das margens da ferrovia há mais de cinco anos. Ele tem sequelas de AVC há quatro anos e não consegue se aposentar.

O medo de ser despejado ronda as famílias das duas ocupações. “Durmo e acordo pensando que um dia essa ordem de despejo vai chegar, não tenho outro lugar para morar”, desabafa Geciane Timóteo, da ocupação da Avenida Sul. A FTL não utiliza a ferrovia para a circulação de trens.

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