Uma cidade devastada e ilhada no meio do Sertão de Pernambuco. Uma semana depois das fortes chuvas, Bodocó, a 640 quilômetros do Recife, permanece na luta para se reerguer. Mais de 30 moradores continuam desabrigados e todos enfrentam dificuldades para entrar e sair da cidade. Principal acesso, a ponte na PE-545, que faz a ligação com Ouricuri, está interditada e será demolida.
Na manhã de ontem ainda havia moradores, como Maria de Lourdes da Conceição, 42 anos, tirando a lama de casa. “A água chegou com uma violência tão grande que não conseguimos limpar tudo. Ela bateu mais de um metro na sala e saiu levando tudo. Só salvei um armário que ainda estou pagando”, contou, resignada, para depois cair no choro. “É muito triste você batalhar para ter suas coisinhas e ver tudo assim destruído”, lamentou.
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Em meio ao caos e alheias a ele, crianças brincavam de casinha com o resto de uma barraca de camping, arrodeadas de entulhos, em frente a residências destruídas. A avó de uma delas, Antônia Vieira de Araújo, 45, não se incomodava com a cena. “Pelo menos elas estão se divertindo, né? Melhor estar na rua porque dentro de casa tem mais lixo que fora”, disse.
A preocupação dela era com o outro neto, Jacó, 4 anos. O motivo foi logo identificado quando o garoto chegou. Com marcas de arranhões pelo corpo, principalmente no rosto, ele acenou tímido. “Ele foi arrastado pela água da correnteza e ficou preso em um bueiro. A água bateu no pescoço dele e ele doido pedindo ajuda. Só tá vivo hoje porque o bombeiro apareceu logo e resgatou”, explicou Antônia.
A poucos metros dali ainda encontramos 32 pessoas desabrigadas. A maioria estava alojada no Colégio Municipal Antônio Lócio da Cruz. Entre elas, uma renascida senhora de 98 anos. Sem conseguir andar na última década, devido a problemas de articulação, Josefa Alves exibia um sorriso da cadeira de rodas. Ela completou idade nova justamente na última sexta-feira, dia da enchente. “Era pra ser um dia de festa pra minha mãe, mas acabou sendo de tristeza. Tivemos muita dificuldade para tirá-la de casa, mas os vizinhos ajudaram. Então comemoramos o renascimento dela”, disse a filha Antônia Agra.
Socorro
Desabrigados ou não, moradores sofrem porque o acesso à cidade está prejudicado, dificultando a chegada de medicamentos, mantimentos e socorro. Segundo a Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco, a Ponte do Rio Pequi, interditada desde sexta, deverá dar lugar a uma ponte móvel. “Ela vai ter que ser demolida, será feita uma nova ponte. Ainda não se tem previsão. A documentação já foi enviada aos órgãos responsáveis e esta semana o Exército deve chegar para implantar uma ponte móvel”, informou o capitão Giovanni Lustosa, da Codecipe.
O prefeito Túlio Alves (DEM) destacou que a prioridade é agora restabelecer os acessos da cidade. “As pessoas estão solidárias e enviando ajuda, mas a situação está difícil até para receber. Torcemos para que o quanto antes essa ponte móvel seja instalada”, afirmou.