O crime entrou em sua vida ainda na adolescência. Na infância, viu o pai bêbado bater na mãe inúmeras vezes. Criado em uma comunidade pobre da Zona Norte do Recife, o jovem, hoje com 26 anos, acabou no mundo das drogas aos 15. Foi quando deixou de frequentar a escola para fazer uso de entorpecentes com os amigos. Não demorou para ingressar no tráfico e colecionar passagens pela polícia. Foi preso aos 19 anos por tráfico e, pouco depois, por homicídio e roubo. Ao todo, quase seis anos de cárcere. Uma vida que, para ele, poderia ter sido diferente caso tivesse apenas uma coisa: oportunidade.
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Pobre, longe das salas de aula e em situação de vulnerabilidade social. A combinação de fatores que levou o jovem ao crime ilustra a condição de milhões de crianças e jovens no Estado, de acordo com estudo da Fundação Abrinq, divulgado ontem. Pernambuco tem o quinto pior percentual de infância exposta à pobreza do Brasil: 60,5%. Segundo o panorama, a curva das famílias que recebem até meio salário mínimo no Estado voltou a crescer em 2014, mesma época em que os índices de violência começaram a aumentar.
A situação é refletida entre os jovens. Em 2013, foram 497 menores de 19 anos vítimas de homicídio. Três anos depois, o número subiu para 775. Desses, 655 morreram por arma de fogo. Para a administradora executiva da fundação, Heloisa Oliveira, há uma relação entre a pobreza das crianças e adolescentes do Nordeste com o crescente número de homicídios nas capitais da região. “Basta olhar quais são os adolescentes assassinados: pobres, que vivem nas regiões de periferias. As desigualdades sociais estão por trás das estatísticas de vulnerabilidade básica e também das estatísticas de violência. É uma relação íntima e direta entre todos os fatores de vulnerabilidade social que afetam a infância e a violência.”
O cenário é ainda mais preocupante porque 19% dos alunos com idades entre 15 e 17 anos anos estão fora das salas de aula, um total de 100.550 menores. “É na infância e na adolescência que os jovens em situação de vulnerabilidade social precisam saber que existem outros caminhos. Muitos têm exemplos de envolvimento com tráfico dentro da própria casa e acabam tendo isso como referência”, argumenta Adriana Eustáquio, coordenadora da ONG Oásis da Liberdade, que atua há mais de 20 anos com dependentes químicos. Atualmente, o trabalho de prevenção é feito com 70 crianças e adolescentes na sede localizada no bairro de Santo Amaro, área Central da capital. O ex-presidiário, recuperado há quase um ano e meio, concorda que o caminho é a educação. “Tenho certeza de que se tivesse estudado, teria uma vida diferente. É o que digo aos jovens: que estudem e busquem a sua fé, porque o tráfico quase acabou com a minha vida.”
ESTADO
Em Pernambuco, a responsabilidade de planejar, executar, coordenar e controlar políticas públicas voltadas para as áreas da assistência social, sistema socioeducativo, articulação social, pessoas com deficiência e combate às drogas é da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude. “Temos programas que nos auxiliam na garantia dos direitos desde a primeira infância. Um problema que tínhamos era o grande número de crianças sem registro, o que dificultava o planejamento das ações. De 12% conseguimos diminuir esse índice para 4,52%. Atuamos na educação infantil, no combate à violência e temos uma secretaria-executiva que trata sobre drogas”, explica Douglas Oliveira, gerente de política para a criança.