Sem controle

Presos continuam no comando do crime mesmo atrás das grades

Com uso de celular, detentos encomendam mortes, roubos, tráfico e todo tipo de crime

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 01/07/2018 às 8:14
Felipe Ribeiro/JC Imagem
Com uso de celular, detentos encomendam mortes, roubos, tráfico e todo tipo de crime - FOTO: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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Eles deveriam estar fora de ação. Mas, mesmo atrás das grades, muitos dos 31,1 mil detentos espalhados pelas 22 unidades prisionais e 55 cadeias de Pernambuco continuam matando, traficando, roubando e desafiando o Estado. Não estamos falando da prática bastante comum desses crimes dentro dos presídios. E sim daquelas ocorrências registradas diariamente pelas ruas dos mais diversos municípios, cujas “ordens de serviço” saíram dos espaços onde os presos deveriam estar sendo ressocializados.

Estado e Judiciário não apresentam estatísticas sobre detentos que continuam atuando de dentro dos presídios. Mas rotineiras operações qualificadas da Polícia Civil vêm apontando um intenso envolvimento de presos no crime organizado. “A tecnologia ajuda a polícia, e também ajuda os criminosos, que muitas vezes utilizam o celular para continuar praticando os delitos. Ainda há os mensageiros, nas visitas”, observa o diretor de Polícia Especializada da Polícia Civil, José Cláudio Nogueira.

O celular permitiu até que um detento acompanhasse, em tempo real, pelo menos um dos dez assassinatos que encomendou, segundo investigações do delegado Ivaldo Pereira. John Caetano Rodrigues, o Jones, que cumpria pena desde 2001 no Presídio de Limoeiro, liderava uma quadrilha que atuava no Ibura, na Zona Sul do Recife. Dos 30 mandados de prisão da Operação Miracles, realizada em abril, 13 eram contra presidiários liderados por ele.

Na década de 2000, Jones ficou bastante conhecido por comandar sequestros e tráfico de drogas na área de Vila dos Milagres, no Ibura, sendo considerado muito perigoso. A polícia já havia identificado sua participação na explosão do muro da Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, em 2016, para fuga de presos, mas nem assim ele foi impedido de praticar novos delitos. “Nosso papel é investigar e prender. Se for preciso fazer isso diversas vezes com a mesma pessoa, vamos continuar fazendo, não podemos nos cansar”, defende José Cláudio.

VIDAS MARCADAS

Os homicídios praticados pela quadrilha de Jones não são os únicos que poderiam ter sido evitados se os presídios cumprissem seu papel. Em janeiro, Ângela Maria da Conceição, 48 anos, a filha dela Rejane Gomes da Silva, 16, e a amiga Natali dos Santos Silva, 18, que estava grávida (uma outra mulher escapou), foram assassinadas a mando de Jurandir Francisco Xavier Júnior, conhecido como Júnior Box. Mesmo preso desde 2008, na Penitenciária Agroindustrial São João, em Itamaracá, ele continuava comandando o tráfico em Santo Amaro, segundo a Polícia Civil.

Em outubro, as operações Cerca Trova, Settanta e Novanta cumpriram 38 mandados de prisão em Paulista, no Grande Recife, desarticulando três quadrilhas que disputavam o tráfico na área. Os líderes (Vado, Teta e Juaninha) estavam presos há anos nos presídios de Igarassu e Limoeiro. E eram acusados de pelo menos 22 homicídios. Segundo a polícia, a maioria dessas mortes está diretamente ligada a atividades criminosas (como 44% dos 1.590 homicídios registrados de janeiro a abril, conforme a SDS), mas não são raros os cidadãos comuns serem vítimas desses grupos.

Foi o caso do assassinato, em agosto de 2017, do universitário Edvaldo José Valença da Silveira Neto, 21, em Goiana, na Zona da Mata Norte. Ele foi alvo de quatro criminosos que queriam lhe roubar o Jeep Renegade, encomendado, de dentro do Presídio de Igarassu, no Grande Recife, por Renato Lirab Alves de Souza, 30, preso desde junho de 2014. O detento já tinha um comprador para o veículo na Paraíba, numa clara demonstração de que, além de extrapolar as barreiras dos presídios, eles extrapolam as divisas do Estado.

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