#lixodetodos

Coleta seletiva do Recife é limitada e ineficiente

Apenas 2,5% das duas mil toneladas de lixo que o Recife produz é recolhido pelo serviço de coleta seletiva da prefeitura. É o que mostra a terceira reportagem da série #lixodetodos. Amanhã, a dura vida de quem cata lixo na cidade

Claudia Parente
Cadastrado por
Claudia Parente
Publicado em 12/11/2013 às 1:17
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Leitura:

Em uma pesquisa apresentada em junho pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) e Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan), 72% dos recifenses declararam ter o hábito de separar o lixo doméstico. Tal informação poderia supor que a cidade é exemplar no quesito reciclagem. Não é bem assim. Se os entulhos são separados corretamente, como a maioria da população afirma, o fato é que eles não tomam o destino certo. Das mais de duas mil toneladas de resíduos tiradas das ruas, diariamente, apenas 2,5% são recolhidos pelo serviço de coleta seletiva da prefeitura.

“Sabemos que é um percentual pequeno. Mas não adianta aumentar a coleta sem ter onde armazenar e reciclar”, argumenta o presidente da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), Antonio Barbosa. De janeiro a setembro, a média diária de resíduos recicláveis, coletados nos 45 bairros atendidos pelo programa, foi de 5,18 toneladas. Todo esse material – plástico, papel, papelão, metal, ferro, alumínio, vidro, isopor, computadores e até carcaças de carro – é destinado a cinco núcleos de triagem de catadores, apoiados pela Emlurb. “Temos que estruturar esses núcleos para aumentar a captação e geração de renda dessas pessoas”, admite Barbosa.

O primeiro passo para expandir o serviço é a construção de um galpão para triagem de resíduos sólidos no Arruda, na Zona Norte. Erguido em um terreno de 2,2 mil metros quadrados e orçado em pouco mais de R$ 1 milhão, o espaço terá veículos hidráulicos, elevador, balança mecânica com capacidade para 500 quilos e duas prensas eletroidráulicas com 25 toneladas de força. Cem famílias de catadores deverão trabalhar no galpão, que será inaugurado em janeiro. “Também estamos estudando a implantação de um núcleo em Boa Viagem”, adianta Barbosa, informando que a área já foi doada pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU).

Antes dos novos galpões, mais cinco bairros serão incluídos na coleta seletiva este mês. Uma vez por semana, o caminhão também vai passar na Várzea, Caxangá, Cidade Universitária, Jardim São Paulo, Ibura e Imbiribeira. A ecofrota – como é denominada – também foi reforçada. Em vez de dois, agora serão cinco veículos nas ruas.

Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Coleta seletiva no Recife é limitada e ineficiente - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Coleta seletiva no Recife é limitada e ineficiente - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Coleta seletiva no Recife é limitada e ineficiente - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Coleta seletiva no Recife é limitada e ineficiente - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Coleta seletiva no Recife é limitada e ineficiente - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Coleta seletiva no Recife é limitada e ineficiente - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Coleta seletiva no Recife é limitada e ineficiente - Foto: Diego Nigro/JC Imagem

A parcela da população que já se habituou a separar o lixo recebe o caminhão com entusiasmo, mas teme a descontinuidade do serviço. “Sempre quis aderir a esse programa, mas tinha medo porque ouvi dizer que a programação nem sempre era cumprida”, revela Luciano Gondim, síndico do Edifício Adolpho Pereira Carneiro, na Torre, Zona Oeste. Como não tem muito espaço para guardar os resíduos, se o caminhão não aparecer na data marcada, ficará com uma montanha de lixo no prédio. “Os moradores iam reclamar”, acredita.

Por iniciativa de uma moradora consciente, há quatro semanas o caminhão começou a recolher o lixo reciclável do condomínio. “Fui atrás de um motorista e perguntei o que fazer para que eles passassem por aqui”, conta Luciana Nogueira, dizendo que já tinha costume de separar o lixo há cinco anos, mas colocava na calçada, em saco comum. “Agora deposito em saco verde e estou torcendo para todos aderirem.”

Moradora da Rua Padre Anchieta, na Torre, Eneide Monteiro voltou, recentemente, a entregar o lixo separado para reciclagem. Durante mais de dois anos ela cumpriu essa rotina, mas o caminhão deixou de atender a rua sem aviso prévio. “Fazia mais de um ano que não passava por aqui. Hoje, quando vi, eles estavam na minha porta novamente”, comemorou, informando que conseguiu se livrar de uma televisão antiga, bolsas velhas e papel entulhado.

Se a população ainda tem queixa contra a prefeitura, a Emlurb tem motivo para reclamar da população. “Algumas pessoas não respeitam a programação e colocam o lixo fora de hora nas ruas. Outras viajam e não avisam”, relata Katarina Carneiro, gerente operacional de coleta seletiva. “Quando isso ocorre, a gente reforça o trabalho de conscientização. Mas, de uma forma geral, o resultado tem sido satisfatório”, destaca.

A Emlurb dispõe de uma equipe socioambiental, que promove oficinas e palestras em condomínios e empresas sobre separação e acondicionamento do lixo. Quem quiser ser incluído no programa deve ligar para o telefone 156 ou enviar e-mail para coletaseletiva@recife.pe.gov.br. Mas o pedido só é aceito se o imóvel estiver em um dos 50 bairros já incluídos no programa. Os demais terão que esperar até que a oferta seja ampliada.

Últimas notícias