Truculência fardada

Pai de jovem assassinado pela PM luta para que policiais sejam presos

O filho de Antônio Carlos foi atingido por um tiro durante uma perseguição policial, no Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 02/04/2017 às 9:17
Ricardo B. Labastier/JC Imagem
O filho de Antônio Carlos foi atingido por um tiro durante uma perseguição policial, no Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife - FOTO: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Entre o medo e a coragem, o pedreiro Antônio Carlos Tavares de Melo escolheu a Justiça. Demore o tempo que for. “Só vou descansar quando eles estiverem presos.” Eles, neste caso, são os três policiais militares que, numa noite quente de agosto do ano passado, garotada na rua, subiram uma ladeira do Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife, numa perseguição policial. “Quem é o ladrão que está caído no chão?”, perguntou um dos PMs, em relação ao corpo inerte e ensanguentado, jogado no meio-fio. Não era ladrão. Era Mateus, o filho de Antônio Carlos. O adolescente de 14 anos vinha da lan house e se deparou com a morte. Um tiro certeiro na nuca.


Sete meses de ausência e de espera. Antônio Carlos ignorou ameaças feitas pelos policiais ainda no calor da tragédia. “Primeiro, ameaçaram meu sobrinho, que presenciou tudo. Disseram: ‘Cuidado, tu sabe que o rolo é grosso. Fica na tua.’” A indignação somou-se à dor. “E é só chegar aqui e ameaçar os outros? É por isso mesmo que eu vou em frente. Eu disse na cara do PM que matou meu filho: Isso não vai ficar assim. Eu vou até o final. Mesmo que eles me peguem na rua e me matem. Eu só vou descansar quando ver esses matadores na cadeia, presos. Pode passar 10 anos. Eu só sossego quando a justiça for feita.” Essa última declaração foi dada por Antônio Carlos ao Jornal do Commercio, no ano passado, poucos dias após o filho ser assassinado.

Na última terça-feira (28), a reportagem voltou ao Vasco da Gama. Encontrou o pedreiro firme em seu propósito. Não tem sido fácil. Meses atrás, um outro policial, se dizendo amigo dos acusados do crime, o procurou para propor que ele sustentasse a versão de que houve um tiroteio. Antônio Carlos não quis nem ouvir. Não que ele não tenha receio do que possa lhe acontecer. Tanto que se desfez de uma moto e, depois de um carro, para evitar o risco de ser vítima de um acidente. “Eles podiam provocar uma batida. Prefiro andar de ônibus. É mais seguro.”

DOR DA PERDA


Na romaria para conseguir a punição dos policiais, Antônio Carlos já depôs na Corregedoria, levou testemunhas, fez tudo que o estava ao seu alcance para não deixar a morte do filho ser esquecida. Agora aguarda a primeira audiência ser marcada na Justiça. “Eu quero dizer para o juiz o que é a dor de um pai de perder um filho pela arma de um policial. Não luto só por mim. Mas por todos os adolescentes que eles ainda vão matar, em outras periferias, se ficarem soltos.”


A pedido do JC, a Corregedoria-Geral da Secretaria de Defesa Social informou que o processo que investiga a morte de Mateus está em fase final, aguardando o resultado do laudo pericial de balística feito pelo Instituto de Criminalística. O documento vai indicar de onde partiu o projétil que matou o adolescente. Um tiro que o pedreiro Antônio Carlos Tavares de Melo não tem dúvida de onde veio.

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