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Caso Mirella: confira a íntegra da entrevista de Edvan Luiz ao SJCC

Edvan recebeu a reportagem sem fazer exigências e não se negou a responder qualquer uma das perguntas feitas

JC Online
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Publicado em 21/06/2017 às 6:37
Foto: Luiz Pessoa/JC Imagem | Edição: Guilherme de Castro/JC
Edvan recebeu a reportagem sem fazer exigências e não se negou a responder qualquer uma das perguntas feitas - FOTO: Foto: Luiz Pessoa/JC Imagem | Edição: Guilherme de Castro/JC
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Em entrevista exclusiva ao Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), o repórter Gabriel Dias conversou por cerca de 40 minutos com o acusado de ter cometido um dos crimes que mais chocou a sociedade pernambucana. O comerciante Edvan Luiz da Silva, de 32 anos, é o único acusado de ter estuprado e matado por esgorjamento a fisioterapeuta Tássia Mirella de Sena, 28 anos, no dia 5 de abril deste ano, dentro do apartamento da vítima, que também era vizinha de porta dele. Confira agora a íntegra da conversa realizada nessa terça-feira (20), no Presídio de Igarassu, no Grande Recife.

JC - Como tem sido esse tempo por aqui?

ED - Péssimo.

JC - Nunca tinha imaginado passar por uma situação dessas?

ED - Não. Dizem que o ser humano é adaptável. Em uma situação como essa é impossível se adaptar. Você dormir...

JC - E o judô? Está dando pra fazer exercício aqui?

ED - Faixa marrom, era a penúltima, antes da preta. Lutava todos os dias, pratica judô há 22 anos. Só dá para fazer caminhada.

JC - É o que está dando pra fazer... mas sente falta do judô?

ED - Sinto falta da minha vida. Aqui dentro a gente só tem Deus, que não é só, é tudo é essencial. Se não fosse por ele, não saberia como estaria.

JC - Você sempre foi muito religioso?

ED - Sim sempre, evangélico e estava no último período de teologia, terminava esse ano. Muitas coisas da minha vida estavam se concretizando, se organizando.

JC - Você tinha casado há pouco tempo, né?

ED - Sim. É o meu primeiro casamento. Queria ter filhos, planos para toda uma vida. Minha vida era perfeita, Gabriel. Até… [pausa] Se tem uma coisa que eu tenho tempo aqui é para pensar. Já briguei até com Deus, por quê? Por quê? Por quê? Se você tem ideia do que é uma cadeia, pode ter certeza que é pior.

JC - Pior em quê?

ED - Em todos os aspectos. Todos.

JC - Estudava Teologia onde?

ED - Na Fatin (Faculdade de Teologia Integrada, localizada em Igarassu, no Grande Recife)

JC - Você queria virar pastor?

ED - É. Eu trabalhava como representante comercial. Mas me exigia muito viajar. Fui representante da Ana Hickmann aqui em Pernambuco. Já estava com ela aberta há cerca de quatro anos. Não quis mais viajar, não tinha tempo para viver. Eu queria uma coisa para me estabilizar. Quando saí peguei um bom dinheiro e investi na loja e consegui montar minha família. Eu venho de uma família bastante grande. Eu sou o caçula, seis homens e quatro mulheres. Então, hoje, quem tem filho é muito difícil. Imagine meus pais que tiveram dez.

Eu sou filho adotivo, na época minha mãe não teve condições de me criar. Meu pai biológico sumiu. Minha mãe não tinha condições de me criar. Minha mãe que me criou conhecia uma pessoa de uma creche e, com uns três meses de vida, eu fui para a casa dos meus pais.

Quando falei que briguei muito com Deus, mas eu sei o favor que ele me fez, pelo fato de eu ter duas mães. Depois, eu já vim descobrir quando eu era adolescente, me apresentaram a ela e foi maravilhoso, fiquei com duas mães. Foi natural, temos uma boa relação com minha outra mãe e entendi porque ela abriu mão pelo meu bem. Mas estava tudo se encaminhado. É o meu primeiro casamento. Queria ter filhos, planos para toda uma vida.

JC - Edvan, você foi preso sob a suspeita e depois foi formalmente acusado de matar a sua vizinha. Este é o segundo presídio por onde você passa. Como tem sido a sua vida na prisão? Já deu tempo de refletir sobre tudo o que aconteceu?

ED - Acho que pode passar o tempo que for, nunca vai chegar a um denominador do motivo disso estar acontecendo. Como já falei e repito: eu sou inocente. Eu não fiz isso com a Mirella. Então estou sendo acusado injustamente. Quando você cai nesse sistema não parece que são apenas dois meses, parece muito mais, porque o tempo não passa.

JC - Como você foi recebido? Como é o ambiente?

ED - Não sei se é o de praxe, mas eu estou preso, na cadeia. Nada que você pense que possa acalmar ou entreter consegue. Você está preso. Principalmente quando está injustamente. Dormir e acordar aqui é péssimo.

JC - Como é a convivência com os outros?

ED - Não tem muita convivência. Eu sou visto pela sociedade e pelos outros presos como um cara que cometeu um crime bárbaro, então perante eles aqui...

JC - É só mais um?

ED - Mais um que não vale pra nada.

JC - Você morava naquele prédio há quanto tempo?

ED - Há menos de um ano.

JC - Sempre com a esposa?

ED - Eu morava em um lugar antes, já casado, e depois mudei para lá.

JC - Como era sua rotina? Você acordava, ia trabalhar, praticava esporte?

ED - Meu dia era bastante cheio. Eu acordava às 6h, geralmente deixava minha esposa na parada [do ônibus], voltava para casa, tomava banho e ia para a loja [em Brasília Teimosa]. Ficava lá e voltava, após às 20h30.

JC - Como era o relacionamento com a sua esposa?

ED - Era maravilhoso.

JC - Nunca teve relacionamento com outra mulher?

ED - Não. Na verdade, eu tive que amadurecer muito cedo. Comecei a trabalhar muito cedo por conta de toda a família. Duas coisas que meu pai implantou na gente: trabalhar para ajudar no orçamento, até hoje trabalhamos. E eu sempre tive esse foco, amadureci muito cedo pra você viver bem com alguém, tive outros relacionamentos que não deram certo, mas, quando eu vi nela os requisitos que eu procurava em uma mulher, eu me identifiquei e vi que a infidelidade não caberia nesse contexto.

JC - Esse ano você estava terminando a faculdade de teologia. E qual era a sua intenção? Por que teologia?

ED - Porque eu fui criado no evangelho. Tenho familiares na igreja e fomos criados no evangelho. Então tenho a intenção de me formar e me tornar um pastor.

JC - Tem dado para rezar aqui dentro?

ED - Tenho feito isso, lido a bíblia, é o que eu posso fazer.

Relacionamento com Mirella Sena

JC - E como você conheceu a Mirella?

ED - A Mirella eu não conhecia. Apesar de a gente ser vizinho de porta, frente com frente, mas como te falei eu tinha o dia muito cheio. Saia muito cedo de manhã, e chegava já à noite. Era um flat, não tinha como ficar rodando dentro do apartamento. Quase ninguém se conhece ali.

JC - Mas você chegou a afirmar que teria se encontrado com ela em algum momento.

ED - Em um momento, quando eu estava saindo com minha esposa, ela estava saindo também. Foi a única vez que eu vi quem era que morava naquele apartamento.

JC - Uma ou duas vezes?

ED - Uma vez.

JC - A polícia disse que você teria dito que haviam sido duas vezes.

ED - Não, uma vez. Foi quando eu estava entrando no apartamento e ela estava saindo do dela e eu deduzi que foi ela quem morava ali.

JC - Mas ela morava lá há quatro meses, fazia muito tempo que você tinha visto ela, nessa única vez?

ED - Não sabia nem há quanto tempo ela morava lá. Foi especulado muita coisa, que eu tinha um caso com ela, isso e aquilo outro. Não sei exatamente quando foi.

JC - O que você achou dela? Você teve alguma atração por ela?

ED - Foi muito rápido. Estava com minha esposa, aguardando o elevador chegar, quando o elevador chegou, que a porta abriu, ela saiu do apartamento dela e eu entrei no elevador. Não tive tempo de olhar, ver quem era.

JC - Essa foi a única vez que você viu a Mirella na sua vida?

ED - Isso. Tanto que quando a polícia chegou, eu perguntei quem era essa pessoa. Me disseram que era minha vizinha e perguntaram se eu não conhecia minha vizinha e eu disse que não.

O dia do crime em Boa Viagem

JC - No dia do crime, as imagens do circuito interno de câmeras do condomínio mostram você chegando de carro pouco antes das 7h em casa. Eram 6h56 da manhã. Onde você passou a madrugada?

ED - Passei com amigos. Num bar [no Pina], depois fui para outro bar, depois fui para um posto, depois fui para casa.

JC - Que horas você tinha saído de casa?

ED - Eu saí da loja. Fui direto da loja me encontrar com meus amigos, inclusive esse amigo meu mora em Maceió, fazia muito tempo que a gente não se via e a gente foi jantar nesse bar.

JC - Era comum? Mesmo durante a semana, você passar a noite fora de casa?

ED - Esse amigo meu, fazia muito tempo que a gente não se via, ele morava em Maceió, a esposa dele veio fazer alguma coisa do trabalho dela e foi quando a gente se encontrou. Ele era amigo de longas datas. Nos encontramos, eu, ele e o irmão dele.

JC - Você usou drogas?

ED - Mais uma coisa que se especula. Que eu uso drogas, falaram até que eu traficava, mas falar, falaram tantas coisas ao meu respeito. O importante é o meu caráter.

JC - A polícia ouviu testemunhas de que você já teria oferecido drogas para moradoras do condomínio.

ED - Falaram isso também ao meu respeito. Falaram muitas coisas que não são verdades.

JC - Você nunca usou drogas?

ED - Não, como te falei, é impossível acontecer alguma coisa dentro do condomínio no horário que eu tinha. Eu saia com a minha esposa e chegava com a minha esposa. Eu trabalho de domingo a domingo.

JC - Sua esposa estava onde?

ED - Ela tinha saído para trabalhar. Trabalha com vendas. Sai cedo de casa todos os dias.

JC - Poucos minutos depois de registrar a sua chegada no condomínio, (às 6h58) o circuito interno mostra você dentro do elevador subindo até o 12º andar. Quando as portas se abrem, para onde você vai?

ED - Direto para o meu apartamento.

JC - O que tinha naquela sacola que você segurava nas mãos?

ED - Eram chocolates para a minha esposa.

JC - Quando você chega no seu apartamento, o que você faz lá dentro?

ED - Entrei, tomei banho, comi e fui dormir.

JC - A polícia afirma que você entrou no seu apartamento, trocou de roupa e, em seguida, foi para o apartamento da Mirella. Isso aconteceu?

ED - Não.

JC - Então, você quer dizer que foi dormir. Você não iria trabalhar na quarta-feira?

ED - Optei por não ir.

JC - Moradores do prédio disseram à polícia que ouviram gritos da Mirella depois das 7h da manhã, se a gente levar em consideração os registros das câmeras de segurança, naquele momento você já estava no prédio e no mesmo andar onde aconteceu o crime. Se você estava lá, dentro do seu apartamento, porta a porta com ela, assim como os outros moradores, você também escutou gritos da Mirella?

ED - Eu não ouvi. O tempo que tudo aconteceu, como o delegado falou. A câmera registra eu chegando pouco antes das 7h. Relatos de testemunhas afirmam que 7h10 escutam os primeiros gritos, como se fosse briga de casal. Eu não ouvi. Talvez, porque eu estava tomando banho ou fazendo alguma outra coisa, eu não ouvi, então briga de casal, foi quando tentaram dizer que eu teria um relacionamento extraconjugal com ela. Mas se foi briga de casal, é briga de casal. E nada, me atribui a esse assassinato.

JC - Nada te atribui?

ED - Nada. Eu não a conhecia, eu não teria nenhuma motivação para fazer isso.

JC - A motivação seria sexual, segundo a Polícia Civil.

ED - Segundo a polícia civil. Eu era casado, muito bem casado, não teria por que eu fazer isso. Eu não tenho esse perfil.

JC - Você escutou alguma movimentação no corredor? Porque os vizinhos se movimentaram, um funcionário chegou a ir lá e encontrou o corpo.

ED - Não, não ouvi nada. Tanto que lhe falei, cheguei cansado, fui dormir, você chega e apaga. Meu sono é muito pesado.

JC - Edvan, depois que um funcionário viu o corpo da Mirella, a polícia foi acionada e quando os agentes chegaram ao local, começaram a suspeitar da possibilidade do assassino da Mirella ter fugido em direção ao seu apartamento. Os delegados do caso afirmam que os investigadores bateram sucessivas vezes na sua porta, para conversar com quem estava lá dentro. Por que você não atendeu a ordem dos policiais e não abriu a porta?

ED - Mais uma vez, eu te falo, eu estava dormindo. Eu não ouvi ninguém batendo. Eu estava dormindo.

JC - Mas, Edvan, foram sucessivas vezes, voz de homem, é uma voz grossa e alta. Os policiais relataram que bateram insistentemente na porta. E o flat é pequeno. Eles tiveram que chamar um chaveiro. Você tem um sono tão pesado que, se alguém arrombar a sua porta a noite, você não iria perceber?

ED - Como eu te falei, eu estava dormindo. Eu sou uma pessoa inteligente. Se eu tivesse feito aquilo, por que não abrir a porta? Eu iria saber que eles iriam arrombar a porta. Qual era o intuito de ficar ali trancado?

JC - Os delegados afirmam que, quando entraram no seu apartamento, encontraram você apenas de cueca e com uma marca de sangue na perna. De quem era aquele sangue?

ED - Na noite anterior, quando eu estava saindo do bar, eu tive uma discussão com um flanelinha por conta que ele veio cobrar o estacionamento do meu carro e ele me empurrou e eu caí. Levantei e a gente entrou em luta corporal. A gente caiu no chão e ele puxou minha mão, cortei minha mão. Aí eu acho que esse sangue pode ter sido dessa briga.

JC - Quem é esse flanelinha?

ED - Não conheço, nunca vi.

JC - A polícia não encontrou também. Você deu alguma dica de como ele era?

ED - Não, a polícia não perguntou isso

JC - Como ele era?

ED - Moreno, baixo, magrinho.

Laudos apontam para Edvan como culpado

JC - Os investigadores afirmam que havia um rastro de gotas de sangue entre o apartamento da Mirella e o seu apartamento. E que havia sangue na maçaneta da sua porta. Como você explica essas marcas de sangue?

ED - É, eu não vi, essas marcas de sangue. Quando eles me tiraram do apartamento, eu nem pensei em olhar. Que, até então, foi isso que eles disseram: ‘nós viemos até você porque tinha marcas de sangue na sua porta’. E eu fiquei sabendo que era na fechadura.

JC - Era na maçaneta e tinham gotas entre a sua porta e a porta dela. Você não viu essa marca de sangue?

ED - Era do lado de fora. Eu não atentei. O que eu penso: nós éramos vizinhos de porta, acho que foi a pessoa que fez isso com a Mirella. O único rastro é na saída da porta. Logo depois tem a porta de incêndio.

JC - Mas eles não encontraram gotas.

ED - Justamente, o que eu pensei é que a pessoa, assim que saiu, foi limpar o pé no tapete.

JC - E por que não encontraram sangue no tapete?

ED - Não tinha sangue?

JC - A polícia falou que a única região que tinha sangue era essa. Na maçaneta e entre as duas portas.

ED - O que eu imagino é que a pessoa limpou os pés no tapete e na hora encostou a mão.

JC - A explicação da polícia é que o assassino teria que ter atravessado a porta, porque não há rastros de sangue para o outro lado. É como se realmente o assassino tivesse atravessado aquela porta.

ED - Isso é o que a polícia diz, né? O que eu penso é isso. Não posso dizer o que aconteceu, porque eu não vi.

JC - Depois que você foi retirado do condomínio, a perícia encontrou marcas de sangue da Mirella na pia da cozinha, no chão e no banheiro do seu apartamento. Os peritos afirmaram ainda que essas marcas só foram detectadas com o auxílio do reagente Luminol e os delegados explicam que isso se deu porque você tentou limpar as marcas de sangue. A polícia afirma que depois que você saiu do elevador, entrou no seu apartamento, trocou de roupa, voltou para o apartamento da Mirella. Lá tentou estuprá-la. Como você “não conseguiu”, vocês entraram em uma luta corporal e depois você teria matado ela com uma facada no pescoço. Com isso, você teria se manchado completamente de sangue e, na hora de fugir, de tentar se refugiar, involuntariamente você acabou sujando tudo e tentou limpar. Como é que você explica o fato de ter sangue da Mirella no seu apartamento?

ED - Eu não sei. No momento em que a polícia entrou não tinha nada no apartamento.

JC - Mas por que eles afirmam que você tentou limpar?

ED - Isso é o que a polícia diz. Eu contesto.

JC - Não teria sangue no seu apartamento?

ED - Não. E outra coisa que eu acho bastante interessante é que a polícia diz que eu cheguei, troquei de roupa, entrei no apartamento dela, que tentei manter relações com ela, que eu a matei, num curto período de tempo. Acho que para uma pessoa fazer isso, no mínimo, teria que ter bastante tempo. E o relato das testemunhas não condiz com esse tempo. Porque eu chego no prédio, praticamente 7h. 7h10 são ouvidos os primeiros gritos. Então, 10 minutos para trocar de roupa, ir lá, fazer tudo, fiquei sabendo também que o apartamento estava todo revirado. Muito pouco tempo para fazer tudo isso.

JC - É mas a polícia afirma também que testemunhas ouviram um primeiro pedido de socorro, depois houve um silenciamento por volta de 10 minutos e, só depois, ela voltou a gritar, perguntando ao seu algoz: “Você vai me matar?”. Não foi só em 10 minutos que tudo aconteceu. O processo teria demorado bem mais tempo. Mas você nega, você não sabe o que é aquela marca de sangue naquele apartamento?

ED - Não, não tinha nada no meu apartamento.

JC - Naquela mesma manhã, os policiais encontraram uma camisa suja de sangue no chão de um prédio ao lado do seu. Eles afirmam que aquela camisa era sua, que o sangue era da Mirella e que a camisa teria sido jogada de dentro do seu apartamento, numa tentativa de se desvencilhar das provas do crime. Como você responde a isto?

ED - Na verdade, a polícia fala em duas camisas.

JC - Ela fala em três camisas, ela fala uma que foi encontrada no chão do prédio ao lado e outras duas camisas também sujas de sangue.

ED - Só encontraram as camisas e não tem mais nada. Se eu tivesse cometido esse crime, eu teria ido só de camisa? Bermuda, calção, não tem nada? A roupa que eu cheguei, a mesma roupa estava lá. No meu apartamento, a roupa foi levada para a perícia. Creio eu que não foi encontrado nada.

JC - Mas porque você teria trocado de roupa.

ED - Mas eu teria usado três camisas?

JC - Então, aquela camisa não é sua?

ED - Eu não cheguei a ver a camisa.

JC - A imagem da camisa, os policiais afirmam categoricamente que ela é sua e os policiais afirmam que você aparece em uma foto nas redes sociais usando aquela camisa. É uma camisa vermelha com listras.

ED - Eu fiquei sabendo. Mas a camisa que eu estou na rede social não é a mesma camisa. A camisa que eles têm é uma camisa de manga comprida. Na foto a camisa é de manga curta.

JC - A polícia investiga se naquela quarta-feira, depois que os peritos deixaram o apartamento, a sua esposa teria entrado e escondido a faca que você teria usado para matar a Mirella, antes de uma segunda perícia ser feita no local. Isso aconteceu?

ED - Não. A polícia ficou no meu apartamento por não sei quantas horas. Então, depois de tantas horas, por que não encontraram a possível arma? Como a minha esposa, que não teve contato algum comigo, soube qual seria a arma e levaria ela? Quando entraram, tinham uns 20 policiais, eles reviraram tudo, eles não acharam a arma do crime. A minha esposa iria achar? Depois que fui preso, passei 14 dias para falar com a minha esposa.

JC - Quando você foi detido, você foi submetido ao exame de corpo de delito e foi constatado ferimentos na sua pele causados por unhas. Ainda nesse sentido, a perícia encontrou o seu material genético nas unhas da Mirella. Como você explica isso? Como é que fragmentos da sua pele foram parar embaixo das unhas da Mirella?

ED - Isso aí só a perícia. Eu repito, eu sou inocente. Eu não fiz.

JC - Você está contestando a perícia?

ED - Sim. Perícias falham.

JC - O sangue da Mirella no seu apartamento, o seu material genético embaixo das unhas dela, encontraram fios do seu cabelo nas mãos dela. Seu cabelo era longo antes de você entrar no sistema prisional...

ED - Gabriel, não estou aqui para culpar ou direcionar culpa. Eu só quero dizer que eu não fiz isso. Então, quem fez, o verdadeiro culpado vai aparecer, eu torço todos os dias para que isso aconteça. Para que eu possa viver em paz, a família da Mirella tenha paz. Foi uma coisa que acabou com tudo o que eu construí.

JC - A perícia podoscópica encontrou a impressão do seu pé dentro do apartamento da Mirella. Se você me afirma que, ao sair do elevador foi direto para o seu apartamento e não saiu de lá e nega ter matado a Mirella, como você explica que o seu pé tenha estado na cena do crime?

ED - Falando sobre essa questão de impressões. Não foi achada nenhuma impressão digital.

JC - A do seu pé foi.

ED - Só de um pé. Eu sou Saci? Eu só ando com um pé? Inclusive, em várias outras impressões. Eu acredito que quem cometeu isso, passou a noite naquele apartamento. Porque eu me atenho a testemunha que ouviu a briga de casal. Porque, vamos lá, se eu não te conheço, eu bato na sua porta, com uma faca na mão, qual seria sua reação?

JC - Eu gritaria. Horrivelmente. Ela gritou.

ED - Mas não é uma briga de casal, é diferente.

JC - No que é diferente?

ED - Uma briga de casal é uma briga normal, diferente de uma briga, de alguém que quer te matar. Em que a vítima pede socorro.

JC - As testemunhas dizem que ela pediu socorro.

ED - As testemunhas afirmam que era briga de casal.

JC - As testemunhas dizem que ela pediu socorro. Que ela questionou ao algoz dela: “Você vai me matar?” Essa foi uma frase que várias testemunhas relataram que ouviram saindo de dentro do apartamento dela.

ED - As testemunhas que ouviram isso. Depois que aconteceu tudo, onde elas estavam?

JC - A informação que temos é que um funcionário foi lá e encontrou o corpo dela. Apesar de tantas evidências, perícias que apontam que você é o principal suspeito. Que você teria cometido esse crime, que colocam você na cena do crime, você continua negando. O que te motiva a levantar todo dia e a negar esse crime.

ED - A inocência. Se você é inocente, não tem porque assumir uma coisa que você não fez, a não ser sob tortura, que, graças a Deus, não foi o que aconteceu comigo. Todas as perícias em tempo recorde, vivemos um momento de caos na segurança, então, mais um caso de tanta repercussão quanto o meu, acho que a polícia seria muito mal vista quanto a isso.

JC - Não foi um crime de segurança pública.

ED - Mas depois do meu aconteceram tantos outros, e não tiveram a mesma repercussão.

JC - Por que você acha que isso aconteceu?

ED - Tinha que ter um culpado.

JC - Você não acha que as provas são muito fortes?

Provas podem ser criadas, Gabriel.

JC - Você acha que a polícia pode ter criado alguma prova?

Não sei. Não posso afirmar, mas tudo leva a crer que sim. Se eu não fiz, e se encontram essas provas contra mim.

JC - O que você falaria para a família da Mirella?

ED - Eu falaria a mesma coisa que eu falei aqui. Eu sinto a dor que eles sentem, porque eu acho que, da forma como aconteceu, a forma brutal, acho que nada que eu disser vai mudar o sentimento deles, eu gostaria de dizer que não fui eu, apesar de que a polícia diz que sim. Deus é minha testemunha. Se tem duas pessoas que sabem o que aconteceu, foi Deus e a pessoa que fez, e não fui eu. E dizer que a família dela que eu entendo a dor, para mim também não está sendo fácil [pausa]. Como eu lhe falei, tinha uma vida, e essa vida foi tirada de mim, por algo que eu não cometi.

JC Nesta quarta (21) você vai participar da primeira audiência de instrução. É a sua decisão manter essa versão?

ED - Não tem outra versão.

JC - Na semana passada, a Polícia Civil confirmou que você é um dos suspeitos do homicídio de outra mulher, ocorrido em 2013, no bairro do Cabanga, no Recife. Como você responde a esta outra questão?

ED - Eu ainda não fui interrogado, a polícia não veio me interrogar, então...

JC - Você teria sido ouvido uma vez, lá atrás.

ED - Mas de acordo com os novos fatos, eu não sei.

JC - O que você espera do futuro?

ED - Que tudo venha às claras, que minha inocência seja acrescentada.

JC - Tem algo a acrescentar?

ED - Não. Acho que é mais ou menos isso.

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