Em Pernambuco, a primeira epidemia de zika foi tão intensa em 2015 que a impressão é que quase a totalidade das pessoas foi infectada pelo vírus naquela época e, por isso, os municípios dificilmente estariam sujeitos a vivenciar um segundo surto. Um novo estudo questiona essa sensação de proteção, mesmo em áreas onde foram registrados muitos casos de uma só vez. Ou seja, após um primeiro adoecimento coletivo, regiões continuam em risco para outra epidemia, pois uma grande fatia da população ainda não está imunizada. As conclusões foram antecipados na versão online da revista Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
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Os pesquisadores fizeram uma análise do primeiro surto que atingiu a Polinésia Francesa em 2013 e 2014. Exames realizados no fim da epidemia e após 18 meses mostraram prevalência da doença mais baixa do que as que já foram descritas. Segundo o estudo, a taxa de soroprevalência do zika é de 49% (frequência de indivíduos que têm anticorpo contra o vírus). A partir desse percentual, segundo o médico Carlos Brito, pode-se inferir que a taxa de ataque do zika (capacidade que o vírus tem de fazer vítimas, principalmente em comunidades vulneráveis ao adoecimento) não é tão alta como mostram as taxas anteriores, em torno de 80%.
“O artigo mostra que a taxa de ataque de zika é inferior a 50%. Portanto, esse estudo veio para quebrar a sensação de segurança. Não dá para baixar a guarda diante da possibilidade de uma nova epidemia no Estado. Pelo recorte desse estudo, metade de uma população estaria susceptível a um segundo surto”, diz Carlos Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde. Outro detalhe é que, para o médico, a taxa de ataque do zika no Brasil, considerado um país com dimensões continentais, deve ser menor do que o percentual da Polinésia Francesa, o que leva a pensar numa população mais vulnerável a um segundo adoecimento pelo vírus.
EPIDEMIAS ALTERNADAS
Dessa maneira, Carlos Brito prevê que zika deve predominar este ano. “Como chicungunha atingiu várias cidades do Estado em 2016, e zika apenas em 2015, há chance de novo surto por zika ocorrer, já que as epidemias se alternam. Dengue não tem causado grandes surtos, provavelmente por termos tido casos demais e circulação (dos sorotipos) por muitos anos, com grande parte da população imunizada”, acredita. Para Brito, os municípios que tiveram ocorrência alta de chicungunha, no ano passado, devem ter zika este ano. "Os poucos que não tiveram chicungunha devem ter epidemia dessa arbovirose."
Ele ainda destaca que o estudo mostra que, diferentemente de outras pesquisas, zika não é tão assintomática. "O artigo destaca que metade dos infectados apresenta algum sintoma", finaliza o médico.