A procura pela vacina contra febre amarela mais que triplicou, em janeiro, no Centro de Orientação ao Viajante da Policlínica Lessa de Andrade, no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife. De uma média de 300 aplicações da vacina registrada por mês, antes de começar a atual epidemia (a maior nos últimos 70 anos), a unidade chegou a imunizar 1.015 pessoas até o dia 25, quando foi realizado o último balanço da policlínica. O surto de febre amarela também zerou o estoque do produto nas unidades da Vaccine, clínica particular que, antes da explosão dos últimos casos, vacinava cerca de 80 pessoas por mês (a dose custava R$ 210). A previsão é que a Vaccine receba novos lotes só no fim deste mês.
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A corrida a unidades de saúde acontece numa época de aumento da extensão geográfica no País com áreas que têm recomendação de vacinação contra a doença. Paralelamente a esse cenário, pesquisadores e sociedades médicas estão preocupados com a possibilidade de uma nova onda de transmissão urbana da febre amarela, devido à presença do Aedes aegypti em praticamente todas as áreas dos municípios brasileiros. No ciclo silvestre (como se parece ser o atual), o vírus é transmitido por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes.
“Houve um aumento da procura pelo imunizante porque mais cidades passaram a exigir a vacinação. As pessoas, que têm viagem marcada para lugares com registros da doença, estão mais conscientes e têm procurado o posto para se proteger”, explica a gerente da Policlínica Lessa de Andrade, Priscila Ferraz. Recomenda-se levar o comprovante da viagem para ser feita a imunização. “Mas não é uma obrigatoriedade. Não há lei nem portaria que exija isso.” Ontem a funcionária pública Sandra Diógenes, 47 anos, foi até a policlínica para receber a vacina. “Foi rápido e tranquilo. Precisei mostrar o comprovante da minha viagem a Minas Gerais, para onde vou no Carnaval. Com esse surto tremendo, a gente tem mesmo é que se prevenir”, disse Sandra.
De qualquer forma, quem vive em Pernambuco (não faz parte da área de recomendação) e não vai se dirigir a esses locais não precisa buscar a vacinação neste momento, segundo orientações do Ministério da Saúde.
CONTROLE
Diretor da Fiocruz Pernambuco e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Sinval Pinto Brandão Filho destaca que todos os esforços, como envio de doses extras da vacina aos Estados com casos da doença e aumento da produção do imunizante pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), têm como objetivo deter a epidemia.
“Há realmente uma preocupação com a possibilidade de reurbanização da febre amarela. Há o risco de pessoas doentes irem para as cidades (no período de transmissibilidade do vírus, elas podem infectar o Aedes se picadas) e, dessa maneira, ser estabelecido um surto urbano. É aí onde mora o perigo.”
O pesquisador também comenta sobre a carta aberta da SBMT, emitida esta semana, que esclarece sobre a epidemia. “Recomendamos que a vacina contra febre amarela seja introduzida no calendário vacinal infantil de todas as crianças brasileiras, mesmo daquelas que vivem em áreas sem recomendação de vacina. Isso foi sugerido em 2001, mas infelizmente não foi implantado. Reiteramos essa proteção”, acrescenta. A imunização dessa faixa etária, segundo a SBMT, proporciona gradualmente uma proteção para toda a população brasileira.