Não restam mais dúvidas de que o zika pode provocar lesões nos olhos das crianças expostas ao vírus ainda na gestação. Agora também já se sabe que a visão desses pequenos pacientes tem a chance de ser corrigida graças a intervenções feitas precocemente, principalmente se iniciadas logo após o nascimento. Uma pesquisa publicada este mês, no Journal of American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus (revista científica de maior penetração na oftalmopediatria), revelou que a visão das crianças com problemas oculares, em decorrência do zika, melhorou em 62% dos casos que fizeram uso dos óculos de grau.
O estudo, desenvolvido por especialistas da Fundação Altino Ventura (FAV), avaliou 60 pacientes com a síndrome congênita do vírus. Entre eles, 37 apresentaram progresso com o uso de lentes. “Nosso objetivo foi avaliar se o tratamento estava sendo eficaz. E identificamos que, ainda no consultório, no momento em que colocavam os óculos, as crianças tinham a visão potencializada”, esclarece a oftalmologista Camila Ventura, uma das autoras do artigo. Os testes foram feitos antes e depois da colocação das lentes, que possuem um grau capaz de maginificar as imagens.
“As lentes melhoram a visão dessas crianças, que têm um defeito da acomodação do olho, porque dão foco às imagens quando se olha para longe, por exemplo. Dessa maneira, os óculos focam (um ponto, um objeto ou um rosto) pelos pacientes”, explica a oftalmopediatra Liana Ventura, presidente da FAV, autora principal do estudo. Ela acrescenta que algumas dessas crianças afetadas pelo zika, hoje com 2 anos, nem precisam mais das lentes.
Esse resultado, segundo as pesquisadoras, só fazem elucidar o quão valiosos são os estímulos e a intervenção precoce, que incluem desde orientações às famílias para realização de atividades em casa com as crianças até terapias ao lado de profissionais capacitados para seguir com exercícios de reabilitação.
“A intervenção precoce faz a diferença no primeiro ano de vida, quando muitas das crianças com a síndrome congênita do zika precisam utilizar óculos. Com o passar do tempo, elas podem ter o grau diminuído ou até não necessitar mais das lentes”, frisa Camila. Para a oftalmologista, o estudo também derruba as incertezas em relação à importância da estimulação visual para os bebês. “A gente sempre incentiva a adaptação aos óculos de grau porque eles são essenciais nesse processo de reabilitação.”
Balanço
Atualmente a FAV acompanha 285 crianças que foram expostas ao zika durante a gestação. Ao lado das famílias, os pequenos pacientes participam de atividades de reabilitação visual, auditiva, motora e intelectual. Ainda este mês, a instituição inicia um estudo inédito para analisar diversos sinais de desenvolvimento de um universo de 200 crianças com zika congênita durante os próximos cinco anos.
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