“Prezados espectadores, devido às condições metereológicas, o espetáculo terá alguns minutos de atraso. Agradecemos a compreensão de todos”: foi este aviso que o público do Teatro Guararapes ouviu pontualmente às 21h, horário programado para a segunda sessão do último sábado (16) do espetáculo Raia 30, O Musical. Também pudera, as chuvas que castigavam o Recife e região metropolitana também prejudicaram as pessoas que estavam tentando chegar ao Centro de Convenções.
E foi quase trinta minutos depois que as cortinas se abriram. Ao som de uma banda praticamente invisível, mas que tocava a trilha sonora do musical ao vivo, Cláudia Raia surgiu no palco de pernas abertas para o ar, falando da importância do alongamento para o ballet e o teatro. E assim, fomos convidados a presenciar os “estilhaços de memória” (como a atriz costuma dizer) que contam a história das suas três décadas de carreira artística.
Com músicas inéditas e versões de grandes clássicos da Broadway (berço do teatro musical norte-americano), Raia 30 não soa um espetáculo egocêntrico. Afinal, Cláudia não está sozinha no palco e seu corpo de ballet também canta, com direito a alguns números solos, e a ilustre presença de Marcos Tumura, grande amigo da artista e um dos mais importantes atores de musical do país, ajuda a guiar a narrativa com muita energia e bom humor.
Além do público reduzido que estava no teatro em virtude das chuvas, um outro momento não estava no roteiro, mas Raia tirou de letra: uma leve queda no palco durante a sequência de sua passagem no teatro de revista na Argentina. A atriz se desequilibrou ao sentar na poltrona em cena e arrancou risos da plateia, achando que era parte do show. Mas quando Cláudia disse: “Gente, eu caí de verdade mesmo”, nem ela, nem a plateia, nem o Tumura seguraram a gargalhada, gerando mais aplausos para o elenco.
A quarta parede do musical Raia 30 é quebrada quando, ainda no bloco do teatro de revista, Cláudia vai à plateia interagir com os presentes. O público das primeiras filas nem parecia acreditar que aquele mulherão estava ali, brincando entre eles. Os muitos figurinos e a constante troca de cenário, muitas vezes aos nossos olhos, davam mais dinamismo ao espetáculo.
O bloco da chegada de Raia à televisão era o mais esperado pelos espectadores. Homenagens à Tancinha, de Sassaricando, Tonhão, da TV Pirata e uma rápida referência à Donatela, de A Favorita, deram um ar saudosista à peça. E na primeira vez que ela performou o clássico Não Fuja da Raia, a atriz foi ovacionada por mais de um minuto e de pé, e ainda nem era o fim da sessão.
Raia 30, O Musical deixa bem claro as origens do sucesso de Cláudia Raia, que começou no balé clássico muito pequena, ingressou no teatro musical e, por consequência, chegou à televisão. A escolha da atriz por comemorar três décadas de carreira nos palcos, cantando e dançando (suas maiores paixões), é uma decisão mais que acertada. Por 90 minutos, o alto astral do espetáculo foi suficiente para esquecer as chuvas que insistiam em não parar do lado de fora.
Em tempo: A ArtRec informa que, em respeito ao público que não conseguiu chegar ao Teatro, os ingressos comprados e não utilizados para as duas sessões do sábado (16) garantem acesso para a última apresentação neste domingo (17), marcado para às 18h.