
O grupo 33 Crew, coletivo que reúne tatuadores, grafiteiros, designers e ativistas recifenses, publicou uma nota no Facebook criticando a escolha de Flávio Barra para decorar o Galo da Madrugada. No texto, o grupo pontua que esta posição "não é contra a pessoa Flábio Barra, se ele é grafiteiro ou não", e sim contra seleção da Prefeitura do Recife.
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"Ao convidar um artista para decorar o ícone do Carnaval do Recife, O Galo da Madrugada, que representa o maior bloco de rua do mundo, a curadoria precisava estar diretamente envolvida com a cena local, procurar opinião de outros produtores, curadores e até artistas, afim de fazer uma escolha mais legítima", defendem.
Mais adiante, o texto fala do grafite como instrumento de inclusão social: "acreditamos que colocar grafiteiros da periferia como protagonistas é não apenas um questão de justiça, mas uma forma de gerar mais representatividade e empoderamento".
LEIA A NOTA NA ÍNTEGRA:
"O graffiti que acreditamos é ideológico, estético, artístico, contra-cultural, mas é também livre e aberto a novos diálogos, propostas e mudanças. Porque no mundo tudo muda, e mudanças são sempre bem vindas; muitas vezes abrem portas, dão oportunidades, propõem novas conexões. Depois de tantas discussões sobre a escolha do artista para pintar o Galo da Madrugada, queremos, antes de tudo, dizer que nossa posição não é contra a pessoa de Flávio Barra, se ele é ou não grafiteiro, se pinta ou não na rua. Muito menos julgar o seu trabalho. Mas, nós, grafiteirxs de Pernambuco, não podemos, enquanto integrantes de uma cena que carece de incentivo, nos isentar do debate.
Enquanto coletivo composto por artistas e escritorxs de graffiti, queremos por meio desta nota pública, expressar a nossa insatisfação com a Prefeitura da cidade do Recife, que se emocionou demais com essa história de usar a arte urbana como estandarte da festa. Ao convidar um artista para decorar o ícone do Carnaval do Recife, O Galo da Madrugada, que representa o maior bloco de rua do mundo, a curadoria precisava estar diretamente envolvida com a cena local, procurar opinião de outrxs produtorxs, curadorxs e até artistas, afim de fazer uma escolha mais legítima. Entendemos que não se consegue agradar a todos, mas pontos como representatividade, trajetória e originalidade são indispensáveis quando de uma eleição como essa.
A escolha da Prefeitura, obviamente, pode ser bem recebida pela maior parte do público folião, que, infelizmente, desconhece uma cena composta por grafiteirxs de todas as regiões de Pernambuco, que resistem em meio a falta de incentivo e valorização. Na nossa cidade, existem grandes referências que tentam sobreviver da sua arte, promovendo ações de impacto social. Apesar do esforço, ainda enfrentam dificuldades e sofrem com a marginalização e o preconceito.
Reconhecemos a importância da Prefeitura do Recife ter incluído nomes da arte urbana na decoração do Carnaval do Recife (a exemplo Bozó, Zeroff, Boris, Karina...) mas contestamos a falta de representatividade na intervenção do galo, o grande anfitrião da festa de momo. Também estamos solidários ao artista Sávio Araújo, que foi obrigado a recolher o Galo Maestro por não concordar com a exigência de depená-lo e deixá-lo todo cinza para receber a intervenção. Entendemos seu posicionamento e acreditamos que ele poderia ter sido incluído no processo de concepção. Nos últimos sete anos, Sávio contribuiu não apenas para confecção do maior símbolo do Carnaval pernambucano como para a comunidade de Pirajuí (Igarassu), onde o gigante incrementava a renda de marisqueiras e jovens.
Esperamos que toda essa divulgação e firula em torno da arte urbana se estenda para além do período de Carnaval e reverbere em políticas públicas que incentivem a arte educação como instrumento de inclusão social. O graffiti, em sua origem, é transgressor e não pede licença, mas acreditamos que colocar grafiteiros da periferia como protagonistas é não apenas um questão de justiça, mas uma forma de gerar mais representatividade e empoderamento".