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Galeria Amparo 60 ocupa o Edifício Califórnia com arte

'Evoé' reúne os 35 artistas do casting, entre eles Paulo Bruscky, Bruno Faria e Gil Vicente

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 24/03/2017 às 19:15
Diego Nigro/JC Imagem
'Evoé' reúne os 35 artistas do casting, entre eles Paulo Bruscky, Bruno Faria e Gil Vicente - FOTO: Diego Nigro/JC Imagem
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No poema Ar-Recifes de Poesia de PYB (O Recife em Prova e Prosa), Paulo Bruscky evoca imagens de uma cidade boêmia, com seus bares e personagens que, em alguns casos, existem apenas na memória afetiva daqueles que os conheceram. A memória, afinal, é mais do que a capacidade de guardar datas e dados com precisão – ela passa, também, pelos afetos que articula. O edifício Califórnia, ícone do modernismo arquitetônico da capital pernambucana, é um desses espaços que unem História e histórias. Sobrevivente de um outro momento da cidade, o prédio passa por um movimento de reocupação, ressaltando o potencial de sua área de uso misto. Um ponto crucial nessa transformação é a abertura, neste sábado (25), do novo espaço da Galeria Amparo 60, que reúne seu casting na exposição Evoé.


Construído em 1956, pelo arquiteto Acácio Borsoi, o Califórnia foi o segundo edifício erguido na orla de Boa Viagem, após o Caiçara (demolido em meio a processo controverso), e tinha como um de seus princípios a concepção de uso misto, com residências nos apartamentos e comércio no térreo. As transformações vertiginosas do bairro, com seus arranha-céus revestidos de assépticas cerâmicas 10x10, fizeram com que, paulatinamente, o Califórnia caísse em uma espécie de ostracismo, mas, ainda assim, permanecesse pulsante graças aos seus moradores. Como no edifício Copan, em São Paulo, habitam o ícone recifense pessoas do mais diferentes perfis e classes sociais.

 

O arquiteto Diogo Viana, residente em Boa Viagem desde a infância, passou a observar com atenção a memória arquitetônica da região e lançou seus olhos para o Califórnia. Quando a área comercial da edificação vagou, movimentou-se para levar seu escritório para lá. Começou, então, a falar com colecionadores com a intenção de montar um espaço de arte lá. Foi então que, em uma conversa informal com Lúcia Santos, contou seus planos para o local e despertou o interesse da proprietária da Galeria Amparo 60, que já tinha uma relação afetiva com o prédio: sua mãe, a arquiteta Janete Costa, foi casada com Borsoi.


“Bateu uma curiosidade, uma intuição”, lembra Lúcia. “Não tinha, necessariamente, intenção de mudar de espaço. Então, foi uma demanda que surgiu a partir do local porque é um prédio que gera um certo fascínio e tem a cara da galeria. Vim com o sentimento de renovação, depois de 19 anos no Pina Foi a oportunidade que criou a atitude”, explica.


O espaço diminuiu (passou de 300m² para 170), mas a galeria agregou novos atributos: a vista para o mar, com iluminação natural, por exemplo. Mas, talvez o mais emblemático de todos seja a possibilidade de aproximação com o público. No antigo endereço, na avenida Domingos Ferreira, o acesso era quase exclusivo para quem ia de carro. Agora, a ideia é poder agregar também um novo público, dialogando com os outros empreendimentos do local, como o Café Borsoi e o estúdio de gravação Móbili.


“Sinto que as mudanças vão acontecer naturalmente, fortalecendo atividades como os cursos, que devem ganhar mais força. Para mim, a galeria sempre foi e vai continuar sendo um espaço comercial, mas também cultural. A visitação é gratuita e queremos estimular a vinda das pessoas, movimentar a cena”, reforça Lúcia.

CELEBRAÇÃO

 

Para marcar o novo momento da Amparo 60 e do Califórnia, Lúcia convidou o curador Douglas de Freitas e deu apenas uma diretriz: gostaria que obras dos 35 artistas que integram o casting da galeria estivessem presentes.
“Ao conhecer o lugar e a proposta, tive a ideia de chamar a exposição de Evoé, remetendo à origem mitológica e à festa de inauguração, porque se trata de uma comemoração. Todo o casting está presente, o que é inédito na galeria. Tenho pesquisado a arte pernambucana desde 2014 e entrei em contato com os artistas e garimpar as obras que dialogassem com esse momento. Não por acaso, o poema de Bruscky, está logo na entrada, porque ele sintetiza essa ideia”, reforça o curador Douglas de Freitas.


Na abertura, haverá ainda performance de Paulo Bruscky, intitulada Arteatro (Peça em 1 Ato), que utiliza uma ideia inicialmente concebida nos anos 1970, nunca realizada.

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