Na premiação anual dedicada a destacar as dez mais relevantes contribuições para as artes visuais brasileiras, a Associação Brasileira de Críticos de Arte escolheu a exposição Francisco Brennand – Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo, realizada pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, como a melhor do ano passado. Com curadoria de Emanoel Araújo, da Pinacoteca de São Paulo, a mostra reuniu 84 obras que mostram a abrangência da obra do pernambucano enraizado no bairro da Várzea, onde trabalha e dá concretude à sua visão particularmente mítica do mundo.
A exposição se propunha a dar conta da grandiosidade das narrativas visuais de Brennand: teve quatorze pinturas e desenhos, seis murais, quatro placas e nada menos que sessenta esculturas, incluindo o conjunto de 500 ovos cerâmicos. A exposição foi montada por meio de quatro eixos temáticos: “O teatro das representações mitológicas; o corpo em transmutação interior; os frutos da terra e as vítimas históricas”.
A mostra gaúcha respeitou a monumentalidade da obra brennandiana – ele, afinal, é um dos últimos grandes artistas remanescentes da tradição discursiva totalizante do século 20 no Brasil, não um adepto do fragmentário, mas um construtor de um grande universo narrativo.
LUZ
Ainda que marcado pela cor e luz regionais em contraposição à uma arte europeia – com o propósito deliberadamente adulto de construir uma arte sem decalques, de identidade própria – sua obra não se conforma com o fragmento do pensamento ou os limites da região. Não respira apenas no detalhe. Com as peças unidas num grande moto contínuo criador de sentidos, representa tão somente o mundo – palpável ou arquetípico.
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Uma obra que parte do grandioso para o detalhe. “Assim como Rodin fez com sua Porta do Inferno, um grande conceito a partir do qual ele vai trazendo depois elementos como O Pensador, a obra de Brennand parte de um conceito firme desse seu universo que depois vai sendo concretizado com elementos que se destacam”, comentou, à época, Emanoel Araújo. “Brennand tem uma obra complexa, grande, que se incorpora muito mais na arquitetura que na intimidade de uma casa, uma obra de um brutalismo, que não tem mesmo a intenção de ser discutida. Daí sua dificuldade, muitas vezes, de ser exposta fora de seu local de origem”, completou o curador, comentando a ousadia da montagem no Santander de Porto Alegre. “Não quis mostrar o Brennand mais complexo, do brutalismo muito forte, é uma exposição leve, para não assustar”, disse.
Há cerca de dois anos, Recife já não conta com um centro cultural mantido pelo banco. Com o encerramento das atividades no Marco Zero, o Santander passou a atuar em parceria com o Museu do Estado de Pernambuco, nas Graças.