X-Men talvez seja uma das franquias mais bem sucedidas dos quadrinhos a tratar de temas como discriminação, política, pertencimento e senso de coletividade. Suas adaptações para o cinema, apesar de acima da média, deixaram, no entanto, a impressão de que essas potências narrativas ficavam sempre na superfície. X-Men: Apocalipse, sexto filme da série, que estreia hoje, infelizmente não muda essa sensação.
Um dos vilões mais adorados dos comics, Apocalipse (Oscar Isaac), é uma criatura tão antiga que, acreditam, é o primeiro mutante da terra. Na cena inicial, ambientada no Egito Antigo, um pomposo cortejo acompanha o personagem e seus fiéis escudeiros, os Quatro Cavaleiros, em direção a uma pirâmide, onde ele se apropriará do corpo de um jovem com poderes regenerativos e, assim, atingirá a imortalidade. O plano, no entanto, é interrompido por uma conspiração de humanos que não aceitam o poder e os desmandos do “falso deus”.
Corta para 1983, cerca de dez anos depois dos acontecimentos do último filme da série. Após salvar o presidente dos EUA da fúria de Magneto (Michael Fassbender), Mística (Jennifer Lawrence) se transforma em uma espécie de ícone dos mutantes, uma heroína do novo período de integração com os humanos. Sozinha, ela renega o título e age de forma a libertar mutantes, como no caso de Noturno (Kodi Smit-McPhee), usado como atração de circo e, posteriormente, obrigado a participar de lutas ilegais contra outros mutantes. A cena em que a metamorfa liberta o rapaz é ótima e explicita bem alguns conflitos internos da mutante.
Enquanto isso, Apocalipse é trazido à vida por uma seita e se depara com um mundo tecnológico e aterrorizado por armas nucleares (o subtexto da Guerra Fria é abordado levemente). Disposto a fazer uma limpeza étnica no planeta, que ele acredita ter sido “corrompido”, o vilão começa a juntar novos Cavaleiros. Unem-se a ele a jovem Tempestade (Alexandra Shipp), Anjo (Ben Hardy), Psyloche (Olivia Munn) e Magneto, que volta a nutrir ódio pela humanidade após sofrer perdas irreparáveis. Aliás, os momentos do vilão controlador de metal e sua família, assim como sua volta ao campo de concentração de Auschwitz, são tocantes.
Novamente sob a batuta de Bryan Singer, responsável pelos dois primeiros filmes da primeira trilogia, assim como por Dias de Futuro Esquecido, o filme é repleto de referências aos HQs e ao desenho clássico dos anos 1990, mas essas homenagens acabam perdidas em meio à necessidade de avançar para as cenas repletas de efeitos especiais. Há, no entanto, uma espécie de nostalgia que deve conquistar os fãs, principalmente no que diz respeito aos figurinos e à personalidade de alguns personagens.
Assim, apesar do bom elenco, falta direção. O vilão, por exemplo, passa de um deus a um vingador sem muito sentido. Ele e seus discípulos representam um perigo iminente, mas não há tensão. Os efeitos visuais, claro, são de fazer qualquer fã babar e há momentos antológicos, principalmente a sensacional cena em que Mercúrio (Evan Peters, excelente) salva seus colegas ao som de Sweet Dreams (Are Made of This), do Eurythmics.
Longe de ser ruim, o filme peca por não abraçar seu potencial. O humor sagaz de Vingadores, por exemplo, faz falta aqui. As piadas não têm impacto. Exceto no caso do momento em que Jean, após assistir a O Retorno do Jedi, diz que o terceiro filme de toda franquia é ruim. Uma “matação” com o longa dirigido por Brett Ratner, em 2006, mas também, talvez sem querer, uma autocrítica, já que Apocalipse encerra o ciclo iniciado em Primeira Classe (2011).
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