Em sua turnê de divulgação do filme Mãe! pela América Latina, o diretor e roteirista Darren Aronofsky atendeu a imprensa brasileira numa sala de cinema do Shopping Eldorado, na capital paulista, nesta terça-feira (19). Foram 50 minutos destinados a desvendar os mistérios de uma criação que, desde o Festival de Veneza deste ano, onde estreou, vem deixando os críticos coçando a cabeça – aquele gesto típico de quem não tem muita certeza do que acabou de ver.
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“O que era aquele líquido amarelo que a personagem de Jennifer Lawrence tomava toda vez que estava prestes a explodir?”, perguntou um dos repórteres, tentando matar a curiosidade de todos que ali estavam: “Esta é a única coisa sobre o filme que não vou responder. Vou levar para o túmulo”, garantiu o diretor que, para outros esclarecimentos, mostrou-se muito bem-disposto.
Talvez pelo seu notório engajamento com as causas ambientais, muitos têm considerado a fábula criada por Aronofsky como um libelo sobre o desequilíbrio exponencial infligido sobre o planeta que habitamos, traduzido pela dificuldade que é manter a casa em ordem quando nos deparamos com hóspedes que desconhecem seus limites. Não falta também quem associe a representação feminina da Terra à personagem de Lawrence, como uma forma de pontuar a maneira invasiva e predatória com a qual as mulheres vêm sendo (des)tratadas ao longo dos séculos.
Não são raras, tampouco, as associações do seu trabalho com elementos ligados a religiões. Em Pi, por exemplo, chegou-se a comentar a equação matemática como uma tentativa de decodificar a cabala, sistema filosófico-religioso de origem judaica que busca entender o ritmo cósmico como expressão divina. Em Mãe! Aronofsky atribuiu ao papel desempenhado por Michelle Pfeiffer as características de Eva, levando dúvidas e despertando o desejo pelo fruto proibido do conhecimento ao que, até então, era um paraíso de resignação.
AGILIDADE
O roteiro de Mãe! foi escrito por ele em apenas cinco dias. A partir do esboço inicial, começaram os trabalhos de aprimoramento, o que lhe confere uma qualidade onírica, um ritmo associado àquele tipo de sonho do qual a gente não lembra muito bem no dia seguinte e tenta reconstituir a todo custo.
Orçada em US$ 30 milhões, não pode ser considerada uma obra cara, se comparada com Noé, que custou aos estúdios US$ 125 milhões. “Mas isso termina não importando muito. Quem investe quer ter o seu dinheiro de volta e um diretor quer sempre ver seu filme sendo amado pelo público”, garante o diretor. “Trata-se de um filme muito difícil de ser categorizado em gênero. Se os atores recrutados não fossem tão famosos talvez fosse ainda mais difícil de vendê-lo”. Vale dizer que, apesar de muito mais barato, tem mais efeitos especiais que Noé.
Embora venha se empenhando em fazer filmes que tragam sua assinatura, e que tratem insistentemente sobre quedas e soerguimentos, Darren Aronofsky admite que, em Mãe!, saiu de corpo inteiro de sua zona de conforto e, por isso mesmo, acha natural, e até esperada, a perplexidade que vem causando. “É natural que quando você desfere um soco espere outro soco como resposta. Mas eu precisava, neste momento, ir a este lugar de agressão. A única interpretação que não admito é dizerem que o filme pratica a violência pela violência, porque jamais faria isso. Sexualidade e violência são temas que devem ser tratados sempre com muito respeito. Se há qualquer mensagem neste filme, ela é de esperança, uma vez que após a tragédia sempre chega a luz”, declara.
*A jornalista viajou a convite da Paramount Pictures