Três atores do próximo longa de Woody Allen, A Rainy Day in New York, ainda sem data de estreia, resolveram doar todo seu cachê à Time's Up, iniciativa que combate o assédio sexual contra mulheres. O primeiro a anunciar a doação integral foi Griffin Newman, seguido por Rebecca Hall, que já havia trabalhado com o diretor em Vicky Cristina Barcelona. Agora, foi a vez de Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome, Lady Bird), um dos novos nomes mais fortes em Hollywood, de se posicionar sobre o assunto.
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Leia os recentes depoimentos de Timothée e Rebecca:
“Esse ano mudou a maneira com a qual eu vejo e sinto tantas coisas; tem sido emocionante, e em alguns momentos, educacionalmente esclarecedor. Eu tenho, até o momento, escolhido projetos sob a perspectiva de um jovem ator tentando andar nos passos de atores mais experientes e que eu admiro. Mas eu estou aprendendo que um bom papel não é o único critério para aceitar um trabalho – isso tem se tornado mais claro para mim nos últimos meses, tendo testemunhado o nascimento de um movimento poderoso visando acabar com a injustiça, desigualdade e sobretudo, o silêncio.
Eu tenho sido questionado, em algumas entrevistas recentes, sobre minha decisão de ter participado de um filme do Woody Allen no último verão. Eu não posso responder diretamente essa pergunta por obrigações contratuais. Mas o que eu posso dizer é: eu não quero lucrar pelo meu trabalho no filme, e por esta razão, eu vou doar todo o meu cachê para três caridades: Time’s Up, o Centro LGBT em Nova Iorque, e Rainn. Eu quero ser digno de ficar ombro a ombro com os corajosos artistas que estão lutando para que todas as pessoas sejam tratadas com o respeito e dignidade que elas merecem.”
"No dia seguinte que as acusações contra Weinstein vieram à tona, eu estava trabalhando no mais recente filme de Woody Allen em Nova York. Eu não poderia ter imaginado um lugar mais estranho para estar naquele dia. Quando fui convidada para o filme, há cerca de sete meses, eu rapidamente disse que sim. Ele me deu um dos meus primeiros papéis significativos em filmes e eu sempre serei grata, além do que gravar em Nova York era estar na minha cidade natal - fácil. Tenho, porém, percebeido que não há nada fácil sobre essa situação. Nas semanas seguintes, pensei muito sobre essa decisão, e continuo em conflito e entristecida.
Depois de ler e reler as declarações de Dylan Farrow de alguns dias atrás e voltar e ler as mais antigas - eu vejo não só o quão complicado é esse assunto, mas que minhas ações fizeram com que outra mulher se sentisse silenciada e ignorada. Isso não é algo que pareça certo para mim nem no momento atual, nem em qualquer momento e estou profundamente arrependida. Lamento ter tomado a decisão de aceitar e não teria feito o mesmo hoje.
É um pequeno gesto e não chega perto de ser uma compensação, mas eu doei meu salário para o Time's Up. Eu também me inscrevi, continuarei a doar e espero trabalhar junto fazendo parte desse movimento positivo para mudar não apenas Hollywood, mas todos os lugares."
O filme
A Rainy Day in New York ainda é um título provisório do filme, cuja filmagem terminou quando o escândalo de Harvey Weinstein explodiu. A trama aborda o envolvimento e a relação sexual entre um ator de meia-idade, que será vivido pelo britânico Jude Law, com uma modelo de 15 anos, que será interpretada por Elle Fanning - na vida real, a atriz tem 19 anos.
Há ainda uma cena entre os dois personagens em que a modelo interpretada por Fanning diz que tem 21 anos e, em uma discussão sobre a infidelidade dele, pergunta: "Essas mulheres estavam em busca do prazer, ou você estava completando um projeto?". O longa, que está no estágio de pós-produção, traz também no elenco Selena Gomez (Vizinhos 2), Liev Schreiber (Spotlight: Segredos Revelados) e Diego Luna (Rogue One: Uma História Star Wars).
Histórico
Allen já se envolveu em escândalos em sua vida pessoal. Ele se casou com Soon Yi, filha adotiva de sua ex-mulher Mia Farrow, que acusou o ex-marido de ter abusado sexualmente de outra filha adotiva, desta vez quando eram casados.
A menina, Dylan Farrow, divulgou, em 2014, uma carta aberta no jornal "The New York Times" em que diz que foi abusada sexualmente quando tinha sete anos por Allen. Na época, o produtor Harvey Weinstein, que recentemente foi acusado de uma série de abusos entre atrizes de Hollywood, foi um dos responsáveis por o diretor a retomar a carreira, que segue intacta e cheia de prêmios até os dias atuais.
"Dylan, eu acredito em você"
Enquanto isso, algumas das mulheres mais poderosas de Hollywood, têm afirmado acreditar na filha adotiva do diretor. Liderando uma mesa redonda promovida pelo canal CBS, Oprah Winfrey, que fez um discurso arrebatador contra o assédio no Globo de Ouro, perguntou às atrizes presentes se o tempo de Woody Allen havia, enfim, terminado.
Natalie Portman foi a primeira a se pronunciar e afirmar: "Eu acredito em você, Dylan". As outras atrizes - entre elas Reese Witherspoon, Shonda Rhimes, Nina Shaw, America Ferrera e Tracey Ellis Ross - concordaram em uníssono.
.@Oprah asked Natalie Portman, Reese Witherspoon and more powerful women to weigh in on Woody Allen. Everyone believes Dylan Farrow: https://t.co/LaejmeKzh5 pic.twitter.com/uiime7huLg
— IndieWire (@IndieWire) 15 de janeiro de 2018
I’m with Natalie. I believe you, Dylan.
— Reese Witherspoon (@RWitherspoon) 15 de janeiro de 2018