Novela Velho Chico se despede cheia de referências a Domingos Montagner

Velho Chico, enfim, acaba de encerrar sua trajetória na Rede Globo. Como uma via-crúcis, acompanhar o desfecho da novela de Bruno Luperi e Benedito Ruy Barbosa nessas últimas semanas foi doloroso, tanto para os telespectadores, como principalmente para elenco e equipe da trama, devido à morte na vida real de Domingos Montagner, que deu vida ao protagonista Santo.

O primeiro bloco do capítulo final circulou mais no aspecto político da novela. O derradeiro surto de Carlos Eduardo (Marcelo Serrado) ao ver o cerco se fechar deu início a uma caçada pelas águas do Velho Chico, com direito a uma divertida sequência do vilão, tentando escapar montando num jegue, beirando à loucura no sertão. A dupla de personagens Queiroz (Batoré) e Raimundo (Saulo Laranjeira) lembrou os tempos de A Praça é Nossa tamanha sintonia com o desfecho vergonhoso das autoridades que foram presas sob protestos do povo de Grotas do São Francisco, liderado pela futura prefeita Beatriz (Dira Paes).

Bento (Irandhir Santos), um dos personagens mais coerentes de toda a trama, impressionou ao declamar um poema durante a morte do falso coronel saruê, num dramático devaneio entre dinheiro, sede, areia e sangue no início do segundo bloco: "A tua prisão é o infinito do sertão". Também acompanhamos o enterro simbólico do "saruê" de Afrânio (Antonio Fagundes), se entregando à justiça sobre todas as falcatruas que se envolveu. A entrega de bastão entre Afrânio e Miguel (Gabriel Leone) através de um galo também foi simbólica, por relembrar a primeira fase com Tarcísio Meira.

Afrânio e Iolanda (Christiane Torloni) se acertam e conversam sobre a morte de Martim (Lee Taylor), que surge num lindo delírio do ex-saruê ao som de Monte Castelo, do Renato Russo, se acertando poeticamente, como um encontro de outras vidas. A bonita carreira da Luminosa Dalva (Mariene de Castro) encantou a todos com sua linda voz no sertão ao lado de seu amor Cícero (Marcos Palmeira).

Luzia (Lucy Alves) deixa Grotas com sua sanfona, mas teve forças para recomeçar a sua vida sem Santo. A competente atuação da atriz-cantora foi outro bonito ganho que Velho Chico nos propiciou no horário das nove. A cena da regeneração da personagem ao ver um bebê abandonado foi tocante, que encerrou seu ciclo à altura de seu trabalho.

O CASAMENTO DE SANTO E TEREZA

O momento mais aguardado do desfecho era o enlace final de Santo e Tereza. A cena e o texto dos personagens funcionaram como que uma grande metáfora sobre toda a trajetória do casal, com muitas indiretas carregadas à câmera afetiva que representava a presença/ausência de Santo.

Para não sobrecarregar os telespectadores na emoção, a ausência física de Santo no casamento com o nascimento dos filhos de Olívia e Miguel. O sermão do Padre Benício era um claro discurso de despedida. E as lágrimas dos santos que tornaram uma poética chuva dentro da igreja concluiu a bonita homenagem à presença espiritual do personagem.

No último bloco, uma bonita confraternização dos personagens e uma exaltação ao Rio São Francisco. A canção Francisco, Francisco entoado por Maria Bethânia e recuperação das imagens de Santo em meio às míticas águas que o levaram na vida real arrepiou os espectadores até o último instante, encerrando a sua (dramática) trajetória com emoções à flor da pele.