Certos programas são tradicionais nas grades de fim de ano das emissoras. Um dos principais da Globo, a 'Retrospectiva 2016', vai ao ar no dia 30, após a novela A Lei do Amor, com apresentação de Glória Maria e Sergio Chapelin. Serão cerca de 80 minutos editados com a difícil função de repassar a história escrita no Brasil e no mundo ao longo do ano que se encerra no final deste mês.
"Temos compromisso com a informação em todas as áreas. Não escolhemos alguns fatos e excluímos outros. Preparamos um programa que retrata o ano em suas melhores imagens", adianta Silvia Sayão, editora-chefe do 'Globo Repórter' e responsável também pelo especial.
A intenção é preparar um vasto resumo de todas as imagens e notícias que passaram pela tela da emissora entre janeiro e dezembro. Entre elas, acontecimentos históricos que vão do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff às prisões de políticos influentes como o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha, o ex-ministro Antônio Palocci e os ex-governadores do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e Anthony Garotinho.
Leia Também
Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, os escândalos da Lava Jato, ataques terroristas e a morte prematura por afogamento do ator Domingos Montagner também estão entre os fatos que serão lembrados.
Para isso, a equipe passou quatro dias gravando em duas cidades. No Rio de Janeiro, a locação escolhida foi o Boulevard Olímpico, no centro da cidade. Já em Brasília, a Praça dos Três Poderes, o Congresso e o Palácio do Planalto serviram como cenários.
"Escolhemos lugares que marcaram o ano pelos acontecimentos políticos e pelas Olimpíadas do Rio", explica Silvia, que garante total imparcialidade no texto referente às manchetes políticas que lotaram os telejornais ao longo dos últimos 12 meses.
"Isenção e imparcialidade são requisitos básicos para a narrativa jornalística e não poderia ser diferente na Globo. Mas a 'Retrospectiva' não faz análises, usa uma linguagem emocional e televisiva para lembrar o que vivemos no ano - valorizando as melhores e mais significativas cenas e momentos inesquecíveis", defende.
Na entrevista a seguir, os apresentadores falam sobre os fatos que mais marcaram 2016, tanto bons quanto ruins, e explicam o que esperam do próximo ano.
ENTREVISTA
Qual é a principal função de uma retrospectiva, principalmente diante de um ano tão complicado como 2016?
GLÓRIA MARIA - A retrospectiva, muito mais do que relembrar os fatos, é um momento de reflexão. É fundamental para fazer a gente pensar, rememorar e, principalmente, rever conceitos. É a hora de olharmos para nós mesmos e tentarmos aprender.
De todos os assuntos tratados, quais são os mais difíceis de lidar neste ano?
GLÓRIA MARIA - São os ligados às perdas de amigos e também aos conflitos mundiais. O problema dos imigrantes é algo que toca profundamente a nossa alma. É difícil falar deles sem individualizar. Você se lembra de cada família, pessoa ou criança que perde seus parentes, seu país, suas referências e conquistas. Nos colocamos no lugar de cada um deles. E assuntos ligados à intolerância me fazem relembrar coisas que marcam nossa alma, como injustiças e desigualdades. Acho que esse ano incomoda demais ter de recordar a que ponto nosso país foi levado pela cara de pau de tanta gente. Isso é o mais complicado, gera dor e revolta.
SERGIO CHAPELIN - No ano de 2016, o assunto mais difícil de relembrar é, sem dúvida, o desastre com o avião que transportava a equipe da Chapecoense, os jornalistas e a tripulação, que matou tanta gente jovem. E a situação política, econômica e social do nosso país. Destituição da presidente da República, cassação do Presidente da Câmara, prisões de pessoas notórias da política, do mundo empresarial, em todos os níveis. Um caos econômico, com muito desemprego.
Diante de tantas memórias ruins de 2016, quais vocês destacam que também entrarão na retrospectiva e precisam ser comemoradas?
GLÓRIA MARIA - Em 2016, a coisa mais bonita - e, talvez, a única - que temos para comemorar foi a realização das Olimpíadas aqui. Tivemos uma festa brasileira, muito mais do que simplesmente carioca. Isso resgatou nossa autoestima e deixou um legado para o Rio de Janeiro, com obras muito boas e que funcionam até hoje. Não vamos esquecer aquele mês de agosto nunca mais.
SERGIO CHAPELIN - E a seleção brasileira de futebol, que voltou a jogar um bolão!
Em uma análise rápida a respeito de 2016, é possível cultivar uma expectativa mais otimista a respeito de 2017? Com base no que aconteceu neste ano, o que podemos esperar do próximo?
GLÓRIA MARIA - Acho que é muito difícil termos um ano mais duro do que 2016 não só para os brasileiros, mas para o mundo de maneira geral. Foram 12 meses que definitivamente não deixarão saudade. Um período triste, marcado por tragédias, violência e corrupção e, de verdade, por pior que seja 2017, tem de ser melhor. Não tem como piorar. O mundo nos mostrou uma "cara" que ninguém queria ver, 2016 já vai tarde. Em 2017, ainda teremos um pouco desse perfil diante de nós, mas já aprendemos a lidar com coisas tão feias e inimagináveis até então. Por isso digo que foi um ano de resgate, em que vimos que a justiça, de alguma maneira, funciona. Que venha rapidinho esse 2017!
SERGIO CHAPELIN - A grande esperança fica por conta do povo atento e ligado através das redes sociais, cobrando, fiscalizando a atuação dos três poderes da República e, com isso, exigindo comportamento respeitoso e consequente. O brasileiro está cansado dos desmandos de seus dirigentes e agora adquiriu uma voz para se manifestar. A esperança maior é de que o nosso voto passe a ter algum valor.