Aos 50 anos, Jeison Wallace se despe de Cinderela

Completando cinco décadas de vida, ator e criador da eterna personagem fala da sua realização profissional e vida pessoal

Fotos: Ricardo Labastier/JC Imagem
Completando cinco décadas de vida, ator e criador da eterna personagem fala da sua realização profissional e vida pessoal - FOTO: Fotos: Ricardo Labastier/JC Imagem

Era uma corrida tarde de sexta-feira no Estúdio B da TV Jornal, no Sistema Jornal do Commercio, centro do Recife. Planejamento do dia: a gravação de cinco programas do Papeiro da Cinderela, sucesso de audiência nas tardes da afiliada pernambucana do SBT. A estrela local, que já teve alcance nacional, sustenta o nome artístico no título da atração, mas é por trás dessa entidade de vestido colorido, avental, óculos e chuquinhas altas nos cabelos que está o criador de uma das personagens mais queridas e longevas do humor pernambucano. Afinal, o que seria a criatura Cinderela se não fosse o consagrado ator Jeison Wallace?

A matemática do sucesso corrobora tudo: são 50 anos de idade completados nesta terça-feira (31). Junto a ele, Jeison carrega consigo 34 anos de carreira. 25 deles encarnando Cinderela, nascida nas sessões da meia-noite do tradicional Teatro Valdemar de Oliveira como protagonista de Cinderela – A História Que Sua Mãe Não Contou, uma peça escrita por Henrique Celibi. E há 25 anos a empregada, que tem o bordão “ôxe mainha” como sua marca registrada, invadiu as telinhas da mesma TV Jornal com sua trupe para cobrir o Carnaval pernambucano de uma forma singular e, acima de tudo, popular.

Enquanto se ouvia dezenas de “gravando” para a Cinderela naquele estúdio, a cada “corta” o Jeison Wallace vinha à tona. Às vezes mais, quando se cobrava atenção e perfeccionismo. Às vezes menos, quando se divertia com o elenco e a equipe presente no set, sempre com uma piada, um comentário ou uma paródia na manga. Entre uma gravação e outra, o ator desabafou: “Ainda estou emocionado com ontem. A homenagem que fizeram para mim foi uma coisa incrível, demorei para dormir, mas estou muito feliz”, disse ele, se referindo a um momento especial com os colegas de emissora no antigo auditório da TV Jornal, local sagrado para Jeison, pois ali foi o começo da carreira de Cindy na telinha.

Gravações concluídas às 16h50, o ator segue para seu cantinho especial: o escritório da Ôxe Mainha Produções, o lar do Jeison Wallace ator, diretor e dono de seus próprios passos artísticos. E antes de adentrar no espaço, uma parada na Rua Travessa do Ferreira, para fazer fotos, caras e bocas para a reportagem e dançar uma cumbia com os moradores, que já são mais que amigos. “Não resisto, adoro essas músicas”, disse Jeison, ainda com as vestes de Cinderela, e arrancando risos dos vizinhos.

Enquanto Cindy se desmonta, tirando a maquiagem e a caracterização em seu camarim pessoal, um Jeison Wallace que poucos tem o privilégio de conhecer se revela. “Minha carreira artística começou aos 16 anos, quando fiz o Curso de Iniciação ao Teatro no Senac do Centro de Cultura e Arte da Funeso, com Antônio Carlos Gomes do Espírito Santo, o Carlão”, relata o ator, nascido no bairro de Afogados como Jeison Mendes da Silva Ribeiro, no Recife, e criado “numa casa que não tinha frente, onde saía e entrava por trás”, como fez questão de descrever.

REALIZAÇÃO

Após esta única formação com Carlão em Olinda, onde também descobriu sua veia cômica, Cinderela nasceu nos palcos do teatro e em shows com a Banda Pão Com Ovo, que lhe levou ao rádio e a televisão. O sucesso em Pernambuco por um período foi pouco, e por quase um ano e meio, Cindy apareceu para todo o Brasil aos domingos ao lado da apresentadora Eliana. “Achei que iam mexer na minha personagem, por causa do sotaque e os regionalismos. Mas pelo contrário, pediram para que eu fosse ‘a Cinderela do Recife’, me dando carta branca, assim como fazem aqui na TV Jornal. Foi uma experiência incrível”, relembrou.

A personagem que move boa parte da trajetória de Jeison Wallace trouxe muitos ganhos profissionais, e também interfere na sua vida pessoal. “Me sinto muito realizado por poder ajudar minha mãe e minha família”, afirma o ator, fã incondicional de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia.

Longe dos holofotes, Jeison se considera introvertido. Completamente o oposto do personagem que lhe deu a fama. O apelo popular de Cinderela é a sua maior alegria. “Ela é querida por todos os públicos, de todas as camadas sociais. Nas comunidades, entro sem segurança, porque sei que sou bem aceito e muito amado”, afirmou.

A correria de manter um programa diário o afasta dos palcos, fazendo com que Jeison se apresente por curtas temporadas nos últimos anos, sempre com sessões lotadas. O ator afirma que até a vida social é escassa, mas não reclama, apenas agradece. “Para mim, o importante é fazer as coisas que eu amo”, declarou.

Nestas cinco décadas de vida bem completadas, o ator tem planos para o futuro: “Vou voltar ao teatro em breve ao lado de um grande nome nacional, também estou preparando um repertório para um disco de inéditas da Cinderela, que as pessoas me cobram muito, além de muitas novidades para o Papeiro”, prometeu Jeison Wallace, que revelou os anseios para os próximos 50 anos: “O meu desejo é que Deus me dê saúde, que Ele possa iluminar a minha cabeça para ter ideias e me reinventar, e principalmente, me dê paz”.

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