O escritor Sidney Rocha acredita que um escritor não nasce pronto e nem se cria por acaso. A palavra exata para ele é “forjar”. “Não há segredos nem milagres. Há trabalho. ‘Forjar’ é mesmo a palavra no sentido de que muito da literatura é metal, que tem de ser moldado com fogo, da inspiração ou do esforço, mas de todo modo fogo, a alquimia do sangue, do suor, das lágrimas, e dos risos, também”, explica.
O autor de obras como O Destino das Metáforas, Guerra de Ninguém e Fernanflor se prepara para retomar o seu curso de escrita criativa na próxima semana. De junho a agosto, com encontros duas vezes na semana, a ideia é mergulhar na leitura – e, portanto, na escrita e na própria literatura. Tanto que Sidney prefere usar o termo “escrita criativa”, e não “oficina literária”.
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“As diferenças não são apenas marcadas na extensão e na profundidade, e sim quanto à própria forma. A ‘oficina’ é apenas uma parte, a de interatividade, de troca de experiências, um workshop, que é o seu sinônimo preciso. O curso inclui oficinas, obviamente, mas é muito mais do que elas, por oferecer diversos outros métodos e técnicas, e das mais variadas áreas do conhecimento. Também é longo e profundo o curso”, define. “Trata-se de algo mais complexo que um ensinamento. É o saber de experiência feito, de que falava Camões. De quem faz, na prática, e com diversos livros publicados que exemplificam isto – a criação literária. Tem, portanto, a capacidade de estimular no aluno que este identifique e desenvolva a sua própria criatividade na escrita em geral, e na literatura em particular.”
As inscrições podem ser feitas pelo e-mail escritacriativasidneyrocha@gmail.com – e há muitas informações sobre o método no site srescritacriativa.wixsite.com/srescritacriativa/. As primeiras turmas começam no dia 13 de junho, e os módulos posteriores começam no dia 27 de julho. As aulas acontecem no Espaço Jump, em Santo Amaro.
O primeiro módulo, sobre estruturas narrativas, aborda temas como a cultura narrativas de romances, contos, textos teatrais e poesia e a narrativa no Velho Testamento, na literatura védica, em Homero e em Aristóteles. Ainda se debruça sobre o formalismo russo e livros como A Metamorfose, de Kafka, A Morte de Ivan Ilitch, de Tolstói, O Túnel, de Ernesto Sábato, e Michael Kohlhaas, de Kleist. Os demais módulos abordam os personagens – com obras de Maupassant, Oscar Wilde, Flaubert, Robert Louis Stevenson, Machado de Assis e Mary Shelley –, as cenas – que passa, entre outros por Ariano Suassuna, Alice Munro, Tarantino e Eduardo Coutinho – e, por fim, os diálogos, com Flaubert, Shakespeare, Lewis Carroll e Samuel Beckett.
Para Sidney, se trata mais do que simplesmente “ensinar” a escrita: é mais forjar a descoberta do texto literário entre os interessados. “Todas as pessoas têm a capacidade de criar, mas a maioria delas não descobriu ainda como fazê-lo. O curso ensina essa autodescoberta. Mas uma resposta ainda mais objetiva à pergunta deve levar em conta que é possível ensinar uma escrita criativa lendo e escrevendo, relendo e reescrevendo, mostrando exemplos, e tirando os sete ou mais véus da escrita. Se amar só se aprende amando, escrever só se aprende escrevendo, criticando, e tendo em vista algo que é fundamental nisso: a estética”, defende o escritor.
LEITURA
Sidney ainda lembra que todos os grandes escritores são, também, grandes leitores. “E os pequenos escritores também têm a obrigação de ser grandes leitores”, brinca. Além disso, acha que se aprofundar na leitura é essencial mesmo para quem não busca trabalhar com literatura. “Um leitor é um ser humano por inteiro. Um não leitor é um ser humano pela metade, incompleto, com profundas deficiências na alma”, avalia.
Ao mesmo tempo, ao ministrar as aulas, Sidney vai trocando experiências e encontrando mais pessoas para diálogos. É algo “importantíssimo” para a sua escrita, ele garante. “Um privilégio lidar com leitores que são mais do que leitores, são apaixonados pela criação literária. Um escritor estar diante de leitores assim é uma experiência sem igual, e uma oportunidade magnífica de revisitar algumas das obras-primas do conhecimento humano”, aponta.
Esse contato, na verdade, ajuda o escritor a escapar da armadilha da solidão da criação. Sidney valoriza esses encontros. “Costuma-se dizer que a literatura é um ato solitário, e é verdade. O curso faz da literatura um ato solidário e de grande comunhão coletiva”, opina. Além disso, garante que também vai aprendendo no processo, “a cada diálogo”. “Onde todos são autores e todos são personagens”, define.