Profissionalmente, o que você fez nos últimos 400 dias? Será uma sequência de trabalhos bem executados ou você vem se dando conta que ali não tem sido o seu lugar? O jornalista porto-alegrense Adriano Silva resolveu relatar em Treze Meses Dentro da TV – Uma Aventura Corporativa Exemplar (Editora Rocco, 2017) uma experiência pessoal que tinha tudo para ser bem sucedida, mas se tornou uma tremenda enrascada.
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Adriano foi convidado, no início de 2006, para chefiar a redação de um dos principais programas da TV Globo: o Fantástico. E o que poderia ser o emprego dos sonhos para qualquer jornalista que tenha ambição com televisão se tornou uma via-crúcis – de certa forma, interessante – que se torna essencial vir à tona.
Conhecido pela trilogia de livros O Executivo Sincero, Adriano revela nesta obra bastidores pouco explorados do próprio jornalismo, levando o leitor a conhecer – sob seu prisma e sem o glamour do que seria uma matéria do Vídeo Show, por exemplo – como é produzir uma das revistas eletrônicas mais tradicionais da televisão brasileira, no ar há 44 anos.
Nas 256 páginas do livro, somos levados pela mão na narrativa do jornalista. No primeiro momento, conhecemos sua frustração profissional ainda quando era diretor de Redação da Editora Abril. Onde sua alta posição na empresa o levou mais “para perto das finanças e para longe das funções editoriais”, escreveu.
Em seguida, falou do deslumbramento que sentiu ao trabalhar na emissora carioca e logo naquela revista eletrônica. “Meu sentimento era mais ou menos esse: ‘Agora faço parte da TV Globo. Sou chefe da Redação do Fantástico. Vou morar no Rio. Minha carreira está completa. Minha vida está ganha. Eu cheguei lá’”, descreve.
Como em toda e qualquer empresa, Adriano conta que tentou se adaptar ao ritmo de produção da emissora. Mas a ânsia de mostrar serviço e, claro, resultados, levou a uma queda de braço, sem querer, entre ele e o resto da equipe. A pressão de ter sido convidado a estar no cargo e não ter vindo de dentro do canal, além ser oriundo de um veículo impresso (revista), também foram alguns dos entraves.
Em 17 capítulos, o jornalista busca também trazer um pouco de memória da TV Globo para a obra. Em alguns momentos, saímos da fria redação do Fantástico para relembrar momentos históricos da emissora carioca. Adriano faz questão de ressaltar sua admiração pelo canal e o quanto ela contribuiu para a história da televisão brasileira como um todo.
Para quem quer começar a se habituar pelo universo do telejornalismo, o porto-alegrense faz questão de esclarecer jargões da profissão e dar boas noções de marketing comercial, com destaque para o ótimo Como funciona o mercado publicitário brasileiro, um dos anexos do final da obra.
ABERTURA DA CAIXA-PRETA
Talvez por fazer questão de dizer que este livro é a sua “caixa-preta”, a narrativa de Adriano Silva é bastante verossímil ao universo jornalístico dos dias atuais. Ele coloca holofotes onde todos os veículos fazem questão de esconder e que, segundo ele, deveria ser mais exposto. “O jornalismo brasileiro gera poucos registros de si mesmo. O que acontece em nosso quintal dificilmente chega ao conhecimento do público. A memória das redações ainda é grandemente oral no Brasil”, lamenta no livro.
O final dos 400 dias de Adriano Silva à frente do Fantástico culmina com uma demissão há poucos dias do seu aniversário. Mas os aprendizados que ele teve – para o bem e para o mal – desta experiência o levou a entregar uma obra válida para todo aquele que quer entender não só como funciona uma grande empresa de comunicação, mas que fracassos profissionais acontecem, mesmo nos lugares mais desejados, e isso pode ser uma oportunidade para reavaliar atitudes e prevenir-se de outras possíveis frustrações.