HOMENAGEM

Escritores prestam homenagem a Marcus Accioly

Confira os depoimentos de Mário Hélio, Lourival Holanda e Saulo Neiva

Marcelo Pereira
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Marcelo Pereira
Publicado em 23/10/2017 às 12:45
Foto: Michele Souza/ Acervo JC Imagem
Confira os depoimentos de Mário Hélio, Lourival Holanda e Saulo Neiva - FOTO: Foto: Michele Souza/ Acervo JC Imagem
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O poeta pernambucano Marcus Accioly faleceu no último sábado em sua casa de Itamaracá, aos 74 anos, de um infarto fulminante. Integrante da Geração de 65, ele marcou a literatura brasileira e foi referência para muitos autores locais. Confira depoimentos de Maria Hélio, Lourival Holanda e Saulo Neiva.

DEPOIMENTOS

“O que é a poesia? Marcus Accioly. Não seria nenhum exagero ler um verbete assim num dicionário de termos literários, tal o amor e a paixão que ele dedicou à poesia. Não foi por acaso que entre os autores de sua maior admiração estivessem Castro Alves e João Cabral de Melo Neto, porque se irmanava em intensidade. Nenhum poeta brasileiro escreveu tantos versos e com mais ambição. Poucos são os autores que produziram textos de real mérito nos três gêneros – o épico, o dramático e o lírico: Latinomérica, Ixion e Érato são exemplos poderosos de sua obra, uma obra tão longa, que deixa dezenas de inéditos",  Mário Hélio, jornalista e poeta, doutor em Antropologia pela Universidade de Salamanca, Espanha.


“Vejo três pontos – cardeais – sobre Marcus Accioly:
1. A renovação da musicalidade do verso popular. Desde Nordestinados um ritmo mais sinuoso ao curso da tradição – com versos de fina elaboração de poeta que madurou sua técnica.
2. Ele alargou o sentido do regional: identidade regional é hoje uma questão delicada; somos uma pluralidade de possibilidades. Marcus é um nome plural: o secretário de cultura, o universitário, o acadêmico – mas é, sobretudo, a poesia o coração de sua obra.
3. Não há que subestimar o registro fescenino de sua poesia, sussurrados entre gemidos e gozos – porque aqui não é apenas o tom o que se levanta. Um poeta mais vale por sua independência de registros. Do que está no misterioso subsolo psíquico da cultura – aquilo a que tocamos com a ponta dos dedos em desejo e ternura encarnada", Lourival Holanda, professor de Letras da UFPE e diretor da Editora Universitária da UFPE


“Conversei com Accioly pela última vez há uns quinze dias, por telefone. Apesar dos vários projetos de livros e eventos, ele se sentia desgostoso com o país desmemoriado em que vivia e com o mundo editorial. Mas sem nunca perder o admirável vigor, o permanente bom humor e o gosto pela vida. Uma vivacidade que sempre o caracterizou e que se traduz na sua obra, em que à plasticidade da língua e da forma se aliam um impressionante manejo rítmico, uma espantosa erudição e uma imensa variedade temática. Quer seja em Cancioneiro e Nordestinados, em que as leituras de Virgílio e Cabral se unem para uma representação do destino humano, a partir de uma tematizção regional; quer seja nos longos (longuíssimos?) poemas posteriores (Sísifo, Íxion, Narciso, Latinomérica), em que Accioly casa narração e experimentação gráfica, pondo sua poética a serviço de uma verve ora lírica, ora, épica, ora satricamente grave. Perdi um amigo generoso e inteiro, de agradáveis conversas. A literatura perde um imenso poeta, que vivia a poesia como quem vive muitas vidas",  Saulo Neiva, professor de Literatura Portuguesa e Brasileira na Universidade Blaise Pascal, em Clermont Ferrand, França

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